Interlagos, uma experiência de vida

Bruno Aleixo em Interlagos na Formula 1

Por: Bruno Aleixo

Pela primeira vez, desde 1972 a Fórmula 1 não virá ao Brasil. Aliás, não vai a nenhum país das Américas, por causa da pandemia da Covid-19. Algumas pessoas ficaram surpresas com o anúncio, mas certamente não os leitores do Autoracing e ouvintes do Loucos por Automobilismo, já que vínhamos falando disso aqui há meses. Aliás, fiquem atentos ao Podcast dessa semana, já que vamos falar bastante sobre o calendário de 2020, suas inclusões e exclusões. Não há a menor possibilidade de nenhum país americano sediar um evento do tamanho da Fórmula 1 no momento, infelizmente. Neste sentido, aliás, a decisão da Fórmula 1 foi um belo tapa no meio da cara daqueles que acham que o surto está controlado. Não está.

Mas não quero falar sobre isso, porque esse assunto aborrece demais. Vamos falar de Interlagos. Você se lembra qual foi a primeira vez que pisou no autódromo? Bom, pra quem é de São Paulo talvez essa estreia nem signifique tanto, mas para quem habitava plagas mais distantes, viajar muitos quilômetros com um grupo de malucos doidos por F1 era, de fato, uma grande aventura. Uma deliciosa aventura.

O ano era 2000. Recém chegado à faculdade de Jornalismo, com apenas 20 anos, eu achava que assistir a uma corrida de Fórmula 1 era coisa para milionários. Nem passava pela minha cabeça a possibilidade de cruzar os portões de Interlagos. Até que conheci o indigitado Fábio Campos que, com a simplicidade de quem descasca uma bala, me disse a frase “ué, basta comprar o ingresso, reservar um hotel e comprar uma passagem. Faço isso todo ano”. Não me pareceu muito seguro confiar naquele sujeito, mas vamos lá. Pacote fechado para a grande aventura: assistir ao vivo e in loco o GP do Brasil de Fórmula 1, do já distante ano de 2001.

A excursão era habitada por todo o tipo de doidos que vocês possam imaginar, mas todos com a mesma paixão: velocidade. E lá se foi o ônibus pelas curvas da Fernão Dias, viajando de madrugada sem que ninguém pregasse o olho. Ida é assim mesmo, ninguém dorme. Me lembro de cada instante da primeira vez. A sensação de chegar ao entorno de Interlagos, de passar pela revista do Setor G, de subir as escadas da arquibancada. O primeiro carro? A Minardi preta de Tarso Marques.

O desafio para o dia da corrida era chegar ao autódromo. Fábio Campos me garantiu que era necessário chegar à fila ainda de madrugada, o que duvidei. Mas a negação durou somente até o momento em que cruzamos o portão de saída ao final do treino e me deparei com o início da fila para corrida. Que coisa absurda, pensei. Mas vamos lá.

Chegamos ao autódromo por volta de uma da manhã, com a fila para o Setor G já se encontrando antes do Setor A. Isso depois de pegarmos um taxista muito doido, mas essa é uma história que vai ficar para outro dia. Portões abertos, fomos avançando até adentrarmos o recinto. Seriam horas sentado naquela arquibancada, mas eu não estava nem aí.

A corrida, bem, que corrida. Teve Montoya se jogando pra cima de Schumacher no S do Senna. Teve Barrichello acertando a traseira de Ralf Schumacher em frente à nossa arquibancada. E teve, claro, o barbeiro do Jos Verstappen acertando o Montoya na traseira e tirando dele uma vitória espetacular. Na volta para os boxes, o colombiano foi saudado pela arquibancada inteira, que se transformou num estádio de futebol. Por fim, Coulthard ainda fez a melhor ultrapassagem da sua carreira, driblando Schumacher na entrada do S do Senna (que dia para o alemão!) para vencer a corrida. Sim, na minha primeira vez em Interlagos, vi uma vitória de David Coulthard, vejam vocês.

Na volta para o ônibus, chuva, muita chuva na cabeça. Mas ninguém estava nem aí. Porque ir a Interlagos todo ano virou o grande evento da minha juventude e cada uma das viagens teve um momento especial, uma lembrança que vou levar para o resto da vida. E você? Conta aí nos comentários como foram suas experiências com o autódromo!

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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