Montoya vai deixar saudades!

sábado, 8 de janeiro de 2011 às 21:04

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Montoya vai deixar saudades!

A notícia já confirmada de que Juan Pablo Montoya vai trocar a F1 pela NASCAR em 2007 me deixou bastante chocado. Eu até esperava que Montoya pudesse vir a sair da F1 logo mais, mas não assim, tão de bate pronto e ainda para uma categoria de Turismo, em que ele nunca correu.

Perde muito a F1 com a saída do colombiano. Montoya era o último piloto da era romântica da categoria, época em que, além de vencer, piloto bom mesmo era aquele que dava espetáculo (pelo menos às vezes), tinha bastante personalidade e agitava o circo da categoria de alguma maneira. Eu sou um grande admirador de Juan Pablo e nunca escondi isso de ninguém. Sempre gostei de seu estilo agressivo na pista, suas declarações sem meias palavras, sua autenticidade, sua coragem, tanto dentro quanto fora da pista. Gosto de esportistas com personalidade, daqueles que não se curvam perante as convenções estabelecidas e lutam com unhas e dentes – mas com lisura – por um lugar de destaque.

Montoya chegou na Formula 1 e foi logo mostrando que ultrapassar era possível, que Schumacher não era imbatível e que sim, o piloto ainda podia fazer alguma diferença numa categoria cada vez mais robotizada por carros que fazem quase tudo sozinhos. Logo em sua primeira entrevista disse que os carros eram rápidos, mas a não ser pelos freios ultra eficientes, não tinham “nada demais”. Arrumou seus primeiros inimigos aí, entre eles a própria entidade que organiza a F1, a FIA, e por ela foi perseguido implacavelmente desde então. Em sua terceira corrida arrumou mais inimigos ainda ao não tomar conhecimento do super e intocável campeão Michael Schumacher, aplicando-lhe uma linda ultrapassagem no final da reta de Interlagos.

E assim foi. A cada declaração, a cada ultrapassagem sobre Schumacher – e foram muitas – Montoya arranjava mais inimigos. Mas ao mesmo tempo conquistava muitos fãs também. A torcida estava carente de um piloto de personalidade, alguém que desafiasse o óbvio e pusesse alguma pimenta no arrozinho com feijão que a F1 havia se tornado. Montoya parecia ser o cara e muitos, mas muitos mesmo torceram por isso. Mas, como todo mundo que acompanha a F1 sabe, é preciso ter equipamento para poder chegar ao topo, ao título. As coisas pareciam a caminho em 2003, quando a equipe Williams finalmente descobriu um defeito no carro que, depois de trocar o aerofólio dianteiro por outro 30 Kgs mais pesado, Montoya conseguiu uma seqüência de resultados impressionantes e encostou no líder Schumacher. Faltavam então apenas três corridas para o final do campeonato e Montoya tornou-se o favorito para vencê-lo. Mas tudo começou a desabar em Monza, quando a FIA resolveu mudar a interpretação de uma das regras dos pneus e o fornecedor da Williams teve que refazer tudo às pressas. Com os pneus remodelados Montoya não conseguiu vencer e chegou em segundo logo atrás de Schumacher, que havia tido algumas atuações bisonhas nas corridas anteriores.

Mesmo assim nem tudo estava perdido para Montoya e a Williams. Indianápolis estava chegando e o colombiano era o favorito nas casas de apostas. Logo no começo da corrida Montoya e Rubens se chocaram numa disputa absolutamente normal por posição, mas os fiscais da FIA resolveram punir o colombiano com um drive-through, tirando-o completamente da disputa daquela corrida e do título. Em Suzuka, última corrida do ano, bastava que Schumacher chegasse em oitavo para ganhar mais um título, que foi exatamente o que aconteceu.

Minha impressão é que esses acontecimentos abateram um pouco Montoya. Acho que ele não foi mais o mesmo piloto desde então e passou a ser um pouco mais cauteloso, o que vai contra sua principal característica. Em 2004 ele teve outra decepção, desta vez com a própria equipe, ao se sentir traído por ela no GP da França. Não sei se ele tinha razão ou não, mas o fato é que esse episódio o fez aceitar um convite de Ron Dennis para guiar para a McLaren a partir de 2005. Eu pensei que isso renovaria a motivação do colombiano, como de fato renovou. Mas ao chegar na McLaren Montoya logo percebeu que seria difícil adaptar seu estilo kartista de guiar “traseirando” num carro feito por Adrian Newey. Sofreu um bocado no começo e ainda teve um acidente fora das pistas que o deixou de fora por duas corridas. Montoya só foi pegar a mão do carro quando não tinha mais chances matemáticas de conquistar o título e então, veio – o que a meu ver foi fatal para ele – a ordem da equipe para ajudar Kimi. Por duas vezes a McLaren prejudicou vitórias quase certas dele para entregá-las a Kimi, no Canadá e na Bélgica.

Depois disso Montoya realmente nunca mais foi o mesmo piloto, nem a mesma pessoa, de acordo com gente que convive com ele. Juan passou a dar declarações ensaiadas, guiar de forma burocrática e até mesmo cometer erros de principiante. Lógico que um piloto não desaprende, ainda mais um piloto lutador com um histórico tão vencedor quanto o dele. O que acabou foi a motivação, o tesão… E isso ficou muito claro nesta temporada desde a primeira corrida.

Eu, como admirador de pilotos como Juan Pablo, esperava e acreditava que algum fato novo trouxesse o velho Montoya de volta. Mas, infelizmente isso não aconteceu. Montoya preferiu procurar um velho conhecido, Chip Ganassi, com o qual venceu o mundial da CART e as 500 Milhas de Indianápolis, para voltar a sorrir competindo, agora na NASCAR.

Que vá com Deus e tenha muito sucesso! Obrigado Juan, pelos momentos bacanas que você nos proporcionou até hoje, tanto na CART quanto na F1.

Abraço a todos!
Adauto Silva

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