F1 – Vitória tranquila, reação exagerada

quarta-feira, 16 de maio de 2018 às 19:14

GP da Espanha 2018

Por: Adauto Silva

A vitória tranquila de Lewis Hamilton no GP da Espanha no último domingo provocou uma reação bastante exagerada – eu diria até histérica – de muitos fãs mundo afora. Vi muita gente dizendo que o campeonato já acabou, que a Mercedes tem agora um carro imbatível e etc, etc, etc.

A vitória realmente foi tranquila, mas temos que entender como e porquê ela aconteceu. E não, a Mercedes não tem um carro imbatível. Está longe disso e provavelmente será batida na próxima corrida.

Não houve apenas um fator ou dois que levaram Hamilton a uma vitória que muita gente considerou acachapante. Foram vários e a soma deles todos – somadas às circunstâncias dessa corrida em especial – que levaram a esse resultado.

Como eu já havia escrito na última coluna, a Mercedes correu um risco e liberou mais potência do motor. Não, não teve nenhuma atualização de motor, apenas usaram o mapa mais agressivo que eles tem na classificação e por mais tempo na corrida. Além disso, a suspensão também recebeu algumas modificações, que eles ainda não tem certeza o quanto essas modificações melhoraram a performance da suspensão.

Por que? Várias razões. A primeira delas é que os pneus para essa corrida tinham uma construção diferente, portanto o carro precisava de um acerto de suspensão diferente, já que na F1 os pneus fazem parte importante da suspensão. Os pneus usados em Barcelona tiveram uma banda de rodagem 0,4 milímetros mais fina do que antes para evitar o superaquecimento, o surgimento de bolhas e a subsequente explosão, ou seja, eram próprios para pistas onde os pneus são energizados ao extremo.

Que pistas são essas? São aquelas com muitas curvas de alta de raio longo. Silverstone e Paul Ricard também são assim e esse tipo de pneu será usando novamente nessas duas pistas. Trata-se de uma medida de segurança, uma vez que o desempenho não muda, desde que o a equipe consiga um acerto ideal para um pneu cuja banda de rodagem é 0,4 milímetros mais fina.

A outra razão pela qual a Mercedes não tem certeza se as modificações na suspensão deram o efeito esperado é Lewis Hamilton. Ué, como assim?

Hamilton vinha usando um acerto de carro que ele não gostava, “mais conservador” digamos assim. Tudo começou na Austrália, quando Hamilton dominou, mas seus pneus ficaram em frangalhos, muito perto de explodirem, de acordo com o engenheiro da Pirelli alocado na equipe Mercedes. Para quem não sabe, a Pirelli mantém um engenheiro seu em todas as equipes. Esses caras assinam um compromisso de confidencialidade e cada um deles trabalha para a Pirelli dentro de cada equipe.

Pois bem, depois da Austrália a Mercedes passou a adotar um acerto de carro – principalmente de suspensão – menos agressivo. É um acerto que desgasta menos os pneus, mas deixa o carro mais lento. Hamilton não gostou, mas “aceitou”, uma vez que ele é funcionário da equipe e certamente também ficou preocupado com a sua própria segurança.

O problema é que no Bahrain o desempenho do carro já foi muito pior com esse tipo de acerto mais conservador. Hamilton não disse nada, mas o clima ficou meio pesado. Ainda mais que a Ferrari fez dobradinha na classificação e Vettel venceu a corrida.

Na China Hamilton de novo queria o seu acerto mais agressivo, mas a equipe o convenceu novamente, ainda mais numa pista onde a Mercedes tinha dominado as últimas 4 corridas. O resultado foi desastroso novamente. A Ferrari fez outra dobradinha na classificação e só não venceu por azar. Lewis foi apenas o quarto colocado.

Em Baku o clima estava bastante azedo na sexta-feira dentro da equipe. Hamilton sequer queria falar sobre renovação de contrato, tanto que tinha adiado uma reunião com Wolff para tratar desse assunto. No fim a Mercedes e Lewis ganharam a corrida por pura sorte, uma vez que em circunstâncias normais a Ferrari teria feito dobradinha na classificação e na corrida.

Quando o circo chegou em Barcelona, Hamilton chamou seu engenheiro de pista, o engenheiro da Pirelli, Wolff, Lauda e disse mais ou menos o seguinte: “Aqui quero arriscar o meu acerto. A pista está super lisa e os pneus mais finos aguentam mais o tranco da temperatura. Eu me responsabilizo, caso aconteça alguma coisa”.

Não sei exatamente o que responderam para ele naquela hora, mas depois de algumas horas de deliberações, acabaram topando fazer o acerto que Lewis queria. Não sei se Bottas usou o mesmo acerto, mas desconfio que não.

Então caro leitor, a Mercedes foi à pista em Barcelona com um motor mais potente, várias modificações na suspensão, pneus que só serão usados de novo em Silverstone e Paul Ricard e com um acerto de carro novo e mais arriscado.

Em Monaco não teremos nada disso. Os pneus voltam ao que eram, a potência do motor será reduzida – até porque o motor não faz diferença lá – e ninguém sabe que acerto eles usarão. O único componente presente será as modificações que haviam sido feitas na suspensão.

Resumo rápido do GP da Espanha
Mercedes e Ferrari iam fazer duas trocas. A única equipe de ponta que saiu para uma troca foi a Red Bull. A Mercedes mudou de estratégia por causa dos dois VSC e a Ferrari não. Foi aí que Vettel perdeu um P2 garantido. Bottas em todo o tempo que passou atrás de Vettel, não conseguiu chegar na zona de DRS uma única vez sequer, e estava quase 5 segundos atrás de Vettel quando a Ferrari parou o alemão pela segunda vez jogando-o para P4 no final.

Desconfio seriamente que a Ferrari errou o acerto de suspensão para esses pneus 0,4 milímetros mais finos no carro de Vettel (Kimi tinha dito via rádio que conseguiria andar mais antes da primeira troca), pois ele parou muito cedo – volta 18 contra volta 20 de Bottas e 26 de Hamilton – para a troca.

Lewis, com tudo isso que expliquei acima, não tinha nem 10 segundos de vantagem sobre Vettel antes da troca.

Portanto não foi um vareio da Mercedes. Foi sim um carro melhorado dos alemães, com um acerto que seu principal piloto bateu o pé para conseguir e ainda somado a um erro claro de estratégia da Ferrari + um provável erro de acerto de suspensão no carro de Vettel.

Previsão antecipada para Monaco
Neste momento meu favorito para vencer em Monaco é a Red Bull. Isso pode mudar depois do TL1 e TL2? Pode, mas até lá eu digo que um piloto da Red Bull faz a pole e ganha a corrida. A Mercedes pode inclusive ser só a terceira força no Principado.

E olho na McLaren. Monaco é a melhor chance no ano – principalmente para Alonso – fazer bonito.

Olho também em Charles Leclerc. O moleque é bão mesmo!

Adauto Silva
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