F1 – Vai queimar a minha língua?

segunda-feira, 21 de setembro de 2020 às 17:58

Otmar Szafnauer e Sebastian Vettel

Por: Bruno Aleixo

O anúncio da contratação de Sebastian Vettel pela Racing Point (Ok, Aston Martin) é bastante curioso. Sim, seria uma contratação absolutamente bombástica, afinal de contas estamos falando de uma marca tradicional no mercado automotivo, entrando na maior categoria do automobilismo e escolhendo um tetracampeão mundial para liderar o projeto. Descrevendo assim, parece espetacular demais, uma grande tacada. Mas não né.

Em primeiro lugar, Sebastian Vettel, embora seja tetracampeão mundial, mérito que ninguém pode lhe tirar, há muito precisa justificar os títulos que ganhou. A bem da verdade ele não mostra muita coisa desde quando deixou a Red Bull, já perdendo para o então companheiro Daniel Ricciardo, e se mandou para a Ferrari, na expectativa de se tornar o grande nome da escuderia italiana. Jamais se tornou.

Muito disso, claro, se deve ao domínio da Mercedes na era híbrida, que não deixou a concorrência chegar perto. Mas, se é verdade que os primeiros anos de Vettel na Ferrari não foram agraciados com um bom carro, também deve-se dizer que em 2017 e 2018 a equipe dispunha de condições técnicas bastante aceitáveis que dariam, ao menos para um tetracampeão mundial, a chance de minimamente disputar o mundial. E Vettel sequer chegou perto disso.

Ao contrário, mergulhou numa crise técnica que o transformou em mero segundo piloto do time, perdendo para Charles Leclerc, que tem apenas 2 temporadas e meia de experiência. E perdendo de muito. Não raro, Vettel leva meio segundo em classificação, o que é um abismo inexplicável. Isso sem contar a profusão de erros que comete durante as provas.

Não tenho a menor dúvida de que vai aparecer alguém, nos comentários desta coluna, com a justificativa do tipo de carro, que Vettel não se adaptou a esses modelos da era híbrida e tal. Gente, essa era já existe há 7 temporadas! Se isso não é tempo suficiente para alguém que ganhou 4 títulos mundiais se adaptar a um novo tipo de condução, me desculpem, mas é razão sim para que duvidemos de sua capacidade. E eu, hoje, tenho sim essas dúvidas. Não acho nenhum absurdo afirmar que Vettel ganhou, de forma inapelável, um título, o de 2012, enquanto os outros foram mais da equipe.

Mas ele terá a chance de mostrar que estou errado. Mais uma vez, aliás. Porque vai encontrar uma equipe com dinheiro, uma forte parceria técnica com a Mercedes e um segundo piloto que, embora tenha evoluído, ainda é fraco para ocupar a posição que ocupa. E é aí que entra o segundo aspecto da contratação, que a torna bem estranha.

Que diabos vai fazer a Aston Martin na F1? Não vai produzir motores. O time, tecnicamente, segue sendo o mesmo da Racing Point. E, ponto central da discussão, aparentemente todas as decisões permanecerão no colo do milionário Lawrence Stroll, o pai do Lance, que evidentemente mandou Sérgio Perez embora para manter seu pupilo no time.

Neste ponto, não há como não concordar com o picareta Fábio Campos: o projeto da Aston Martin é frágil. Na verdade, continuaremos a ter a equipe de um milionário, que vai meramente ganhar as cores de uma marca tradicional. E só.

E é por isso que Vettel, embora esteja buscando a chance de voltar a brilhar, pode ter se enterrado de vez. Porque nesta configuração, na qual ele terá do seu lado um piloto que nada mais é do que o filho do dono, qualquer resultado que não seja um domínio absoluto de sua parte, será um fracasso retumbante. E, hoje, no momento em que escrevo esta coluna, tenho sérias dificuldades em prever um triunfo do tetracampeão sobre o fraco Lance Stroll.

O fato é que a Aston Martin tinha boas opções no mercado. Podia formar uma dupla forte, com Hulkenberg e Pérez, por exemplo. São dois pilotos rápidos e experientes, que certamente levariam o time a crescer. Mas a opção foi por Vettel, que não mostra serviço desde 2013, ao lado de Lance Stroll que, bem, é isso.

Bom, minha língua está aqui, esperando ansiosamente para ser queimada. Mas acho que terminará o ano de 2021 intacta. A ver.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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