Hamilton operou um milagre? Nem tanto, mestre, nem tanto…

segunda-feira, 3 de agosto de 2020 às 13:46

Lewis Hamilton ganha capacete de Ayrton Senna, Canadá 2017

Por: Bruno Aleixo

Tão logo foi agitada a bandeira quadriculada em Silverstone, no último domingo, as redes sociais foram invadidas por uma saudável e prazerosa batalha entre fãs de Senna e fãs de Hamilton (modo ironia no máximo…), cada grupo tentando defender o que teria sido mais impressionante: a vitória de Hamilton com um pneu furado em casa, ou o triunfo de Ayrton em Interlagos/1991, levando o carro até o final com o câmbio preso à sexta marcha. Foi uma delícia de ver.

Nem é preciso dizer que não há qualquer traço de comparação entre as duas situações. Aliás, é difícil encontrar situações comparáveis numa Fórmula 1 que muda tanto a cada ano que passa, mas ainda assim elas existem. Porém, não é o caso. É óbvio que Senna enfrentou muito mais dificuldades do que Hamilton na sua caminhada pela vitória naquele já distante GP do Brasil. E, depois de revermos a prova com a narração original da TV inglesa nesse ano de reprises pandêmicas, isso ficou ainda mais claro. O comentarista James Hunt cravou, logo no início da prova, que algo não ia bem na McLaren do brasileiro.

Que me desculpem aqueles que gostam da supervalorização de um em detrimento de outro, mas Hamilton não fez nada que outro piloto não fizesse. Levar um carro com pneu furado até a vitória em nada se difere de leva-lo aos boxes para trocar, que foi exatamente o que fizeram Valtteri Bottas e Carlos Sainz, por exemplo. E isso não desvaloriza em nada, nem diminui o talento de Hamilton que, sim, depois de ontem, já colocou uma das mãos na taça do heptacampeonato. Como eu já disse aqui, não há ninguém no grid da F1 que se aproxime do talento do inglês atualmente o que, somado ao fato de estar montado em um carro que é, de longe, o melhor do grid, resulta em passeios tranquilos a cada domingo.

E, como já foi amplamente debatido, isso é algo que acaba mascarando o real talento do piloto. Aliás, no lugar de Hamilton, eu bateria na porta da Ferrari para encerrar a carreira por lá. Seria uma ótima chance de mostrar, para quem ainda duvida, que não tem pra ninguém mesmo.

Esse GP da Inglaterra permite que se faça um ótimo paralelo entre os dois pilotos da Mercedes. Depois do pneu furado, Bottas levou o carro até os boxes (sim, vejam só) e calçou macios para sair voando nas duas últimas voltas. Encostou em Vettel, com pneus mais duros e muito gastos (provavelmente a ponto de estourar) e teve duas curvas disponíveis para fazer a ultrapassagem. E não fez. Ora, alguém duvida que Hamilton passaria até por cima do alemão na mesma situação? Eu não. Mas Bottas não passou. Foi apenas um pontinho e não vai fazer qualquer diferença no campeonato, mas lembrem-se que não analisamos pontuação e sim performance. Valtteri Bottas é rápido, especialmente no treino. Mas na hora em que precisa, tem menos coelhos para tirar da cartola.

São coelhos que gente como Hamilton, Verstappen, Leclerc (espetacular com a Ferrari) e até mesmo Lando Norris têm se mostrado capazes de tirar. E é isso que separa os bons pilotos (na verdade, todos ali são bons) daqueles diferenciados.

Portanto, fãs de Hamilton, relaxem. Chegar com três pneus ao final do GP da Inglaterra não faz dele nenhum gênio. Foi só uma situação bacana, que deu um pouco de emoção a uma corrida chatíssima. Existem muitos motivos para considerar Hamilton o maior piloto da história da F1.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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