Falta um “Q” de Nascar na Formula 1

terça-feira, 22 de setembro de 2015 às 13:28

Bernie Ecclestone e Jean Todt

Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

Não é ignoto que a Fórmula 1 ao longo dos anos, tornou-se um esporte para a elite. Costumeiramente ouvíamos impropérios que os fãs a serem perquiridos possuíam mais de 40 (quarenta), 50 (cinquenta) ou 60 (sessenta) anos, e por consequência, não haveria a real necessidade de uma exploração incessante nas mídias sociais; bem como os jovens torcedores não teriam condições econômicas de comprar um Rolex, ou vestir-se Hugo Boss…

Essa visão arcaica, retrógrada e provinciana em pleno século XXI, no auge da era da informação e avanço científico tecnológico, corroborou em parte pelas perdas significativas na audiência em todos os continentes, e asseverou que o comando da categoria permanece ainda “…deitado eternamente em berço esplendido…”

Nesta oportunidade, forçoso é perceber que embora a categoria seja considerada em sua maioria, como a máxima do automobilismo mundial, devem-se levar em conta que o público é o “carro chefe”. E aos poucos, ainda que a distância (live timing agora pago!), os organizadores e chefes de equipe estão considerando o nosso peso, a nossa real importância. Será?

Talvez não tenhamos dinheiro hoje para comprar um Hublot, ou usar um óculos da Oakley, todavia por sermos, de apreciador a amante deste esporte, sem querer ser pretensioso, possuímos a visão sistêmica de como podemos ajudar a aperfeiçoar o esporte que anda decadente. Não direciono sobre a tecnologia em específico, mas na simplificação das regras, maior responsabilidade do piloto no carro, menos auxílios aerodinâmicos, maior competitividade, distribuição das cotas justas e menor politicagem.

Interessante que a Nascar nos Estados Unidos da América, ao contrário do coercitivo glamour propagado pela F1, era criticada e conhecida justamente por ser o inverso, o esporte dos caipiras, do terrão… E mesmo que hoje ainda fosse por completo, não ousaria em afirmar que o simples faz a diferença, e o glamour só faz atolar o desenvolvimento do esporte.

No tocante a pesquisa encomendada pela GPDA e referendada pelo grupo de estratégia, que de estratégia só no nome, porque é incrível a ausência de planejamento, direção e eficiência… prefiro abster-me, ainda, para opinar com contundência, uma vez que a FOTA possuía excelentes planos, e pelo sempre egocentrismo das equipes maiores, levou ao devido fim que mereceu.

Pilotos, atletas e fãs, tudo a ver. Eles, por consequência, devem ditar o ritmo do esporte… E não a autocracia de um ser considerado supremo. O Chase, sistema de playoffs da Nascar, é um exemplo que a vontade e interação com os fãs, prevalece acima de tudo. Embora não ache o sistema atual justo, preferindo até 2013… Todavia justiça e esporte não estão em conluio, é a bem da verdade.

Ao passo que os preços astronômicos nos ingressos da F1 afugentam cada vez mais espectadores, sem propiciar alguma novidade de aproximação com o público; a Nascar por outro lado, pratica preços justos, inclusive facilitando o contato dos fãs com os pilotos, e seus respectivos veículos de competição. Ir ao autódromo sem estar no paddock, para o verdadeiro amante da velocidade que não possui condições financeiras extraordinárias, é uma mista sensação de frustração por não ver de muito perto as máquinas e os mecânicos laborando; por outro lado, de alegria pela atmosfera contagiante da gasolina/público.

A tecnologia na F1 é ultra relevante na incorporação aos carros de passeio e afins… Isso é unânime; todavia precisamos sentir novamente os pilotos fazerem a diferença no braço (vide Alonso 2012), os nossos heróis brigando com a máquina. Infelizmente não é o que acontece. Não adianta colocar números padronizados #44 #14 #5 e bem escondidos por sinal (além da parca quantidade de produtos relacionadas), se o que presenciamos é a máquina prevalecendo sobre o atleta.

Não sou contra domínio de uma escuderia, muito embora confesse não ser o ideal, contudo, se o trabalho atinge a perfeição, e é de competência única, devemos congratular. O erro não está no domínio, mas de quem faz as regras, de quem não padroniza algumas partes do bólido. Ou estou equivocado Dona FIA, Jean Todt? É só observarmos as especificações da Nascar quanto ao spoiler traseiro em 06 (seis) polegadas, aerodinâmica, chassi e os motores (Chevy, Toyota e Ford) de 725 cavalos…

Tecendo comentários acerca da redução de custos, quanto ao teto orçamentário, nunca acreditei nesta possibilidade na Fórmula 1, uma vez que as grandes equipes sempre encontram mecanismos para burlarem a norma. Talvez a saída fosse a construção base (monocoque) do chassi e diversos penduricalhos aerodinâmicos, assim como as asas e alguns sistemas eletrônicos padronizados; ausência do túnel de vento e o restante, motor e afins com as equipes.

Em consequência, as cotas diferenciadas, exorbitantes e desarrazoáveis entre as equipes na Fórmula 1 corroboram que somente os mais fortes tem espaço e vez, e as “pequenas nanicas” meramente insignificantes, servem apenas para compor e ser um número no grid. Por que não adotar sistema semelhante ao da Premier League (50% – base, 25 % – performance e 25% – audiência) este último percentual, direcionado as equipes históricas?

Enquanto anualmente para competir bem na Nascar, o orçamento gira em aproximadamente U$$ (20 milhões), na F1 US$ (250/300 milhões) é a quantia necessária para fazer um campeonato entre razoável e excelente. Desta feita, não tenho como escopo comparar a Nascar e F1 como esporte, até porque uma advém de monopostos e a outra de stock cars, com propósitos distintos; mas como modelo de gestão, show business, uma vez que a essência (automobilismo) deveria/poderia ser semelhante. Não é demérito copiar aquilo que da certo. Desonra é permanecer em letargia sem atentar para o novo.

Por fim, essa forma politicamente correta de ser da F1 é o fim. Impedir um piloto #5 (Seb) de levar a bandeira da sua equipe ao pódio para comemorar uma vitória acachapante de ponta a ponta depois de anos é algo abominável. É por essas e outras, por atentar para regras bisonhas (punição pelas trocas de motores, pressão de pneus e infindáveis outras) e deixar o que de fato importa e mais importante de lado, que a F1 afasta-se lentamente dos seus verdadeiros fãs.

Destarte, tenho para mim que a união faz a diferença, e se quisermos ter sucesso, o coletivo é preponderante sobre o individual. Enquanto a F1 permanecer nessa incessante e entediante luta de poder, cada qual vislumbrando o melhor para a sua equipe, sem atentar para “o que é melhor para o esporte e os fãs?”, a decadência não será apenas o início do fim, mas o verdadeiro fim.

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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