Indy 500 e GP de Mônaco 2017, os antagonistas

segunda-feira, 29 de maio de 2017 às 15:50
Takuma Sato e Sebastian Vettel 2017

Takuma Sato e Sebastian Vettel 2017

Por Adauto Silva

Este final de semana foi um daqueles de luxo para os fãs da velocidade. Duas das corridas mais famosas do mundo – que fazem parte da Tríplice Coroa – foram disputadas. O GP de Mônaco de F1 e a Indy 500, dois eventos grandiosos, mas completamente antagônicos no aspecto técnico.

O GP de Mônaco é o mais lento do calendário da F1. Uma pista que apesar de desafiar muito os pilotos, quase não proporciona emoção a quem assiste, já que as ultrapassagens beiram o impossível. Definitivamente não é o GP de F1 preferido dos fãs, mas faz um bem danado para as finanças da F1, já que muitos negócios entre a categoria, as equipes e os patrocinadores são fechados no Principado.

Por outro lado, a Indy 500 é velocidade pura. A média da volta é de impressionantes 360 kph, os acidentes são espetaculares e ultrapassagem é o que não falta. E a edição deste ano foi uma das melhores dos últimos tempos! Lógico que a participação de Fernando Alonso foi um bônus, uma vez que o espanhol é um dos melhores pilotos do mundo e conseguiu ser liberado pela McLaren para não correr em Mônaco e poder participar pela primeira vez numa corrida-monstro no superoval mais famoso do mundo!

GP de Mônaco
A tranquila dobradinha da Ferrari em Mônaco só prova o que venho falando desde a pré-temporada. A Ferrari tem o melhor carro da F1 neste ano e Kimi Raikkonen não é mais piloto de ponta há tempos. Não venceu e nem ele tem explicação para isso. Numa pista que não é possível ultrapassar – ainda mais com os carros maiores deste novo regulamento – e sem quaisquer circunstâncias que pudessem atrapalhar, ele conseguiu perder a corrida de F1 mais fácil que existe largando da pole.

Se a Ferrari tiver um pingo de vergonha na cara, tem que avisar o Kimi que este é o último ano dele e ele vai ter que ajudar o Vettel a vencer o título. E Vettel vai precisar de ajuda, uma vez que vai começar a tomar punição de grid por troca de componentes do motor. A próxima troca de turbina no carro do alemão já vai valer uma punição. Por isso, o finlandês vai ter que conseguir enfiar seu carro entre Vettel e as Mercedes muitas vezes ainda nessa temporada, o que o ajudaria a sair da equipe pela porta da frente e sem perder os fãs que ainda lhe restam. Não é possível que uma equipe de ponta tenha pilotos com tamanha disparidade de desempenho.

Ah, mas ele fez a pole! Fez porque tem o melhor carro e porque Vettel errou na última tentativa no Q3. Um piloto de equipe de ponta tem que ser constante, tem que entregar corrida sim e na outra também. Não pode variar desse jeito a bordo de um carro tão equilibrado que finalmente Maranello conseguiu fazer depois de tantos anos!

Outra vez Hamilton e seu engenheiro não acharam o acerto de seu carro e o inglês se deu mal na classificação. Ela ia para o Q3 no sábado, mas pelo andar da carruagem seria na melhor das hipóteses o quarto no grid. Então, o que pode ter acontecido com ele tanto em Sochi quanto em Mônaco? Eu acho que ele está tentando mudar o acerto da equipe e não está conseguindo.

Mas como funciona hoje em dia o acerto de carro na F1? As equipes chegam para todos os GPs com um acerto básico praticamente 90% dele pronto para aquela pista. É essa a razão de os pilotos passarem tanto tempo no simulador antes de cada GP, justamente para acertar o carro. Mas quando chegam na pista, as condições de asfalto, temperatura, pressão atmosférica, pneus e etc. nunca são exatamente as mesmas. Especialmente num ano de estreia de regulamento novo, o acerto do nao passado não presta em nada para o acerto desse ano.

Então as equipes vão à pista no TL1 para verificarem o que precisa ser feito naqueles 10% restantes de acerto fino. É aí que entra o feeling do piloto com o entendimento que ele tem com seu engenheiro. No TL1 de Mônaco a Mercedes não foi mal, mas Vettel ficou menos de 2 décimos de segundo atrás. Então a equipe resolveu seguir um caminho diferente para o TL2 e foi um desastre, Hamilton em P8 e Bottas em P10, ambos mais de 1 segundo mais lentos que Vettel.

Isso mexeu com a cabeça de todo mundo dentro da Mercedes, mas pior ainda, fez com que a equipe perdesse o fio da meada perante a Ferrari, que avançou no acerto enquanto a Mercedes retrocedeu. No TL3 a Mercedes reverteu o caminho do acerto para aquele que tinha começado no TL1, mas Hamilton não gostou. Ficou ainda 0.8s atrás de Vettel e viu que com aquele acerto ele perderia a chance da pole e consequentemente da vitória, já que em Mônaco quem quer ganhar tem que fazer de tudo para largar na pole.

Aí ele tentou algo diferente com seu engenheiro e se deu mal. O carro piorou e a classificação foi aquele desastre que vimos.

Na corrida, uma das mais aborrecidas que já assisti em Mônaco, Vettel fez o que tinha que fazer como campeão que é. Tentou largar melhor que Kimi, mas não deu. Então ele esperou as paradas e quando Kimi parou ele fez duas vezes a melhor volta da corrida até aquele momento e voltou à frente. Mais ou menos o que Ricciardo fez com Verstappen e com Bottas. Quando eles pararam Ricciardo fez por três vezes seguidas a melhor volta da corrida e quando ele mesmo parou, voltou à frente de ambos. Hamilton conseguiu um P7 depois de largar em P13.

Agora a Ferrari lidera a Mercedes com 17 pontos de vantagem no Campeonato de Construtores e Vettel lidera Hamilton 25 pontos à frente do inglês no de pilotos.

A próxima corrida é no Canadá, uma das melhores pistas de Hamilton onde ele já venceu muitas vezes. Será que isso será o suficiente para bater Vettel lá? Difícil prever neste momento, mas a vantagem é da Ferrari.

Indy 500
Enquanto a F1 em Mônaco foi muito enfadonha, as 500 Milhas de Indianapolis foi sensacional desde a largada até a última volta! Scott Dixon, que é na minha opinião o melhor piloto da categoria, nasceu de novo, como disse o Giaffone na boa transmissão da Band com o ótimo narrador Teo José, que sabe narrar passando emoção na medida certa, tem ótima dicção, levanta a bola do comentarista e torce pelos brasileiros mantendo a compostura, sem exageros.

Mas voltando ao acidente de Dixon, me lembrou demais o de Greg Moore, que foi muitíssimo parecido, mas que infelizmente ceifou a vida do excelente piloto canadense no superoval de Fontana em 31 de outubro de 1999. A diferença foi que o carro de Moore aterrizou no muro bem em cima dele e não meio metro atrás como com Dixon. Lembro até hoje como aquele acidente me chocou muito e naquele mesmo momento chorei profundamente, pois sabia que o canadense estava morto, apesar das tentativas ainda ali no gramado de ressuscitá-lo.

A corrida foi pauleira desde o início, apesar de alguns pilotos como Helio, Alonso e outros terem feito largadas conservadoras, o que eu considero o ideal numa corrida de 500 milhas. Power fez uma super largada, ganhou inúmeras posições, mas as foi perdendo nas voltas seguintes, mostrando que não tinha ritmo para acompanhar os ponteiros.

Helio estava longe do pelotão da frente, mas aos poucos foi chegando até se posicionar entre os 10 primeiros, o que pra mim é o ideal nos primeiros 2/3 de corrida. E Alonso? O espanhol perdeu três posições na largada, mas assim como Helio, veio se recuperando até chegar a liderar a corrida por várias voltas e ficar sempre entre os cinco primeiros. Deu pra ver como Alonso é um piloto inteligente andando forte, mas sem dividir curvas e muito menos entrar no “corte” de ar dos pilotos da frente para não se arriscar a perder o carro na primeira metade da corrida.

Ele foi se acostumando, foi melhorando e estava na estratégia certa, naquela que é a melhor quando não acontece nada extraordinário que mude a sequência de paradas. Foi uma pena seu motor Honda quebrar (pela enésima vez contando na F1) e o deixar fora da corrida, onde ele certamente disputaria a vitória com pelo menos mais cinco pilotos nas vinte voltas finais.

O problema é que em corrida de 500 milhas a sorte nas bandeiras amarelas conta muito e como sabemos, sorte é que o espanhol não tem tido nos últimos anos. Enquanto isso Helio e Sato chegaram no pelotão da frente perto do final da corrida e achei que Helio era o mais rápido, mesmo com um pedaço da asa traseira faltando desde o acidente de Dixon. O brasileiro mostrou que sabe tudo de Indianapolis ao disputar e ganhar várias posições ultrapassando por fora na entrada das curvas, manobra arriscada que só os grandes pilotos de superovais sabem fazer com perfeição.

As últimas dez voltas foram de tirar o fôlego com Helio e Sato trocando a liderança e nos deixando completamente indecisos sobre quem venceria. Obviamente eu estava torcendo muito pelo Helio e achei que ele venceria na última vez que assumiu a ponta a quatro voltas do final. Mas Sato não desistiu e de alguma maneira conseguiu pegar o vácuo novamente de Helio para ultrapassá-lo e manter a ponta nas três voltas finais.

Não fiquei chateado. O japa é bota, é uma simpatia e já quase tinha vencido poucos anos atrás quando bateu na última ou penúltima volta, não tenho mais certeza! E entrou para a história como o primeiro japonês – o melhor que eu vi até hoje em categorias de ponta – a vencer a Indy 500. E ainda por cima com um motor também japonês.

Agora é torcer para que a Liberty Media pressione a FIA a não marcar mais corridas de F1 no mesmo dia de Indianapolis para que mais pilotos de F1 possam participar da Indy 500. É bom para a Indy, para a F1, para os pilotos e para os fãs. E se é bom para todo mundo, certamente será bom para os negócios das duas categorias.

Adauto Silva
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