Hora de parar?

segunda-feira, 14 de junho de 2021 às 17:24

Andreas Nikolaus Lauda

Por: Bruno Aleixo – Conforme noticiado aqui no Autoracing, Lewis Hamilton disse ao jornal Corriere della Sera que não se vê correndo após os 40 anos de idade. Ele não especificou se seria correndo de alguma, coisa disse apenas “correndo”. Me dou ao direito de inferir que o heptacampeão está, de fato, falando em aposentadoria das pistas (embora meu coração deseje muito que ele se anime a fazer uma temporada na Indy, o que seria bombástico).

O momento de parada de um grande esportista é sempre algo que desperta interesse. Sobretudo porque atletas, em geral, não sabem muito bem a hora certa de dizer chega. E, muitas vezes, quando dizem, acabam voltando depois, produzindo embaraços que, se não chegam a manchar carreiras vitoriosas, colocam cabeças alheias a pensar sobre a real qualidade e talento dos ditos cujos.

O automobilismo é recheado de casos assim, tanto para o bem quanto para o mal. Niki Lauda, por exemplo. Deixou a F1 em 1979, bicampeão, no auge da carreira. Foi cuidar de seus negócios. Com muita conversa e muitos dólares na mesa, os dirigentes da McLaren o convenceram a voltar ao batente em 1982. Era outro piloto, com outro estilo, mas a mesma eficiência. Com sabedoria, bateu o jovem e veloz Alain Prost em 1984 para abocanhar seu terceiro e último título na carreira. Podia ter parado ali, mas resolveu fazer mais um ano em 1985 e aí a idade pesou. Fechou sua carreira com apenas uma vitória ao longo de todo o ano, vendo o companheiro de equipe se sagrar campeão.

Michael Schumacher vence o GP da Argentina de 1998

Mas negativo, mesmo, foi o fim de carreira de Michael Schumacher. O heptacampeão deixou a F1 no auge, em 2006, depois de uma intensa batalha contra Fernando Alonso. Schumacher perdeu (embora 2006 tenha sido, na minha humilde visão, seu segundo melhor ano na F1, só perdendo para 1995), entendeu que era a hora de passar o bastão e foi curtir a aposentadoria. Não se afastou totalmente da F1, chegou a fazer testes em 2009, para substituir Felipe Massa e se animou a voltar por intermédio da Mercedes.

Parecia uma combinação perfeita: a equipe alemã havia comprado a Brawn, campeã de 2009 que, só não foi mais dominadora porque não teve dinheiro para desenvolver o carro. Com a Mercedes, ia chover grana. Cheguei a pensar que Schumacher conquistaria o oitavo título com o pé nas costas. Que nada! Em três anos, um único e miserável pódio, inúmeros erros e acidentes bizarros e uma derrota acachapante para o companheiro Nico Rosberg. Michael podia ter passado sem essa.

Nigel Mansell

Mas nada jamais poderá se assemelhar ao final de carreira de Nigel Mansell. Depois de conquistar o título de 1992 o Leão não quis saber de dividir a equipe Williams com Alain Prost e se mandou para a Indy. Na América, Nigel se achou, adaptou-se como uma flecha ao Lola-Ford da equipe Newman-Haas, venceu 5 corridas no ano e fechou a temporada como campeão. No ano seguinte, a forma ainda estava lá, mas a Penske tinha um foguete nas mãos e Mansell não foi capaz de bater o trio Al Unser Jr., Emerson Fittipaldi e Paul Tracy.

Enquanto isso, a F1 se ressentia de um grande nome, após a morte de Ayrton Senna, e Mansell foi recrutado para fazer quatro provas pela Williams. Nunca uma câmera onboard foi tão nítida para mostrar a falta de intimidade de um piloto, que era puro entusiasmo, com um carro que ele já não reconhecia mais. Seu conhecido jeito de atacar as curvas desapareceu por completo e o que vimos foi um Mansell sofrendo nas mãos da garotada da época (Barrichello, Frentzen, Hakkinen, Schumacher…). Eventualmente, ele venceu o GP da Austrália de 1994, depois de herdar a ponta em um vacilo de Gerhard Berger (outro que foi loooooonge na carreira), mas estava claro para todo mundo que não dava mais.

Menos pra ele: Mansell acertou um contrato para correr na McLaren no ano seguinte, primeiro ano do time com motor Mercedes. Mas ele não cabia no carro, disputou apenas duas corridas, errou de todas as maneiras possíveis e foi substituído pelo possante Mark Blundell. Pensaram que acabou? Não! Nigel Mansell ainda fez testes com a Jordan, ao final de 1996, tentando um contratinho para correr em 1997. Eddie Jordan teve juízo, e não quis arriscar.

Este ano, a F1 ainda está mostrando a situação de Fernando Alonso, prestes a completar 40 primaveras, dois anos afastado da categoria. Embora mostre brilharecos aqui e ali, há um certo ar de nebulosidade quanto ao que o espanhol poderia, de fato, estar fazendo com este carro da Alpine. O tempo dirá, mas para mim já é possível suspeitar que se trata de um caso de prolongamento indevido de carreira.

Lewis Hamilton

São exemplos que podem servir para Hamilton tomar a decisão. O inglês tem 36 anos e parece estar no auge. Infelizmente o tempo é implacável e não demorará muito para que ele comece a cobrar do heptacampeão.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP
Leia e comente outras colunas do Bruno Aleixo

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.