MotoGP – Assen 2019 & Rorschach

terça-feira, 2 de julho de 2019 às 13:40

Maverick Vinales

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

O teste de Rorschach, conhecido como “teste do borrão de tinta”, é um exame projetivo de avaliação psicológica, desenvolvido pelo psiquiatra e psicanalista suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em interpretar desenhos com manchas simétricas como método de determinar a auto expressão. De uma forma simplificada, os sentimentos podem ser avaliados pela maneira como as pessoas interpretam fatos muito semelhantes, cada qual vê o que for mais conveniente para alinhar com suas próprias ideias.

Na prova de Jerez, na temporada de 2018, uma manobra infeliz de Dani Pedrosa tirou da prova as duas Ducati que disputavam com ele a segunda colocação, evento que facilitou a vitória de Marc Márquez. Parte da mídia apontou o erro de Pedrosa, uns poucos identificaram talvez uma desatenção de Lorenzo (na época com uma Ducati), mas absolutamente ninguém sequer cogitou que pudesse ter sido uma manobra da Honda para favorecer seu piloto principal. Na segunda volta da prova da Catalunha deste ano um erro de cálculo de Jorge Lorenzo causou uma colisão que alijou da prova, além de sua moto, as duas Yamaha da equipe oficial e a Ducati de Dovizioso. A imprensa foi implacável em responsabilizar o cinco vezes campeão do mundo, sugerindo inclusive pesadas penalizações para o piloto. Os comissários analisaram o incidente e o interpretaram como um acidente de prova.

O fim de semana do recente GP da Holanda foi particularmente penoso para Valentino Rossi. Não obteve bons tempos nos testes que antecederam a prova, não conseguiu a qualificação direta para o Q2 e não se colocou entre os primeiros no Q1. Largando da 14ª posição, Rossi conseguiu estabelecer um ritmo consistente e em quatro voltas progrediu até a 11ª posição, onde iniciou uma disputa com Takaaki Nakagami. Na 5ª volta, curva 8, Rossi atrasou demais a frenagem e acabou abalroando a LCR Honda do japonês, que necessitou ser atendido pelos paramédicos na pista. A imprensa se limitou a noticiar o incidente e lamentar a queda de Rossi.

Nos eventos citados Pedrosa e Rossi, que sempre primaram pelo trato afável com jornalistas, tiveram suas infelicidades corretamente noticiadas como acidentes normais em um GP de motovelocidade. Lorenzo foi tratado pela imprensa sem tanta compreensão, rotulado como truculento, extemporâneo e decadente.

O GP de Assen, com o protagonismo de novos pilotos, confirmou que algo está mudando na MotoGP. Todos os testes realizados na programação do fim de semana foram liderados por Fabio Quartararo, o piloto mais jovem da relação de inscritos no mundial e competindo com uma equipe satélite da Yamaha. No GP as duas primeiras voltas foram surpreendentemente lideradas por Alex Rins e Joan Mir da Suzuki, depois da queda de Rins na segunda volta, Mir perdeu posições e as três primeiras colocações foram ocupadas respectivamente por Vinales, Márquez e Quartararo que, apesar de trocas ocasionais de posições, cruzaram a linha final nesta ordem. Assen é um circuito que favorece as motos com cilindros montados em linha como as Yamaha e Suzuki, características muito semelhantes ao circuito de Phillip Island, local da única vitória de Vinales na temporada passada.

No final de 2018 Danilo Petrucci assinou um contrato válido por apenas um ano para compor a equipe oficial da Ducati, com o objetivo explícito de ajudar Dovizioso a conquistar o mundial e quebrar a hegemonia atual de Marc Márquez. Com os resultados da 6ª etapa, vitória em Mugello e da 7ª, 3º lugar em Barcelona, ele se aproximou da pontuação do líder da equipe no mundial e permitiu especulações que talvez alimentasse sonhos de lutar pelo título. A Ducati tem ideias próprias sobre o comportamento de seus pilotos, conforme ficou explícito na prova de Valência na temporada passada onde, acintosamente insistiu que Lorenzo ainda sonhando com o pódio, permitisse a ultrapassagem de Dovi que não traria nenhuma consequência prática para o campeonato. Em Assen, perto do final da prova, Petrucci escoltou comportadamente a Ducati #04, porém relaxou demais e foi ultrapassado por Franco Morbidelli na última volta perdendo a 5ª colocação.

Cal Crutchlow, ainda sem recuperar a confiança no comportamento de sua LCR Honda, terminou em 7º, seguido da Suzuki de Joan Mir, Ducati de Jack Miller e da Aprilia de Andrea Iannone, que pela primeira vez esteve entre os top ten este ano.

Jorge Lorenzo continua o seu calvário, durante os testes livres se acidentou e quebrou duas costelas, está afastado até o fim das férias de verão (europeu) e será substituído por Stefan Bradley na próxima etapa.

A prova da Holanda deste ano não apresentou disputas pelo pódio nas últimas voltas. Talvez pela escolha de pneus, macios na traseira, ou pensando exclusivamente na contagem de pontos pelo campeonato, Marc Márquez abdicou da luta pela vitória e Fábio Quartararo não teve fôlego para desafiar os líderes. Vitória merecida de Vinales, com duas Yamaha nas três primeiras posições.

Assen também comemorou os 60 anos de disputas da Honda no mundial de motovelocidade, período em que a fabricante japonesa venceu 780 dos 3.120 GPs disputados em todas as categorias. A prova também marcou 2 anos sem vitórias de Valentino Rossi. Márquez, o atual campeão, abriu uma liderança de 44 pontos no mundial e tem um histórico expressivo no circuito onde será disputada a próxima prova, o GP da Alemanha em Sashsenring, pole e vitória em todas as provas disputadas na MotoGP.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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