Lito Cavalcanti: Tempos de paz? Pois sim…

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012 às 20:29
Frank Williams e Patrick Head em 1985

Frank Williams e Patrick Head em 1985

Conteúdo patrocinado por: selopatrocinio

 

Na F1 não há Natal nem Ano Novo

Chega o Natal, vem aí o novo ano, devia ser um tempo de repouso, paz, relax. Para quase todo mundo é, mas não para quem, de alguma forma, está ligado à Fórmula 1. Os engenheiros estão de trabalho até os cabelos, janeiro é quando os novos carros devem ser apresentados. Mesmo que não sejam tão novos, já que as pouquíssimas mudanças no regulamento apontam para evoluções, não para revoluções.

Os pilotos que ainda não têm lugar garantido, junto com seus empresários, mal têm tempo (ou disposição) para respirar. As cartas estão na mesa, agora são discutidas as concessões, tanto de um lado quanto de outro. Puxa daqui, estica dali, daqui para a frente só dois podem ganhar, três ou quatro perderão. Pode ser por um pouco mais de centimetragem na carenagem para acomodar melhor a marca do patrocinador, este mecenas que viabiliza as aventuras e desventuras de uma geração que é julgada por valores outros que não talento e habilidade; pode ser porque a verba não é tão generosa quanto aspira a ganância das equipes.

Neste caso, sabemos todos sobejamente, estão nossos Bruno Senna e Luiz Razia. Ambos têm verbas significativas, ao que dizem mais do que os rivais van der Garde, Valsecchi, Sutil e Petrov. E também pouco ou nada lhes ficam a dever em termos de potencial. Razia vem de uma boa temporada na GP2, e se Valsecchi o superou na pista, ao que se comenta é amplamente derrotado no quesito grana.

Bruno tem a seu favor o depoimento de vários membros do Departamento Técnico que com ele trabalharam em 2012. Para desencanto de seus muitos detratores, que aqui no Brasil se enfileiram com a voracidade comum aos maldizentes, todos, sem exceção, enfatizam o prejuízo que ele teve ao ser obrigado a ceder seu carro no treino matinal de 15 sextas-feiras dos 20 Grandes Prêmios do ano.

Entre eles, a voz mais enfática é a de Mark Gillan, que por livre e espontânea vontade abandona o posto de engenheiro chefe de operações. Segundo comentários, sai em direção à Caterham, onde substituiria outro medalhão, Steve Nielsen, como diretor esportivo. Ainda de acordo com os mesmos rumores, Gillan seria um dos defensores da contratação de Bruno.

Assim como o presidente da Renault Sport F1, Jean-Michel Jalinier, que declarou ao jornalista Sílvio Porto, no dia 21 de novembro, considerar muito importante para sua empresa ter um piloto brasileiro correndo com um de seus motores. OK, Razia também é brasileiro, mas o que eleva as apostas em Bruno é o fato da declaração ter sido dada no lançamento do Renault Fluence no Brasil, que tinha o referido piloto como presença de honra.

A Razia restaria a opção da Force India, mas a briga é das mais duras. O osso a ser roído é Jules Bianchi, o protegido da Ferrari que brilhou nas categorias de acesso. Na GP2, foi o terceiro depois de sofrer as costumeiras batidas de Romain Grosjean, o campeão de 2011; na World Series by Renault, ou mais simplesmente Renault 3.5, foi o vice deste ano depois de ser jogado fora da pista na última corrida pelo campeão, o holandês Robin Frijns – que por isso foi intensamente vaiado por seus adversários na cerimônia de entrega de prêmios.

Sim, Bianchi não foi campeão em nenhuma delas. Até aí nada, porque Razia também não foi. Além do mais, isso não pesa tanto neste momento. Ambos venceram corridas e chegaram ao fim dos campeonatos em posições de honra. O que realmente está na balança é o apoio da Ferrari a Bianchi e os dólares que Razia tem.

É grande a possibilidade de, em 2014, a Force India trocar os motores Mercedes pelos Ferrari, um ponto a favor do francês. Mas, segundo se especula, Razia teria 34 milhões de dólares para serem divididos ao longo de três anos. Bianchi teria a preferência do setor técnico, mas os dólares de Razia sensibilizam profundamente o dono da equipe, Vijay Mallia, que enfrentou ao longo do ano, diversos e graves problemas financeiros em suas empresas.

Sem dúvida, vamos lamentar caso um destes dois brasileiros ficar fora da F1 em 2013. Um por não ter tido, em nenhum momento, uma oportunidade justa de mostrar até onde pode ir; o outro por ter construído uma carreira que não deve nem pode morrer às portas da F1.

Neste quadro, porém, por mais desanimador que possa se revelar, uma certeza me consola: nenhum deles estará mais exposto às maquinações indignas da Williams. Sim, hoje nutro inegável, profundo desprezo pela equipe que tanto admirei em outros tempos. A verdadeira Williams real, na minha muito humilde opinião, não é a que se sagrou campeã tantas vezes. É, sim, a dos primeiros anos, capaz de vender a alma por alguns trocados.

O primeiro sinal da volta às origens foi dado por algumas vezes há anos, quando deixou seus campeões mundiais saírem porta afora para não lhe pagar o justo estipêndio de um campeão. Repetiu-se ao defenestrar Nico Hulkenberg, que vinha de uma pole position em Interlagos com a carroça que a equipe teve o desplante de apresentar como seu carro para 2011. Em seu lugar surgiu Pastor Maldonado, que não é mau piloto, mas empalidece até desaparecer se comparado a Hulkenberg.

Desculpem-me a acidez, mas a Williams de hoje me traz à boca um travo amargo – acredito que também a quem viu e viveu os tempos heroicos de uma equipe que já ocupou os mais destacados altares da F1, que já teve em suas fileiras José Carlos Pace, Wilsinho Fittipaldi, Carlos Reutemann, Alan Jones, Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e até Ayrton Senna. Dizem ser culpa do austríaco Toto Wolff, o novo manda-chuva. Pode ser, mas por que Sir Frank Williams lhe abriu as portas? Por que lhe cedeu o comando de forma tão absoluta?

Não sei a resposta. Prefiro pensar que há por trás dessa decisão motivos incontestáveis, dificuldades insuperáveis. Gosto de pensar que seria diferente se o hoje apenas sócio Patrick Head, o brilhante engenheiro dos tempos áureos, ainda estivesse por lá.

De resto, mais algum tempo até termos algo mais maduro para comentar. Como a presença de mais um brasileiro nos grids de 2013, talvez dois. Quem sabe? Dedos cruzados, esperemos. Esperemos também uma nova Ferrari para um Felipe Massa renovado. Ainda sonho ouvir no rádio da equipe a mensagem “Fernando, Felipe está mais rápido do que você. Por favor confirme que você entendeu esta mensagem”.

Por que não? Quando esta frase foi dita, com personagens invertidos, era Massa quem vinha à frente. Como foi Massa quem veio à frente nos Estados Unidos e em Interlagos. Ressaltando que em ambas ele foi mais rápido do que Alonso no qualifying. E lá em Austin, depois de perder cinco posições para dar ao espanhol uma melhor posição na largada, ainda teve de diminuir seu ritmo para não causar embaraços àquele que é tudo e havido como o melhor piloto do mundo.

Será que ainda é? Será que a ascensão de Sebastian Vettel e Lewis Hamilton não o afetaram ao ponto de se ver obrigado a recorrer mais a palavras do que a seu já questionável valor como piloto? Confesso que não sei, e que este é um dos pontos que me fazem ansioso por um novo campeonato. Qual será o Alonso que veremos, o choramingas deste final de 2012? Ou o piloto quase perfeito que ele igualmente mostrou ainda ser neste mesmíssimo 2012?

Mas, principalmente e acima de tudo, mal aguento esperar para ver que Felipe Massa surgirá no Grande Prêmio da Austrália. Pelo que se viu, ou eu pelo menos vi, na segunda metade deste último campeonato, ressurgirá o Felipe que sempre enfrentou seus companheiros/adversários com velocidade e galhardia. Partindo todos de zero pontos, seria justíssimo por parte da Ferrari permitir que vença o melhor.

Sonho com isso. Será que ando sonhando alto demais? É, pode ser. Temo que sim.

Lito Cavalcanti

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