MotoGP 2016 – Ocorrências da temporada

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017 às 16:40
Andrea Dovizioso e Andrea Iannone

Andrea Dovizioso e Andrea Iannone

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Disputas em circuitos com pouco mais de 4 km de extensão, 12 metros de largura, 21 dos pilotos mais competitivos do mundo, máquinas com 260 cavalos, inclinações em curvas próximas dos 60 graus, a MotoGP dificilmente é previsível e acidentes acontecem, alguns nem sempre acidentais.

I.
Existe uma regra não escrita, mas enunciada à exaustão pelos chefes de equipes: “Nunca tirar o companheiro da pista”. Para os pilotos também existe uma regra não escrita, muito importante: “O companheiro de equipe é o primeiro e principal adversário”. Óbvio, estas orientações endereçam pontos de vista antagônicos e podem conduzir a incidentes durante uma prova. Um leve contato ou uma disputa mais ríspida nas voltas iniciais de uma corrida pode ser tolerado, entretanto, provocar a saída de ambos com uma manobra sem a mínima chance de sucesso a poucos metros do final, evitando um raro duplo pódio para uma equipe carente de bons resultados, é difícil de ser justificado. Infelizmente esta foi a situação que Andrea Iannone criou em Rio Hondo, na Argentina, no segundo GP da temporada de 2016. O incidente teve consequências, contribuiu para a Ducati abrir mão de seus serviços e optar por manter o moderado Andrea Dovizioso como futuro colega de Jorge Lorenzo em 2017.

II.
O início da temporada de 2016 não foi nada fácil para Andrea Dovizioso. Uma semana após ter o segundo lugar na Argentina comprometido pelo colega de equipe, o italiano da Ducati viu uma nova oportunidade de pódio desaparecer ao ser atingido pela moto desgovernada de Dani Pedrosa quando estava na terceira colocação. No início da sétima volta do GP de Austin, terceira etapa da temporada, o piloto da Honda perdeu o controle e caiu. Seu equipamento deslizou pela pista sem controle e atingiu violentamente a Ducati de Dovizioso, que não teve a menor chance de evitar o acidente.

III.
Uma comprovação da excelência técnica da MotoGP é a quase inexistência de falhas de motor, considerando que os materiais são submetidos a tensões altíssimas e que a manutenção e substituição de peças internas é proibida, todos os motores são lacrados antes da primeira prova da temporada. A lei de Murphy é inflexível, “ Se alguma coisa tem chance de dar errado, com certeza acontecerá no pior momento e de modo a produzir o maior dano possível”. Para os mecânicos da Movistar Yamaha, a pior condição para uma falha acontecer é no motor de Valentino Rossi enquanto disputa a liderança de uma prova em sua casa, o circuito de Mugello. Foi o que aconteceu no GP da Itália em 2016, e o mundo acompanhou pela TV a moto #46 do italiano arrastando-se pela pista deixando um rastro de fumaça. Para tornar a situação um pouco pior, o mesmo aconteceu com seu desafeto, adversário e companheiro de equipe, Jorge Lorenzo, nos treinos preparatórios para a prova, o espanhol trocou o motor e venceu a etapa.

IV.
O princípio da impenetrabilidade é uma das leis básicas da mecânica de Newton, e enuncia que dois corpos não podem, a um mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. Física clássica, entretanto, nunca foi o forte de Andrea Iannone, depois de cair enquanto disputava as primeiras colocações nas seis etapas anteriores, Iannone ignorou a presença da moto de Jorge Lorenzo na Catalunha. O italiano perdeu a referência de freada ao tentar a ultrapassagem e abalroou a traseira da moto do espanhol, tirando os dois da corrida. Na ocasião, a Ducati já havia divulgado a permanência de Dovizioso na equipe como futuro companheiro de Lorenzo e Iannone já havia assinado com a Suzuki para a próxima temporada.

V.
O pior pesadelo para um fabricante de pneus é ter todo um lote posto em suspeição por uma falha relacionada com a qualidade do material ou processo de manufatura. Esta foi a situação enfrentada pela Michelin em sua segunda corrida (GP da Argentina) como fornecedora exclusiva da MotoGP. Durante um dos testes livres a estrutura do pneu traseiro da Ducati de Scott Redding entrou em colapso, a camada externa descolou e rompeu, o inglês foi atingido por um pedaço solto com um duro golpe nas costas e a carenagem da moto sofreu avarias. Felizmente o resto do pneu permaneceu intacto e o piloto conseguiu ao menos evitar uma queda em alta velocidade. O acidente, embora totalmente diferente, foi relacionado com o que aconteceu com Loris Baz nos testes pré-temporada. O corpo técnico do fabricante decidiu que não havia condições de garantir a integridade dos componentes sem um exame mais aprofundado. Emergencialmente a prova foi mantida dividida em duas etapas, com troca de motos (e pneus) obrigatória. Como demonstração de comprometimento e competência, uma semana mais tarde a fornecedora francesa já tinha um produto confiável para o GP da Américas, em Austin.

VI.
Possível sim, mas muito improvável. Uma série de eventos era necessária para garantir o título antecipado do mundial de pilotos de 2016 para Marc Márquez, na décima quinta etapa da temporada em Motegi, a casa da Honda. (1) Márquez tinha de vencer a prova em um circuito onde nunca havia vencido antes e (2) Rossi e Lorenzo não poderiam pontuar entre os primeiros. É muito rara a queda de dois pilotos de ponta em uma mesma prova, o GP foi disputado em condições ambientais próximas das ideais, temperatura de 25° C, pista seca e 37% de umidade relativa do ar. O termômetro indicou 36° C de temperatura na pista. Todos os cenários apontavam para postergar a definição do campeonato para as etapas seguintes, entretanto o inesperado aconteceu, Rossi caiu quando estava em segundo lugar faltando 18 voltas para o final. Lorenzo, ainda com escassas chances matemáticas, perdeu a frente da sua Yamaha faltando cinco voltas para o encerramento, Marc Márquez garantiu o seu quinto mundial, terceiro na MotoGP, faltando ainda três provas para concluir a temporada.

VII.
Todo o piloto desenvolve o instinto de preservação em caso de quedas, que consiste em evitar a redução brusca da Força G para minimizar possíveis danos físicos. Um acidente que poderia mudar a história do Mundial de MotoGP aconteceu durante a preparação para a décima etapa, na Áustria, no terceiro treino livre (FP3). Marc Márquez sofreu uma queda depois de perder o ponto de frenagem e quase colidir com seu colega Dani Pedrosa. Em função das outras ocorrências da temporada é provável que este incidente seja desconsiderado na história do campeonato, porém a manobra do piloto para evitar atropelar seu colega o impediu de posicionar o corpo de modo a dissipar o impacto da queda e resultou em uma forte luxação no ombro esquerdo. No dia seguinte, Márquez aplaudiu da pista a primeira vitória da Ducati depois da era Stoner, com direito a dobradinha no pódio. Entupido de analgésicos, classificou-se em quarto no circuito da Red Bull (Áustria).

VIII.
Cal Crutchlow iniciou sua carreira nos campeonatos britânicos de SuperBike e está na MotoGP desde 2011. Dono de uma técnica não muito refinada, porém eficiente, é um piloto muito determinado. Compete com equipamento Honda pela LCR, uma equipe satélite administrada por Lucio Cecchinello, um ex-piloto que contabiliza sete vitórias na MotoGP (mesmo número do brasileiro Alex Barros). Cal conquistou em 2016 o campeonato disputado entre os pilotos independentes, um título oficial, embora não muito festejado pela mídia. Cal também é líder em uma estatística desabonadora, com 26 quedas na temporada é o piloto com maior número de acidentes da MotoGP em 2016. Os registros oficiais indicam que Cal, além dos quatro pódios e duas vitórias, contabiliza seis abandonos em acidentes durante as provas e vinte quedas nos testes livres que antecedem os eventos. A temporada de 2016, em função de diversas modificações como um novo fornecedor de pneus e alterações substanciais no regulamento técnico, registrou um número exagerado de quedas, os três primeiros colocados na classificação final (Márquez, Rossi e Lorenzo) caíram três vezes cada durante provas da temporada. Considerando todas as classes, o número de acidentes de Cal Crutchlow só é menor que Sam Lowes da Moto2 com trinta e Gabriel Rodrigo da Moto3 com vinte e sete.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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