Meu malvado preferido
sexta-feira, 22 de abril de 2016 às 13:05Colaboração: Christina Gouveia Lima
Sou cristã nova, motoqueira convicta e fui convertida para a MotoGP acompanhando as transmissões de TV a partir de 2011. Virei fã de carteirinha na fantástica temporada de 2013. Entendo que outras pessoas tenham opiniões diferentes das minhas, respeito a história e o carisma de Valentino Rossi, admiro a competência de Jorge Lorenzo e a condução sempre correta de Dani Pedrosa, mas Marc Márquez é o meu preferido, porque está sempre tentando fazer algo que todos acreditam que seja impossível.
Minha prova preferida foi a da Austrália em 2015, especialmente no último giro. Márquez abriu a volta com sua Honda #93 em terceiro lugar um segundo atrás do líder Lorenzo, seus pneus, assim como os de todos os outros pilotos, estavam em frangalhos. Um segundo é uma liderança cômoda em Phillip Island, um circuito de 4,5 km onde o tempo de volta gira em torno de em 1min e 28 segundos. Ao longo das 27 voltas da prova Lorenzo havia registrado seguidas vezes a melhor volta e desenvolvia seu ritmo com consistência cronométrica, como é sua característica. Márquez venceu a corrida, ultrapassando o líder a três curvas do final. Ele conseguiu esta proeza pulverizando o recorde da pista na última volta, depois de também participar e vencer um duelo épico com Andrea Ianone que ocupava a segunda posição. Foi uma performance exuberante, numa corrida que muitos consideram a melhor da MotoGP em todos os tempos.
Antes de Márquez ser promovido para a MotoGP era voz corrente dos comentaristas que opinam sobre motovelocidade que a categoria tinha um grupo de elite, candidatos a vencer um campeonato: o “alien” Casey Stoner (precocemente aposentado), Valentino Rossi, Jorge Lorenzo e o colega de equipe Dani Pedrosa. Em 2013 nos testes pré-temporada realizados no Circuito das Américas Shuhei Nakamoto, manager da HRC, prognosticou que deveria ser o ano de Pedrosa, “Márquez tem talento, mas é jovem e é muito cedo para esperar resultados”. Marc foi campeão do Mundo. Em 2014 Márquez reduziu este grupo para um único membro – ele próprio – com 13 vitórias na temporada, batendo o recorde dos 12 triunfos de Michael Doohan que durava desde 1997, ainda no tempo das 500cc.
A temporada de 2015 começou com uma luta desigual, Dani Pedrosa submeteu-se a uma cirurgia e a corrida pelo título virou uma disputa de duas Yamaha contra uma única Honda. Foi uma temporada particularmente infeliz para Márquez que, apesar de ter conquistado 5 vitórias, não completou 1/3 das provas realizadas. Lorenzo precisava vencer em Phillip Island para reduzir a vantagem de 18 pontos construída por Valentino Rossi nas 15 provas anteriores. Foi nesta prova que Marc Márquez conquistou sua 50ª vitória.
Márquez revolucionou o modo de pilotar uma moto de competição. Desenvolveu a técnica de transferir sua massa corporal para fora da carenagem deslocando o centro de gravidade nas curvas, que hoje é imitada pela totalidade dos pilotos, inclusive por monstros sagrados como o multicampeão Valentino Rossi. Seu modo de contormar as curvas difere dos modelos tradicionais de seguir uma trajetória ampla para manter o acelerador acionado, técnica enpregada por Jorge Lorenzo, ou forçar o oversteering (derrapar a roda traseira, também chamada de “pista suja”), explorada por pilotos formados em pistas de terra. Sua técnica de atrasar a frenagem e inclinar a moto em ângulos acentuados com seu corpo afastado do assento, cotovelo resvalando no piso e acelerador acionado, exige muita aderência dos pneus e quadros maleáveis como o da RC213V. Para um observador externo é muito semelhante a uma queda controlada.
Nos testes pré-temporada deste ano Márquez e as Honda chegaram a ser considerados cartas fora do baralho. O terceiro lugar no Catar foi considerado acidental, embora o testemunho de Rossi que comboiou a RC213V #93 durante boa parte da prova tenha indicado que não houve uma única oportunidade de tentar uma ultrapassagem. Márques venceu na Argentina e nos EUA, as outras Honda de Pedrosa, Crutchlow, Miller e Rabat ainda não convenceram.
Muitos que idolatram outros pilotos reputam o comportamento de Marc Márquez nas pistas de muito agressivo ou até irresponsável. Ele também foi acusado de interferir no resultado da temporada passada. Desde que chegou à MotoGP ele tem 26 vitórias, mais que as de Lorenzo (18) e Rossi (7) somadas, no mesmo período.
Christina Gouveia Lima
Porto Alegre – RS
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