McLaren: O berço dos “betinhas”

segunda-feira, 6 de outubro de 2025 às 20:19

McLaren – Lando Norris e Oscar Piastri

Colaboração: Allan Ferreira

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Confrades, nesta atual visão polarizada do mundo, muitas vezes amplificada pelas redes sociais, cunhou uma dualidade que define o universo masculino: o Alfa e o Betinha.

É crucial ressaltar: esta não é uma divisão equitativa. Estima-se que a vasta maioria dos homens — cerca de 80% (ou mais) — se enquadra na categoria “Betinha,” deixando a minoria para o grupo “Alfa.” E sim, assumo-me parte da maioria como um bom e feliz betinha.

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Para quem não está familiarizado com estas figuras, segue um perfil caricatural de cada arquétipo:

O Alfa não entra num local; ele emerge, como se tivesse acabado de desembarcar de um helicóptero. Num café, ele não faz um pedido formal. Ele aponta para a máquina e decreta: “O mais forte. Agora.” O barista, misteriosamente intimidado, obedece, temendo que o Alfa compre o estabelecimento e o converta numa churrascaria.

Se a conexão de internet falha, o Alfa não se queixa: ele olha fixamente para o router até que a luz do Wi-Fi acenda novamente. Seu lema é simples: “Eu vim, eu vi, eu fiz o upgrade.” Em termos de ação, ele proclama: “Eu resolvo.” Na conquista, basta-lhe um olhar de super-herói para as mulheres se derreterem.

O Betinha, por sua vez, aproxima-se do balcão do café pedindo desculpas pela própria presença. Ele ensaia mentalmente o pedido de café três vezes: (“Um latte de aveia, por favor, se não for muito incômodo. Mas se for, um americano simples está ótimo, obrigado”).

Se a internet falha, ele consulta o manual do router, faz o reset com cautela e, falhando, envia um e-mail atencioso à operadora, iniciando com: “Olá, espero que esta mensagem o encontre bem…” Onde o Alfa age, o Betinha oferece: “Eu fiz uma folha de cálculo com cinco opções de resolução, com as vantagens e desvantagens de cada uma. Podemos votar?”

Não se trata de competência: Alfas não são inerentemente mais aptos que Betinhas. A principal vantagem do Alfa, e o que o torna mais notório, reside puramente na confiança inabalável. É essa postura destemida que contrasta drasticamente com a insegurança, a cautela excessiva e a timidez que tipicamente definem o Betinha.

Com esta explicação, fica fácil entender porque, mesmo às vezes sendo um cafajeste, o Alfa consegue atrair as mulheres. Porque na entrevista de empregos, ele consegue se sobressair, e porque estes são mais bem-sucedidos no mundo empresarial. Não tem a ver com competência.

Alfas criam oportunidades (que em grande parte das vezes não conseguem aproveitar por não estarem bem preparados). Betinhas, por outro lado, mesmo sendo os mais preparados, afogam as oportunidades em um oceano de insegurança e gentilezas, e acabam por vezes carregando o piano para o Alfa incompetente se sobressair. Sim, por trás de muitos Alfas que parecem competentes (mas não são), existe um ou mais Betinhas anónimos.

E então chegamos à F1, ao berçário dos betinhas, mais precisamente a McLaren, e seus dois jovens talentos: Lando Norris e Oscar Piastri.

O termo Betinha aqui não é uma ofensa (eles são pilotos de elite, afinal!), mas sim uma descrição do seu comportamento de “dupla-dinâmica-fofa-mas-letal” quando comparados a dois alfas como Max (Alfa tosco) e Russell (Alfa gentleman).

• Lando Norris (O Betinha Brincalhão): Lando é o Betinha com carisma de Alfa. Ele é rápido, brilhante, mas a sua personalidade é a de alguém que acabou de fazer uma live jogando videogame. Enquanto Max Verstappen parece ter nascido com uma careta de determinação, Lando parece que está sempre a pensar numa piada ou em um pedido de desculpa. Ele é o piloto que, se bater, vai levantar a mão e fazer um gesto de “My bad!” e depois convidar o outro para um café com leite de aveia.

• Oscar Piastri (O Betinha Analítico): Oscar é o Betinha que leva o trabalho muito a sério. Ele não é barulhento. Ele não tem a aura de Senna ou a fanfarronice de Verstappen. Quando algo dá errado na pista (e ele e Lando já tiveram os seus atritos), Oscar não grita no rádio; ele pergunta ao seu engenheiro: “Pode-se verificar o artigo 12.3.4 do código desportivo sobre a conduta na curva 4? Agradecido.”

A McLaren, no fundo, é o berçário dos betinhas, onde o chefe (Andrea Stella) tem de fazer terapia de casal para evitar que os seus dois prodígios, o Mestre da Piada e o Mestre dos Dados, estraguem o carro laranja.

Acreditem: ninguém sente paixão pelo Betinha. O Betinha é a pessoa com quem casamos para ter estabilidade; o Alfa é a pessoa sobre quem lemos livros e assistimos nas séries e filmes de ação. E num esporte que é puro rugido e imprudência, como a F1, ver uma disputa de Betinhas na frente é o equivalente a trocar um salto de paraquedas por uma Reunião de Condomínio Anual.

Se alguém disser que prefere ver a disputa Norris-Piastri em vez do confronto Max vs. Russell, essa pessoa… bem, provavelmente prefere um bom podcast de jardinagem ao domingo. É gente que definitivamente não gosta de Fórmula 1.

Entendo que cada um tem seus gostos… mas esta disputa Norris-Piastri é, definitivamente, um anticlímax para o esporte!

Allan Ferreira
Braga – Portugal

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