MotoGP – Arenas multiuso

terça-feira, 14 de junho de 2016 às 17:19
Circuito da Catalunha

Circuito da Catalunha

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

O conceito foi muito mencionado na mídia nos anos que antecederam a Copa de 2014, para justificar os gastos todos os estádios deveriam ser obrigatoriamente multiuso, ou seja, para evitar ociosidade o mesmo equipamento serviria para múltiplas finalidades. As arenas multiuso da Copa 2014 foram projetadas para futebol, porém também podem ser utilizadas para megashows musicais, encontros religiosos e um sem número de outras atividades que requeiram acomodações para um grande público.

A maioria das infraestruturas onde são realizadas as provas da MotoGP também têm a característica multiuso. O circuito de Barcelona, na Catalunha (www.circuitcat.com), opera com uma programação intensa que mantém suas instalações ocupadas quase todos os dias da semana. Lá são realizadas provas de automobilismo, ciclismo, motovelocidade e seu traçado também é cedido para uma empresa que aluga modelos de Ferrari, Lamborghini ou monopostos Fórmula 3 para pessoas circularem pela pista.

Evidente que as condições do circuito devem contemplar ampla segurança para este variado espectro de atividades, entretanto carros e motocicletas podem ter necessidades distintas. Na abertura do Mundial de Fórmula 1 na Austrália o piloto Fernando Alonso protagonizou acidente cinematográfico ao tocar a sua McLaren na Haas de Esteban Gutiérrez, o espanhol perdeu o controle e, ao entrar de lado na área de escape, seu carro travou na brita e capotou espetacularmente. Não faltaram na ocasião críticas aos promotores, administradores do circuito e organizadores da prova, externadas por narradores, comentaristas ou supostos especialistas em segurança, argumentando era inadmissível ter brita naquele local, o ideal seria uma área de escape asfaltada que permitisse o carro deslizar para perder velocidade.

No GP da Barcelona desta temporada, realizado no circuito da Catalunha, houve uma fatalidade na curva 12 durante os treinos da Moto2. O piso da pista é antigo e com baixa aderência, o exterior da curva 12 tem um suporte sólido, uma superfície de asfalto até a airfence, uma espécie de colchão de ar colocado na frente dos muros ou guard-rails para amenizar os efeitos de impactos. A área de escape é uma seção estreita, destinada a permitir alguma desaceleração antes da moto bater no muro e está em um ponto onde uma queda é muito improvável. Depois do ocorrido, vários profetas do acontecido indicaram que naquele local deveria obrigatoriamente haver brita e, na impossibilidade de uma ação imediata, a administração do GP de acordo com os pilotos alterou o layout do circuito para o utilizado pela Fórmula 1, um cotovelo muito mais acentuado na curva 10 e a inclusão de uma chicane no lugar da curva 12. Esta alternativa já havia sido avaliada pela MotoGP em um teste pós corrida em 2014 e, na ocasião, Marc Márquez foi o único que a aprovou. Os pilotos que participaram daquela seção reconheceram que o circuito ficava mais lento e mais seguro, porém todos, com exceção do piloto da Honda, rejeitaram a ideia de utilizá-lo.

O risco é inerente aos esportes motorizados. A Fórmula 1 utiliza vários circuitos onde os carros passam a centímetros dos muros laterais. No circuito Gilles Villenueve no Canadá, na saída da curva 15 (chicane antes da reta dos boxes) existe o Muro dos Campeões, que tem este nome porque cinco campeões mundiais já comprometeram suas corridas ou treinos por colidirem nele. A proteção do piloto contra impactos em carros é infinitamente superior que em motos, por esta razão a MotoGP evita traçados multiuso onde situações de risco são maiores. Infelizmente é uma utopia pensar em competições com as possibilidades de acidentes zeradas.

Não é à toa que as credenciais que habilitam o acesso ao paddock e ao centro de mídia em todas as etapas da MotoGP têm escrito em destaque no verso “Motorsports can be dangerous”.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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