Lente de aumento: GP Mônaco 2005. Por Rafael Ligeiro 26/05/05

quinta-feira, 23 de junho de 2005 às 22:55

FIA e McLaren mudam a Fórmula 1

Depois da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciar alteração no formato do treino classificatório, o público acompanhou uma nova reviravolta na temporada 2005 da Fórmula 1, durante o Grande Prêmio de Mônaco. E dessa vez, a mudança foi na pista. O finlandês Kimi Raikkonen venceu de maneira incontestável a prova no principado europeu e mostrou que a McLaren surge como a nova “bola da vez” na categoria.

Largando pela terceira vez consecutiva na pole position, Raikkonen teve uma participação semelhante à da etapa anterior, realizada em Barcelona. Além de liderar todas as voltas do GP, Kimi dominou amplamente a corrida. E a única vez em que teve o primeiro lugar ameaçado foi na largada.

Largada

Após as cinco luzes vermelhas se apagarem, o segundo no grid, o espanhol Fernando Alonso (Renault), partiu melhor que o adversário finlandês. Porém, Raikkonen adotou uma trajetória defensiva, retardou a freada à curva Saint Devote e impediu a ultrapassagem do espanhol. Já Mark Webber (Williams-BMW) manteve a fama de largar mal. Terceiro colocado nos treinos, perdeu posições para os italianos Jarno Trulli (Toyota) e Giancarlo Fisichella (Renault). Ao contrário de Webber, Felipe Massa (Sauber-Petronas) e Juan Pablo Montoya (McLaren-Mercedes) se destacaram por uma excelente partida.

Apenas 16º no grid – por não ter participado da segunda qualificação, Montoya concluiu a primeira volta já na 12ª colocação. Felipe Massa passou Rubens Barrichello (Ferrari) e o companheiro de Sauber-Petronas, Jacques Villeneuve, pulando para o nono lugar. Aliás, essas foram uma das poucas ultrapassagens na primeira parte da corrida. Como era esperado, a falta de pontos de ultrapassagem no circuito permitiu a formação de pelotões com diversos carros separados por uma pequena diferença. Na briga pela quarta colocação, Jarno Trulli (Toyota), Mark Webber e Nick Heidfeld (Williams-BMW) chegaram a estar separados por apenas 1s5, porém ninguém conseguia concretizar qualquer ataque ao adversário.

Albers dá uma “força”

Fazia muito tempo que o australiano Paul Stoddart não comemorava um bom desempenho de sua equipe, a Minardi, na F-1. O time, acostumado nas temporadas passadas a alinhar seus carros na última fila do grid, conseguiu em Mônaco largar na sétima – em 13º e 14º lugares, com Patrick Friesacher e Christjian Albers respectivamente. Mas na corrida a decepção marcou presença no box do time de Faenza. Além do abandono de Friesacher, após bater forte na saída do Túnel (30º giro), Albers foi responsável por um dos lances mais esquisitos da temporada.

Na 23ª volta, o carro do holandês saiu de traseira e acertou o guard-rail da parte interna da curva Mirabeau, ficando atravessado na pista. Diante de um circuito conhecido por oferecer pouca visibilidade aos pilotos – e num momento que Christjian estava a prestes a sofrer uma volta de desvantagem de vários adversários – a “carambola” foi inevitável! David Coulthard, Michael Schumacher, Jacques Villeneuve, Felipe Massa, Rubens Barrichello e Juan Pablo Montoya foram bloqueados. Schummy e Coulthard acabaram sendo os maiores prejudicados. O heptacampeão teve de trocar o bico de sua Ferrari após toque na traseira de Coulthard, enquanto o britânico abandonou com uma avaria na suspensão de seu Red Bull-Cosworth. Porém, Felipe Massa tirou proveito da situação.

Além de conseguir se desvencilhar da Minardi rapidamente, o paulista aproveitou a presença do safety car na pista e fez sua primeira parada de pit. Passou do 9º para o 6º posto. Aliás, nesse instante, a área dos boxes foi literalmente invadida por diversos carros, numa cena peculiar à que ocorre em provas de categorias norte-americanas em ovais. A dupla da Renault entrou na mesma volta. E o prejuízo ficou com Fisichella.

O italiano, que acompanhava bem o ritmo de Alonso na pista, teve de esperar no box a equipe efetuar o reabastecimento do ibérico. Caiu do 3º para o 8º lugar. Já Alonso perdeu o segundo posto para Jarno Trulli, que não executou sua primeira parada, o mesmo que fez o líder da prova, Raikkonen. E, por sinal, a bandeira amarela foi importante para a estratégia da McLaren.

Chicane de Mônaco

Após a relargada (28ª volta), Kimi, com menos combustível que os adversários, além de pista livre, literalmente “voou baixo” na pista monegasca. Na 34ª volta, cravou a melhor volta da corrida, em 1min16s222. Uma volta depois, anotou 1min16s046. Em apenas 11 giros, o finlandês já tinha quase 30 segundos de vantagem em relação a Jarno Trulli. O italiano da Toyota parou para reabastecimento na 40ª volta. Dois giros depois foi a vez de Raikkonen, que voltou a pista ainda com 13s3 de vantagem para o novo segundo, Fernando Alonso.

Ma Che decepcione!

Os famigerados jornais italianos certamente nunca tiveram tantos motivos para “destilarem seu veneno”. Como se não bastasse a fase pouco produtiva da Ferrari e o descontentamento de Rubens Barrichello com Michael Schumacher (veja mais no intertítulo Schummy “Mister Mônaco”? Quem sabe em 2006…), Jarno Trulli quase bateu em Giancarlo Fisichella durante tentativa de ultrapassagem.

Schumacher sem bico

Na 64ª volta, os italianos brigavam pela quinta colocação, quando Trulli jogou vorazmente o carro por dentro na curva. Para evitar o choque, Fisichella foi ao lado direito da curva, abrindo caminho a diversos adversários. Perdeu posições e terminou apenas em 12º lugar. Mas o arrojo de Trulli também teve o seu preço. Enquanto os mecânicos da Toyota vibravam a passagem, Jarno errou no ponto de freada na Chicane do porto e foi ultrapassado por Ralf e as duas Ferrari. Sem o mesmo rendimento, teve de fazer uma parada extra.

A essa altura da corrida, Fernando Alonso não conseguia um bom rendimento. O Renault R25 do espanhol estava totalmente instável e saia de traseira por conta do grande desgaste dos compostos duros da Michelin. Na 70ª volta, o líder da temporada perdeu o segundo lugar para Nick Heidfeld. Quatro voltas depois, Alonso foi ultrapassado por Mark Webber na Chicane do porto, mesmo ponto onde o australiano da Williams havia tentado a manobra, na volta 73.

Kimi Raikkonen

Com folgada liderança, Raikkonen se deu ao luxo de “levantar o pé” nos giros finais, sendo até 3s5 mais lento que Heidfeld por volta. E o finlandês recebeu a bandeirada, após completar 78 voltas em 1h43min51s210 (média de 148,582 km/h). Nick Heidfeld e Mark Webber fecharam o pódio, para alegria de membros da Williams no pit wall. Apesar do mau rendimento do carro, Alonso chegou em quarto. Montoya, Ralf, Michael e Barrichello fecharam a zona de pontos. Em tempo: a vantagem de Alonso para o 8º colocado (Rubinho) foi de apenas 1s1. Felipe Massa terminou a prova em 9º lugar.

Schummy “Mister Mônaco”? Quem sabe em 2006…

E Ayrton Senna continua reinando como “Mister Mônaco”. Michael Schumacher terminou a corrida apenas em 7º lugar, deixando para 2006 a chance de se igualar ao brasileiro como maior vencedor do Grande Prêmio, com seis primeiros lugares. Além disso, esse foi um fim de semana para Schumacher esquecer. Há um bom tempo o alemão não escutava tantas críticas, que vieram até mesmo do irmão Ralf Schumacher. “Michael é louco”, afirmou o mais jovem Schumacher da F-1 após a prova.

O piloto da Toyota ficou na bronca com o heptacampeão por uma manobra na última volta. Pouco antes de receber a bandeirada, na reta dos boxes, Michael saiu bruscamente da traseira do TF105 de Ralf e emparelhou-se com o irmão. O Schumacher “menos famoso” teve de mudar a trajetória, para evitar um acidente. “Ás vezes (Michael) desliga o cérebro e faz essas manobras”, disse Ralf.

Michael Schumacher foi criticado até mesmo pelo companheiro de equipe, Rubens Barrichello. O brasileiro ficou descontente por Schumacher ter o ultrapassado na última volta, de maneira também considerada “arriscada”. Até mesmo o companheiro de Ferrari, Rubens Barrichello, também ficou na bronca com Michael. “Quando me dei conta de que aquilo (a ultrapassagem) estava acontecendo, porque não tinha espaço nenhum, ele já tinha jogado o carro em cima”, reclamou Rubinho. “Se fosse colocar a cabeça no travesseiro sei que dormiria bem. Não sei se é o caso dele”.

Já o alemão preferiu evitar polêmica. “A atitude de Rubens é natural. Nenhum piloto gosta de perder posição na última volta”. De consolo para Schummy resta o fato de ter conseguido a melhor volta da corrida, com 1min15s995.

E, de fato, o GP de Mônaco não foi bom para campeões. Além do heptacampeão Schumacher, Jacques Villeneuve também foi alvo de críticas. Em tentativa de ultrapassagem sobre o companheiro de Sauber, Felipe Massa, o vencedor da temporada 1997 retardou demais a freada à curva Saint Devote, batendo no guard-rail e atrapalhando Massa. Ambos perderam muitas posições e a chance de pontuar. Ao final da corrida, Jacques pediu desculpas a Massa pela manobra. O brasileiro aceitou, porém, continuou chateado com o ocorrido. “Daquele jeito não ia conseguir nada. Forçou demais”, falou o paulista de Botucatu.

O dono da Sauber, Peter Sauber, lamentou o incidente.

Muda tudo novamente no treino

Pouco antes dos primeiros motorhomes chegarem a Montecarlo, a FIA já havia anunciado mais uma alteração no treino classificatório, a terceira nos últimos três anos. Agora, o grid será constituído através dos tempos obtidos pelos pilotos no sábado. Cada profissional terá direito a uma volta rápida, formato semelhante ao que vigorou até 2003.

A mudança ocorre por causa das pressões que a entidade vinha sofrendo. O sistema criado nessa temporada não agradou a torcedores e especialmente a mídia. Mais que emissoras de televisão não transmitirem o treino de domingo – que ocorre quatro horas antes da corrida, outro motivo de reclamação era a perda da importância da classificação de sábado. A audiência caiu e a incerteza quanto ao grid no dia seguinte comprometia a cobertura da Fórmula 1 em telejornais – haja criatividade para escapar da “meia pole” ou do “pole quase pole”.

Com a nova regra, após o treino classificatório os carros serão encaminhados a um parque fechado – sendo devolvidos aos times horas antes da corrida. Nesse local, sob responsabilidade de fiscais da FIA, serão observados dados aerodinâmicos do carro. Nenhuma equipe poderá reabastecer antes da prova. Alterações aerodinâmicas poderão acontecer apenas se algum componente do monoposto oferecer risco ao piloto – como fissura na suspensão.

A FIA enviou fax às 10 equipes do Mundial, que terão até quarta-feira para responder se aceitam o implemento do sistema já no próximo Grande Prêmio, que ocorre no próximo fim de semana, em Nurburgring, Alemanha.

Classificação do Grande Prêmio de Mônaco após 78 voltas (site GrandPrix, www.grandprix.com):

Pos/Piloto/País/Carro/Tempo
1 Kimi Raikkonen Finlândia McLaren-Mercedes 1h43m51.210
2 Nick Heidfeld Alemanha Williams-BMW a 13.877
3 Mark Webber Austrália Williams-BMW a 18.484
4 Fernando Alonso Espanha Renault a 36.487
5 Juan Pablo Montoya Colômbia McLaren-Mercedes a 36.647
6 Ralf Schumacher Alemanha Toyota a 37.177
7 Michael Schumacher Alemanha Ferrari a 37.223
8 Rubens Barrichello Brasil Ferrari a 37.570
9 Felipe Massa Brasil Sauber-Petronas a1 volta
10 Jarno Trulli Itália Toyota a 1 volta
11 Jacques Villeneuve Canadá Sauber-Petronas a 1 volta
12 Giancarlo Fisichella Itália Renault a 1 volta
13 Tiago Monteiro Portugal Jordan-Cosworth a 3 voltas
14 Christjian Albers Holanda Minardi-Cosworth a 5 voltas
NC Vitantonio Liuzzi Itália Red Bull-Cosworth
NC Patrick Friesacher Áustria Minardi-Cosworth
NC David Coulthard Escócia Red Bull-Cosworth
NC Narain Karthikeyan Índia Jordan-Cosworth

Volta-a-volta

Volta 1: Fernando Alonso larga melhor que Kimi Raikkonen, mas finlandês retarda freada à curva Saint Devote e mantém 1º posto. Webber é ultrapassado por Fisichella e Trulli, e cai para 5º. Massa deixa para trás Villeneuve e Barrichello, subindo para 9º. Já Montoya pula do 16º lugar no grid para o 12º.

Volta 2: Vantagem de Raikkonen para Alonso é de 1s7

Volta 3: Diferença entre Raikkonen e Alonso sobe para dois segundos

Volta 4: Kimi crava a melhor volta, com 1min17s108

Volta 5: Raikkonen lidera 2s3 à frente de Alonso

Volta 6: Alonso faz a melhor volta, na casa do 1min16s8

Volta 9: Melhor volta para Kimi, com 1min16s562. Vantagem sobe para 2s9.

Volta 12: Equipe de box da Jordan troca pneus do carro de Narain Karthikeyan

Volta 13: Raikkonen, novamente, alcança a melhor volta (1min16s495)

Volta 17: Retardatário, Karthikeyan atrapalha Webber e Heidfeld em ultrapassagens na Rascasse, que se distanciam de Trulli, quarto colocado.

Volta 20: Melhor volta para Kimi, com 1min16s265. Vantagem para Alonso sobe para 5s4. Karthikeyan entra nos boxes pela terceira vez

Volta 22: Karthikeyan abandona a corrida

Volta 23: Albers bate na Mirabeau, fica atravessado na pista e atrapalha passagem de vários pilotos. Bandeira amarela é acionada e safety car entra na pista

Volta 24: Schumacher faz parada de pit para trocar aerofólio dianteiro. Coulthard abandona

Volta 28: Relargada

Volta 29: Patrick Friesacher bate na saída do túnel e abandona. Raikkonen abre 5s6 para o novo segundo colocado, Jarno Trulli

Volta 34: Raikkonen abre 15s3 para Trulli e crava melhor volta (1min16s222)

Volta 35: Melhor volta para Raikkonen, com 1min16s046

Volta 39: Tiago Monteiro e Trulli executam suas paradas de pit. Alonso passa ao segundo lugar

Volta 40: Melhor volta da corrida é conquistada por Michael Schumacher, com 1min15s995

Volta 41: Kimi Raikkonen faz sua única parada para reabastecimento na corrida. Volta à pista com mais de 13 segundos de vantagem para Alonso

Volta 45: Ferrari executa única parada de Barrichello na corrida. Brasileiro deixa o motor apagar na saída e ainda é penalizado com um drive-through por excesso de velocidade nos boxes

Volta 47: Barrichello cumpre o drive-through

Volta 49: Raikkonen tem 15s3 de vantagem para Alonso

Volta 50: Felipe Massa executa seu segundo pitstop

Volta 52: Ralf e Michael Schumacher brigam pelo 10º posto. A vantagem do piloto da Toyota chega a ser de apenas 0s2

Volta 53: Michael passa reto na Chicane do porto

Volta 57: Nick Heidfeld e Mark Webber iniciam forte ataque a Alonso, na luta pelo 2º posto. Williams antecipa parada de Heidfeld. Barrichello passa Vitantonio Liuzzi na briga por posições intermediárias

Volta 59: Liuzzi abandona com um pneu furado

Volta 63: Villeneuve tenta passar Massa, mas bate no guard-rail da Saint Devote. Ambos perdem várias posições

Volta 70: Heidfeld ultrapassa Alonso e assume 2º posto

Volta 74: Webber conquista 3º lugar, ao ultrapassar Alonso

Volta 78: Bandeirada, com pódio formado por Raikkonen, Heidfeld e Webber. Alonso termina em quarto, apenas 1s1 à frente do 8º colocado, o brasileiro Rubens Barrichello.

Kimi Raikkonen

Textos e dados (exceção feita à classificação da corrida) por Rafael Ligeiro

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.