Montezemolo sai de cena. O que isto significa para a F1?

quinta-feira, 11 de setembro de 2014 às 19:31
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Ecclestone, Mosley e Montezemolo

Por: Joe Saward

A saída de Luca Montezemolo da Ferrari é um movimento de proporções gigantescas na geopolítica do esporte – e tem uma série de implicações que podem não parecer óbvias.

Na década de 70 Montezemolo foi o garoto prodígio na Ferrari e depois de colocá-la de volta ao caminho vitorioso, ele se dedicou a uma carreira brilhante em várias empresas em projetos relacionados com a FIAT, antes de ser colocado no comando da Ferrari em 1991, logo após ter organizado a Copa do Mundo de futebol em 1990. Enzo Ferrari já tinha falecido e a empresa Ferrari tinha perdido o seu caminho em termos de F1. O presidente da FIAT na época, Gianni Agnelli, decidiu que era hora de uma mudança e trouxe de volta Montezemolo como presidente executivo da Ferrari. Isso foi em Novembro de 1991 e sua missão consistia em vender mais carros e fazer a equipe de F1 ganhar novamente.

Lembre-se que depois de 1983, a Ferrari não tinha ganhado um título de Construtores, ofuscada pela McLaren, Williams e mais tarde pela Benetton também. Na época, a Ferrari vendia 4.500 carros de rua por ano e Montezemolo aumentou as vendas para 7.000 até 2008. A empresa anunciou recentemente a sua intenção de limitar a produção em 7.000 veículos por ano, a fim de manter a exclusividade da marca Ferrari. Isto significa que os preços vão subir. A partir do momento em que ele assumiu o progresso foi positivo, mas Agnelli ainda precisava ser paciente, pois foi somente em 1999 que Montezemolo finalmente encontrou a fórmula certa com Jean Todt, Ross Brawn, Rory Byrne e Michael Schumacher.

No mesmo período, Montezemolo usou as negociações do Pacto de Concórdia para forçar Bernie Ecclestone a dar mais dinheiro para a Ferrari do que para as outras equipes. Ecclestone e Ferrari trabalharam de mãos dadas – contanto que o dinheiro continuasse chegando. O legado disso é que hoje a Ferrari recebe cerca de US$ 120 milhões por ano antes do dinheiro do prêmio ser decidido. Alguns dos outros já negociaram acordos menores, mas são ninharias comparados com o acordo da Ferrari. Em 2000 a Ferrari foi dominante, mas não fez o que a Mercedes está fazendo atualmente permitindo que seus pilotos lutem na pista. Michael Schumacher era o piloto número um e se o segundo piloto não gostasse disso, azar dele.

O sucesso impulsionou Montezemolo como um membro importante na Confindustria, a associação patronal italiana, e em 2005 foi nomeado presidente da FIAT, porque a família Agnelli tinha perdido uma geração para a doença e o suicídio, além da terceira geração ainda não estar pronta. A família então voltou-se para Montezemolo para ser o presidente até que os novos meninos estivessem prontos para o trabalho. Luca permaneceu no cargo até 2010, quando John Elkann – então com 34 anos – assumiu. Montezemolo voltou a presidir a Ferrari, embora já estivesse envolvido na política, com a criação do movimento político Italia Futura, além de ter ações em várias outras empresas, nos setores de móveis, cashmere e de trens de alta velocidade.

Sua principal ideia após o desmonte da equipe vencedora foi recriar o mesmo sucesso com italianos em posições-chave: assim Stefano Domenicali se tornou chefe de equipe, Luca Marmorini chefiou o departamento de motor e Aldo Costa a equipe de desenho. Não deu certo e, portanto, Montezemolo recuou, enquanto McLaren, Red Bull e Mercedes ganhavam da Ferrari.

O desaparecimento de Montezemolo não afeta apenas a Ferrari, é claro. A Ferrari é uma força poderosa na F1 e, enquanto Luca era da velha escola e portanto não media esforços para conseguir o que fosse melhor para a Ferrari – não importando o que custasse -, a sensação hoje é que o esporte está em perigo de se destruir com uma gastança sem limites, e com o proprietário dos direitos comerciais (Bernie Ecclestone) retirando dinheiro do esporte em grandes quantidades, sem fazer quase nada em termos de promoção ou investimento para o futuro.

Assim, o desaparecimento de Montezemolo, como aconteceu com o desaparecimento de Max Mosley da FIA, enfraquece o domínio sobre o esporte pela FOM. As pessoas hoje não concordam com tudo, e até mesmo a Ferrari pode agora ver os benefícios de dividir a receita da F1 de uma forma mais tradicional. A resistência a issso pode não ser aberta, mas está crescendo.

Uma nova geração na Ferrari pode entender que, enquanto a Ferrari pode continuar fazendo o que Montezemolo fazia e receber pagamentos cada vez maiores a cada negociação, a melhor solução a longo prazo pode não ser essa, mas sim obter uma melhor divisão dos lucros para todos (equipes), e ao mesmo tempo, tentar encontrar maneiras de cortar custos. Quando se trata de uma competição de gastos, a Ferrari é grande enquanto uma Mercedes ou uma Honda não estão no jogo. Mas com eles, o controle de custos se torna importante.

O tempo dirá se isso vai acontecer, mas uma coisa é certa: dos três grandes jogadores da F1 nos últimos 20 anos, apenas um ainda está de pé. Max Mosley e Luca Montezemolo desapareceram. O sobrevivente, Bernie Ecclestone terá 84 anos em poucas semanas. Ele sobreviveu à guerra contra as autoridades da Alemanha e ele deve estar se perguntando se um dia desses, os avaliadores de risco da CVC Capital Partners irão reavaliar seu valor.

AS - www.autoracing.com.br

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