MotoGP – A Navalha de Occam

segunda-feira, 4 de junho de 2018 às 13:54

Jorge Lorenzo – Mugello 2018

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Existe um princípio lógico, creditado ao Frade Franciscano britânico William Ockham que viveu no Século XIV. Conhecido como Navalha de Occam, o princípio define que a justificativa para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à sua explicação, e eliminar todas as que não causam qualquer diferença aparente na hipótese ou teoria.

O princípio tem explicações acadêmicas e simplificadas. A acadêmica é baseada na expressão latina “Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem” (entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade) e recomenda que se escolha sempre uma teoria que implique o menor número de premissas para elucidar um fato. O princípio é reconhecido como uma das máximas heurísticas (regra geral) que aconselham economia, parcimônia e simplicidade, especialmente para explicar teorias científicas. Uma definição simplificada é que: “Se existirem várias possíveis explicações para um acontecimento, a mais simples é a melhor”.

Na sexta etapa do Mundial de 2018, disputada em Mugello, depois de 23 GPs disputados com a Ducati, Jorge Lorenzo finalmente entrou no restrito clube dos pilotos que conquistaram vitórias pilotando equipamentos produzidos em Borgo Panigale. Dos 3.060 GPs já disputados do FIM Road Racing World Championship desde 1949, em todas as categorias, a Ducati conseguiu apenas 45 vitórias, 4 na classe 125cc nos anos de 1958/1959 e 41 na classe principal a partir de 2006. São só 6 os sócios deste clube exclusivo, o recordista e único a conquistar o título de campeão do mundo pela equipe italiana é Casey Stoner com um total de 23 vitórias entre 2007 e 2010. Os outros são Andrea Dovizioso com 8, Loris Capirossi com 7, Troy Bayliss, Andrea Iannone e agora Jorge Lorenzo com uma cada.

A Navalha de Occam pode ser utilizada para explicar a vitória de Jorge Lorenzo no GP da Itália: A melhor moto da pista, conduzida por um ótimo piloto. Após um ano de intenso aprendizado, as características da Ducati GP18 são muito diferentes da Yamaha M1 que lhe deu 3 mundiais, a equipe finalmente atendeu a sua mais candente solicitação e alterou a ergometria da moto. O modelo anterior não fornecia apoio suficiente para seu corpo nas frenagens, exigindo muita força muscular nos braços, a fadiga prejudicava seu desempenho com a prova em andamento. Com este detalhe corrigido, aliado à potência e ao equilíbrio da GP18, os espectadores e telespectadores de Mugello puderam testemunhar a reedição do “Modo Lorenzo”, uma técnica desenvolvida nos bons tempos da Yamaha quando ele assumia a liderança na largada e vencia a prova de ponta a ponta.

O início do GP da Itália foi muito acidentado, com menos de 5 voltas 7 pilotos caíram, incluindo 4 das 6 motos Honda (Marc Márquez, Thomas Luthi, Takaaki Nakagami e Dani Pedrosa), além das Ducati de Karel Abraham e Jack Miller e da Aprilia de Scott Redding. O desenrolar da prova não foi muito excitante e as únicas emoções das voltas finais foi o assédio de Andrea Iannone a Valentino Rossi pelo terceiro degrau do pódio.

Fair Play não é o forte da torcida italiana, que comemorou quando os esforços de Marc Márquez foram insuficientes para evitar a queda na quarta volta. O piloto não estranhou a manifestação, lembrou que no ano passado em Misano uma queda no warm-up também foi aplaudida, e que na corrida evitou a vitória de um italiano com uma Ducati ao ultrapassar Danilo Petrucci com um ataque devastador na última volta. Ele já havia sido vaiado em Mugello logo depois da queda que tirou Michele Pirro da prova na tarde de sexta-feira. “Comemorar a queda de um piloto é triste porque estamos correndo riscos na pista. É curioso que celebram a queda de um piloto mais do que uma vitória de outro”. O #93 disse que sua queda foi em um trecho de descida e com a brita muito próxima da pista, ele e o pneu dianteiro já não estavam se entendendo, entretanto tinha que arriscar para não perder o contato com os líderes”.

As declarações pós-prova do vencedor também foram previsíveis. A imprensa italiana e até altos dirigentes da Ducati haviam passado as duas semanas anteriores exteriorizando o seu desagrado com os resultados do piloto e praticamente descartando sua permanência na equipe. Jorge Lorenzo diz que sua primeira vitória Ducati é a resposta perfeita às críticas que recebeu depois de um tempo frustrante com o fabricante italiano, mas admite que o resultado vem acompanhado de emoções confusas. Houve empenho da equipe para atender suas solicitações, porem as modificações chegaram tarde demais. A versão mais intensa na “Radio Paddock” indica um retorno potencial para Yamaha com uma equipe independente. Houve até uma declaração de Lin Jarviz, antigo chefe, dizendo que Lorenzo era bem-vindo na Yamaha, desde que aceitasse pilotar para uma equipe satélite. A Yamaha acusou a perda de Johann Zarco para a KTM e está à procura de um piloto de ponta para substituir francês.

Em uma avaliação honesta e franca sobre sua situação na Ducati, Lorenzo imagina que a vitória deve marcar uma mudança nas percepções dos seus críticos, mas chegou tarde demais para continuar sua carreira na fábrica italiana. “Vou pilotar outra moto nos próximos dois anos”. Jorge evitou se expressar em público, entretanto seus mecânicos disseram que comemorar uma vitória com uma moto italiana em Mugello é um sonho que muito piloto consagrado não conseguiu.

O piloto reputa esta como uma das três vitórias mais significativas de sua carreira, junto com o GP Brasil de 2003 (125cc) e no Estoril em 2008.

Em tempo: Valentino registra um novo recorde!
A terceira colocação, pole e melhor volta não foram as únicas conquistas de Valentino Rossi no GP da Itália. Ao registrar a melhor volta na qualificação ele se tornou o piloto mais velho (39 anos, 3 meses e 17 dias) a largar na primeira posição de um GP oficial desde Jack Findlay no Isle of Man TT em 1974. A idade não aparenta ter influência em sua velocidade na pista.

Rossi passou 595 dias sem a felicidade de largar um GP na primeira posição. Sua última pole havia sido em Motegi em 2016.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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