Fernando Alonso Samurai? Eis a questão!

terça-feira, 29 de setembro de 2015 às 18:40
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Fernando Alonso - Samurai (ilustração Antena3)

Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

Dom Fernando das Astúrias, El Nano, Ferdi, Magic Alonso, ou simplesmente Fernando Alonso Díaz. Adjetivos faltam para mensurar este tão completo piloto e complexo ser; seja aclamando ou depreciando, a saber: teflonso (origem da palavra teflon: alguém acusado de escândalos), choronso, dick vigarista, dentre outros.

Torcedor, movido pela paixão, inúmeras vezes e com justificativas plausíveis observa o seu ídolo, esportista, de maneira embaçada. O que dificulta (em alguns casos) por consequência, razoável e saudável debate com os fãs da Fórmula 1.

Não é ignoto que Fernando Alonso é dos melhores e mais completos pilotos da F1 atualmente, e talvez um dos maiores na história. Todavia, essa lista é pessoal e cada qual tem as suas convicções para enumerar a ordem. Logo, o escopo do presente artigo não é compará-lo com Senna, Fangio, Schumacher, Hamilton, Vettel, Prost…

Mas tentar compreender como o piloto do mais alto nível pode se perder no decorrer de sua brilhante (ou não?) trajetória, não é fácil. No tocante a figura do esportista, ele pode e deve ser diferenciado, até porque ninguém compete para ser derrotado; todavia, quando está em equipe, perceptível é que todos estão em busca do mesmo propósito: vitórias, êxitos e congratulações.

Deste modo, o êxito não é individual, mas coletivo; E não o eu ganho e vocês perdem. A sinergia é fundamental em todo e qualquer ambiente de trabalho. Todos são os autores principais. Evidente que o líder em destaque terá a função de conduzir o resultado de tamanho esforço e dedicação de um grupo, e talvez isso foi e é um dos problemas do “Príncipe das Astúrias”: o centro das atenções.

Felizmente (02 títulos mundiais) ou infelizmente (caráter e maracutaias), um dos formadores e ajudantes para Alonso ingressar na “categoria nº 1 do planeta”, foi o dono da boate Billionaire e controverso Flávio Briatore. Não posso afirmar com convicção, até porque desconheço Luis Garcia Abad, mas a ausência de alguém com melhores instruções, que pudesse impor limites ao outrora jovem piloto, prejudicou a sequência de suas inúmeras decisões.

Gênio difícil, temperamento forte, não sou eu que estou afirmando… É só pesquisar em jornais, revistas e internet as declarações de Lauda, Massa, Colajanni, Symonds… Essa obsessão desenfreada em querer ser o melhor, e deixar de apreciar o esporte de forma mais zen, contribuiu de maneira significativa para a derrocada, até então, de sua carreira.

Diante disso, permaneço surpreso que depois de 2012, Fernando Alonso ainda use o samurai como personagem da cultura japonesa a seguir. Lembro-me bem na metade daquele ano, quando ainda líder do mundial, mencionou nas redes sociais que “o guerreiro não fala nem brincando, palavras que demonstrem fraqueza no animo. O que há de mais profundo no coração é descoberto nas coisas mais insignificantes.” Talvez esse período tenha sido “ponto fora da curva”, o último suspiro.

Forçoso é perceber, inevitavelmente que o ser/piloto do carro nº14, dentre as funções ao qual é incumbida, segundo a filosofia dos samurais, não a cumpre em sua totalidade com a maestria ao qual propaga, isto é: lealdade, empenho e disciplina.

Tenho para mim que Alonso, como qualquer outro cidadão, possui o discernimento necessário (ou não?) para ser o dono das suas próprias convicções e atitudes. E não a razão! Contudo, deve-se demonstrar aos acompanhantes da F1 e fãs, a certeza que aquilo é o melhor, e o simples fato de mudar fará a diferença logo ali. Aconteça o que acontecer. E não titubear, a posteriori. Ou alguém aqui não recorda que o melhor está por chegar?

Imperioso constatar ainda a dicotomia, incerteza em suas declarações. Antes interpretadas de modo cogente (para alguns), findou-se ao ostracismo, ao qual dificilmente acredita-se mais nelas. Recordam que iria encerrar a carreira na Ferrari? Agora na Mclaren? Ou que confia bastante no projeto do team? Acredita mesmo?

É muito fácil julgar agora, na reta final do campeonato e observar a Ferrari com 03 (três) vitórias, Vettel 10 (dez) pódios e o melhor resultado de Alonso, 5º (quinto) lugar circunstancial. Todavia, Fernando no momento que decidiu sair da Scuderia, calculou e assumiu o risco. Portanto, falta de opção não foi. Agora, resta muito trabalho e lavoro. O legítimo samurai agrega, possui o autocontrole e coragem na batalha.

O Bushido para os bons Samurais era o código de honra não escrito, ao qual deveriam respeitar em sua estrita literalidade. Isto é, não adiantava ser apenas valente; além de cumprir o regramento, o Samurai deveria ser mais do que sincero, humilde e leal.

Tecendo comentários sucintos acerca da crença na equipe, (o motor de GP2, casa da Honda, terra dos samurais, todo o contexto em volta) a atitude no mínimo imprudente de FA, tem culpa compartilhada. A Dona FIA/FOM que selecionam os áudios, deveriam ter sopesado na balança aquilo que deveria ir ao ar, preservando a montadora de mais um vexame, ainda mais no Japão. Não eximo Alonso da responsabilidade (possui a astúcia do áudio livre), todavia…

Claro está portanto que o temperamento, talvez ausência de humildade em reconhecer que o outro competidor está em melhor forma e é tão capaz quanto, o trabalho em equipe desagregador e o destaque exacerbado, foram os predicados determinantes para a derrocada/estagnada na sua carreira que aparentava conseguir atingir o topo do Monte Fuji.

Recordo que em 2006, pouco após a conquista do bicampeonato e em mudança para a Mclaren, o próprio declarou aos veículos de comunicação que possível TRI faria acelerar o processo da aposentadoria no esporte. Hoje, quase 10 (dez) anos depois, observamos Alonso mais maduro 34 (trinta e quatro); com os mesmos 02 (dois) títulos mundiais; 32 (trinta e duas vitórias), a última, pasmem, no GP da Espanha em 2013; 22 (vinte e duas) pole positions, a última no GP da Alemanha em 2012 (na chuva), porque no seco foi em 2010 no GP de Cingapura; 21 (vinte e uma) voltas mais rápidas, a última no GP de Abu Dhabi em 2013 e 97 (noventa e sete) pódios, o último no Grand Prix da Hungria 2014.

Números para ninguém colocar defeito, entretanto por tratar-se justamente de Fernando Alonso… considerado por muitos o mais completo, e o melhor piloto que já conheceu, segundo o ex-presidente e multicampeão pela “Cavallino Rampante” Luca Cordero di Montezemolo; fica a sensação que faltou algo a mais, na dimensão do seu talento. Porém…

Em suma, há de se perceber que elencar fatores que contribuíram para o calvário na carreira do #14 não é simples; todavia levo comigo a certeza que talento por si só não basta, é necessário sincronia com o grupo, e o espanhol pela forma explosiva de ser, não possui o completo espírito do bom samurai, mas de algo obscuro, misterioso, difícil de compreender, tal como é um verdadeiro enigma.

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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