Ídolos do Colunista #4: Roberto Moreno

segunda-feira, 15 de junho de 2020 às 16:36

Roberto Pupo Moreno – Andrea Moda – Monaco 92

Por: Bruno Aleixo

GP de Detroit, Fórmula Indy, 1996. Primeira temporada da Firestone na categoria, e a primeira corrida com chuva naquela temporada. Os pneus para pista molhada da montadora de Ohio não eram páreo para os da Goodyear, que estava na Fórmula Indy há muito mais tempo. Os carros com pneus Firestone eram quase 2 segundos mais lentos.

Roberto Pupo Moreno, que corria na Payton Coyne não teve dúvidas: pegou um canivete e começou a fazer mais sulcos em seus pneus, tentando aumentar a aderência do carro. Ao repórter Luiz Carlos Azenha, do SBT, Moreno explicou que os sulcos extras, além de drenar mais água, ainda aumentavam a vibração do pneu, gerando mais temperatura. Todos os pilotos copiaram e a diferença de tempos foi reduzida drasticamente.

O episódio é a cara de Moreno, o maior batalhador da história do automobilismo brasileiro. O cara que sempre transformou as poucas chances que teve em oportunidades de aprendizado para ele, para a equipe e para os colegas. Foi assim desde a sua estreia no Kart em 1974, quando conseguiu a grana necessária preparando motores para pilotos iniciantes.

Em 1982 chegou à Fórmula 1 como piloto de testes da Lotus e disputou o GP da Holanda daquele ano, substituindo Nigel Mansell. Depois, perambulou por times pequenos como AGS e Coloni, até que foi contratado pela Ferrari em 1988, para ajudar no desenvolvimento do câmbio semi-automático, com acionamento por borboletas atrás do volante. Esse mesmo que, até hoje, é usado em praticamente todas as categorias de automobilismo existentes, e está presente na maior parte dos carros de rua produzidos.

Em 1990, ganhou sua principal chance na F1: substituiu Alessandro Nanini na Benetton, quando o italiano sofreu um acidente aéreo e perdeu um braço. E, no GP do Japão daquele ano, produziu uma das cenas mais tocantes da categoria, ao chegar em segundo lugar, atrás do companheiro de equipe e amigo Nelson Piquet. A imagem dos dois se abraçando após a corrida é o retrato de um tempo em que correr na Fórmula 1 era o resultado de uma carreira sólida e consistente. Ninguém chegava lá com apenas 17 anos, amparado por um programa de jovens talentos que, hoje, parece muito mais um jogo de cartas marcadas.

Em 1991, Moreno foi efetivado na equipe, mas o desempenho não foi o que Flávio Briatore esperava. Mesmo assim, Moreno chegou a andar bem em provas como Silverstone e Ímola (na estreia do novo carro da Benetton, com bico em formato de tubarão). Conseguiu um bom quarto lugar na Bélgica. Mas a prova de Spa também ficaria marcada pela estreia de Michael Schumacher na Jordan e o alemão, de cara, chamou a atenção de Briatore. O italiano levou Schumi para a equipe e dispensou Moreno, que foi buscar abrigo na Jordan e depois na Minardi. No ano seguinte, Moreno foi contratado pela obscura equipe Andrea Moda, e seu lindo carro preto, que mal saía do lugar. O brasileiro conseguiu uma façanha que deixou todos no grid estarrecidos: classificou-se para o GP de Mônaco, na única oportunidade que a equipe teve de disputar um GP oficial.

Moreno voltaria à F1 em 1995 para uma última temporada, desta vez com a incumbência de liderar o projeto da Forti Corse, que chegava à Fórmula 1, com dignidade, mas sem sucesso. Participou de todas as 17 etapas daquela temporada e se despediu da F1 sem jamais receber o tratamento merecido por parte das equipes.

Nos anos seguintes correu na Indy, revezando-se entre boas e más equipes. Conseguiu boas performances na nanica Payton Coyne e na média PacWest, substituindo o acidentado Mark Blundell. Infelizmente, nas três oportunidades que teve para substituir o também acidentado Christian Fittipaldi, na gigante Newman-Haas, não conseguiu aproveitar a chance, tendo como destaque uma classificação em segundo no lugar no grid para o GP do Brasil, de 1997. Em 2000, Moreno foi para a Patrick Racing, na qual conseguiu uma redentora vitória, em Cleveland. No ano seguinte, seguiu no time, tendo ao seu lado o ex-campeão Jimmy Vasser. Moreno, inclusive, superou o americano em muitas etapas.

Moreno ainda fez as temporadas de 2002 e 2003 na Indy, voltando à categoria ocasionalmente, como substituto de pilotos titulares (situação que lhe rendeu o apelido de SuperSub).

Atualmente, Moreno dá palestras sobre automobilismo e orienta jovens pilotos na carreira. Um batalhador que sempre conseguiu tudo com muito suor e que merecia melhores resultados. Mas só a sua colaboração para o automobilismo brasileiro já valeu por tudo.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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