Gerenciamento de Risco

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 às 19:34
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Ayrton Senna na Williams (clique na imagem para ampliá-la)

Por: Ricardo Viana da Silva

Santos Dumont aceitou os riscos de voar com o 14 bis, desde então o homem já saltou de para quedas, pisou na lua, voou de asa delta, parapente e wingsuit. Diferentes pessoas aceitam diferentes níveis de risco. Cada pessoa possui uma diferente zona de conforto quando se trata de assumir riscos. Será que o Santos Dumont aceitaria os riscos de voar de wingsuit?

Eu aceito os riscos de dirigir acima de 120km/h em estradas, mas antes de entrar na pista de um autódromo eu procuro identificar pontos críticos, como curvas cegas, muro de proteção, etc. Porque na verdade para se andar no limite é necessário saber o que é possivel e o que não é possível. Afinal não é possível fazer a La Source com a mesma velocidade que se faz a Eau Rouge. Por isso que durante um final de semana é possível se ver pilotos saindo da pista nos treinos para andar no limite na corrida. Eles testam os limites. Ultrapassar os limites significa se expor ao risco de um evento indesejado.

O Ayrton Senna se tornou o recordista de poles porque numa volta ele assumia os riscos que não podia assumir durante uma corrida inteira. Pois os riscos de um acidente numa corrida em ritmo de treino eram muito maiores do que os riscos de uma flying lap. Já o Prost conseguia mais voltas mais rápidas em corrida do que o Ayrton. A técnica do Prost possibilitava ele manter o controle no limite do carro em ritmo de corrida.

Ganha a corrida aquele que percorre uma distancia no menor tempo possível, ou seja o mais rápido. No que diz respeito a carros e pilotos, rapidez é inversamente proporcional a margem de segurança, ou seja, quanto menor a margem de segurança, maior a rapidez.

Gerenciamento de Risco começou a ser estudado após a segunda guerra mundial e nos dias de hoje pode ser aplicado a questões financeiras, ambientais, de segurança etc.

Para haver risco é necessário haver um perigo, que pode resultar num acidente (evento) com suas devidas consequências. Gerenciamento de risco trata de prevenção contra os perigos que podem causar um evento. Se o risco não pode ser evitado através da prevenção ou eliminação do perigo então o gerenciamento busca também diminuir as consequências do acidente.

Vamos começar juntos um exercício de gerenciamento de risco.

Quais as fontes de perigo numa pista de corrida? Velocidade, falta de visibilidade, falta de drenagem, etc.

O que pode acontecer? Batida entre competidores, batida de competidor contra barreira de proteção, batida de competidor contra carro de apoio, atropelamento de pessoal de apoio.

Quais as possíveis consequências? Danos financeiros, atraso de corrida, danos físicos graves, morte de piloto, morte de piloto e pessoal de apoio.

Agora eu vou identificar um perigo, uma medida para ajudar a evitar um acidente, um acidente, uma consequência e uma medida para diminuir as consequências do acidente.

Velocidade, um carro pode chegar acima da velocidade na entrada de uma curva. Uma medida para evitar que isto aconteça é colocar as distancias até a entrada da curva, conforme pode ser visto em autódromos. Exemplo de acidente a capotagem do Gugelmim na largada do GP da França em Paul Ricard. Uma capotagem pode destruir o santo antonino do carro (dano financeiro) expondo um piloto a uma lesão na coluna. Exemplo: Streiff em Jacarepaguá. Para diminuir as consequências do acidente é preciso pessoal competente para atendimento no local do acidente, infraestrutura hospitalar e de remoção do paciente.

Para avaliação do risco final é necessário saber a frequência e qual a consequência desta evento.

Frequência: Com que frequência um santo antonino se parte numa capotagem?

Consequência: Um piloto pode morrer como resultado da quebra do santo antonino? Integridade do chassis pode ser afetada?

Sabendo sobre frequência e consequências de um determinado tipo da acidente, alguém vai autorizar ou não a realização de uma atividade, assumindo a responsabilidade pelos riscos existentes.

No caso do Jules Bianchi:
Perigos: Visibilidade (spray e luminosidade) e Drenagem ineficiente.

Medida de Segurança: Safety Car ate que o spray seja aceitável.

Medida de Segurança: Luminosidade, fixar horário de termino da corrida por falta de luminosidade devido ao por do sol.

Medida de Segurança: Retirada de água da pista, em caso de drenagem insuficiente, usar Safety Car e carro de apoio para secagem ou retirada de água da pista.

Possíveis Acidentes: Entre competidores, competidor e veiculo de apoio, competidor e pessoal de apoio, competidor e barreira de proteção.

Medida Reparadoras: Bandeiras amarelas, bandeira vermelha, safety car, transporte medico, veículos e pessoal de apoio.

Consequências: Danos financeiros para equipe, danos financeiros ao circuito, atraso da corrida, danos físicos, morte.

No final vai ficar sempre a pergunta, porque não entrou o safety car antes de entrar o veiculo de apoio.

A saída do Schumacher na curva do Sol em 2003 em Interlagos mostrou que era possível um Formula 1 bater num veiculo de apoio.

Este risco não foi bem gerenciado no GP do Japão de 2014

Ricardo Viana da Silva
Houston, Texas – EUA

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