Já tenho meu favorito para vencer no Bahrain

Pilotos Fórmula 1 2022

Por: Adauto Silva

Não, eu não sou a mãe Diná e nem tenho bola de cristal, mas tenho condições de analisar o que aconteceu no Bahrain nesses três dias de pré-temporada que acabaram hoje.

Tenho essa condição porque “faço” pré-temporadas de Fórmula 1 ao vivo há 12 anos junto com a equipe do Autoracing, portanto aprendi a ler o que acontece nesses testes, que são de suma importância para as equipes entenderem seus carros antes da temporada regular. Aliás, esses testes são a única chance de as equipes fazerem isso desde que os testes privados foram banidos da F1 na primeira década deste novo século.

E agora com o F1TV mostrando as imagens ao vivo durante todo o teste, ficou ainda mais fácil entende-los.

A ordem dos tempos finais do teste não determina a ordem que veremos no grid nas primeiras corridas. Alguns tiram o pé descaradamente num setor da pista ou noutro, outros não fazem voltas de classificação com tanque vazio, alguns sequer fazem voltas voadoras com o composto mais rápido. Então tudo isso – e outras coisas – tem que ser levadas em consideração na hora de se analisar uma pré-temporada.

Existem também as equipes que conseguem melhorar muito seu carro do último teste para a primeira corrida, enquanto há outras que simplesmente não conseguem e o que veremos nas primeiras corridas é exatamente o que esse tipo de equipe fez na pré-temporada.

Portanto vou analisar aqui o que considerei mais relevante nos testes do Bahrain. A análise abaixo é baseada nisso e não tentando adivinhar o que as equipes podem ou não fazer em uma semana.

É importante notar que os carros estão praticamente 3 segundos mais lentos do que foram na pré-temporada no próprio Bahrain em 2021, portanto todos tem muito a melhorar ainda…

Vamos começar pelas quatro grandes na ordem que elas chegaram no campeonato do ano passado.

Mercedes

A Mercedes forçou a barra o tempo todo andando com o carro o mais baixo possível e isso é uma clara indicação que eles querem fazer de tudo para aproveitarem o efeito-solo em sua plenitude. O carro estava tão baixo na pista nesses três dias que batia no asfalto não somente nas retas em alta velocidade, mas em muitas curvas também. Por isso quicava tanto. E isso é um grande problema.

Seu revolucionário mini-sidepod tira arrasto do carro, o que é desejável, pois faz com que o carro ande ainda mais de reta. Mas, uma vez que o assoalho bate no asfalto a todo momento e por isso estola, essa velocidade “extra” conquistada pela quase ausência dos sidepods não pode ser usada, porque ela faz com que o carro quique demais. A maneira óbvia de acabar com esse quique é levantar um pouco o carro, assim como algumas outras equipes fizeram.

Mas os Prateados não querem fazer isso. Eles estão buscando uma maneira de parar com esse quique absurdo sem perder nada do que o efeito-solo pode proporcionar. Eles já conseguiram isso? Nesses três dias no Bahrain a resposta é não. Eles sequer aproveitaram a quase ausência dos sidepods para atingir grandes velocidades em reta. Na verdade, eles foram mais lentos em reta do que outros carros com UP Mercedes, inclusive.

Então, esse é um problema que eles precisam resolver até sábado que vem quando teremos a classificação para o GP do Bahrain.

Outro problema é que o carro sai de frente em algumas curvas. Vi Hamilton e Russell perderem o Apex de várias curvas muitas vezes. Eles viram o volante e o carro simplesmente segue reto mais alguns metros antes de entrar na curva. Vi Hamilton usar aquela técnica de frear violentamente no último instante para transferir peso para a dianteira de modo abrupto, o que ajuda muito a pregar um pouco a dianteira. Mas o efeito não foi tão bom quanto na Red Bull de Verstappen, que também fez isso principalmente na sexta-feira.

Trata-se de uma técnica eficaz, porém muito arriscada principalmente num Fórmula 1, pois você tem que virar o volante para dentro da curva no exato momento que o peso está todo transferido para a dianteira do carro. Nem um centésimo de segundo antes ou depois. Errou e o carro não fará a curva, você vai perder o Apex e ainda terá uma boa chance de rodar e até bater, caso não haja uma boa área de escape. E com essas suspensões mega-duras, essa técnica torna-se ainda mais difícil.

A outra técnica é frear um pouco antes, jogar a traseira do carro virando o volante bruscamente para dentro da curva e reacelerar antes. Alonso usa muito isso, mas os pneus dianteiros sofrem mais do que deviam. É uma questão de gosto. Pessoalmente prefiro essa técnica à primeira.

Pode ser que os Prateados já tenham um plano B para esses dois problemas, mas ele não foi usado nesses três dias no Bahrain e eles dependerão dos TLs 1, 2 e 3 para fazerem funcionar, senão a possibilidade de um P5 e P6 é bastante real domingo que vem na bandeira quadriculada.

Enfim, o Mercedes W13 parece ser um carro extremo. Se funcionar eles terão boas chances de deixar a concorrência realmente na poeira, porém caso não funcione, eles estarão em sérios apuros nas primeiras corridas.

Red Bull

Para mim o carro que mais evoluiu durante a pré-temporada. Começou cheio de problemas, quicando muito também e muito lento nas curvas de baixa, além de escapar de frente com grande facilidade na entrada de várias curvas. Mas o carro foi melhorando a cada dia. Na sexta-feira o carro quase não quicava mais nas retas e a tendência dianteira já estava melhor que na quinta-feira. Max já estava conseguindo fazer a maioria das curvas sem escapar tanto de frente – um mérito da mudança de tocada dele também -, mas estava claro que ainda havia trabalho a fazer.

Hoje, sábado, o carro nunca esteve tão bom. O quique nas retas foi praticamente eliminado e a tendência dianteira nas entradas de curvas muito minimizada. Max pode guiar com mais calma, mais suave, aquela iminência de perder a frente nas entradas de curva quase que sumiu. É claro que ainda há trabalho para melhorar o carro, mas os Touros saem dessa pré-temporada muito melhor que os Prateados. Eles terão menos trabalho e precisarão se arriscar muito menos que o pessoal da Mercedes durante essa semana. Para mim, assim como em 2021, Max é o meu favorito para vencer a primeira corrida de 2022. Inclusive já fiz minha aposta hoje mesmo.

Ferrari

Os Vermelhos têm um carro confiável, equilibrado em freadas e curvas e isso ficou demonstrado desde a quinta-feira, apesar de um pouco lentos nas curvas de baixa. Mas não muito mais que a Red Bull. O caso que é que não consegui ver grandes progressos da Scuderia nesses três dias no Bahrain. O carro ainda quica muito mais que o desejável nas retas e a Ferrari, além de ter que melhorar isso, terá que melhorar a velocidade nas curvas de média também, se quiser ganhar da Red Bull. Verstappen com C5 foi quase 7 décimos mais rápido que Leclerc (C4) em volta voadora e Perez quase 2 segundos melhor que Sainz em ritmo de corrida. É muita coisa para tirar em uma semana…

Em compensação, se os Vermelhos melhorarem um pouco, acertarem bem o carro e fizerem uma boa estratégia de corrida, eles têm condições de vencer os Prateados no próximo domingo. Pilotos para isso eles têm, vamos ver o se o gerenciamento do pitwall não vai pisar na bola…

McLaren

A McLaren, apesar de não ter apresentado o problema do quique nas retas, não parece ser um carro tão rápido quanto eles gostariam. É difícil identificar um problema específico deles. Hoje Norris treinou sozinho devido à COVID-19 de Ricciardo, portanto eles tiveram seu programa de testes prejudicado. Pelo o que eu vi ontem e principalmente hoje, Norris pode brigar com a Mercedes – caso os Prateados não progridam nessa semana – no GP do Bahrain.

Quem vai guiar o outro carro, caso Riccardo não se recupere a tempo de sua COVID-19, ainda é uma incógnita. A Renault ofereceu o Piastri. Se eu fosse o Zac Brown, pediria um “adendo” no contrato do australiano e topava essa parada.

O resto está meio embolado e é quase impossível determinar uma ordem entre Aston Martin, Alpine e AlphaTauri. Até a Alfa Romeo pode entrar nesse meio com o Bottas.

Adauto Silva
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