F1 – Uma equipe de ponta e uma dupla de sonhos. Quase aconteceu

quinta-feira, 13 de maio de 2021 às 12:17

Teste de Senna na Brabham em 83

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Algumas histórias ganham diferentes versões, análise de fato pregresso envolvendo mitos da F1, arrecada variante narrativa, consoante paixão, preferência do interlocutor. Quem já não ouviu falar: Piquet barrou Senna na Brabham ou a célebre aposta de cem mil dólares.

Personagens desse enredo reuniram-se no autódromo de Paul Ricard em 14 de Novembro de 1983, visando testes privados da escuderia Brabham: Nelson Piquet, líder da equipe; Pierluigi Martini campeão europeu da F3; Ayrton Senna vencedor do troféu inglês de F3; o colombiano Roberto Guerrero, duas temporadas na F1 pelas nanicas Ensign e Theodore; Mauro Baldi piloto Alfa Romeo.

Integrante da equipe na temporada 83, Riccardo Patrese havia renunciado seu posto ao não concordar com os baixos valores propostos por Bernie Ecclestone para renovação de contrato. As práticas no circuito francês, talvez, definissem o futuro parceiro de Piquet no cockpit do Brabham BT52 BMW Turbo.

Ayrton Senna carregava grande expectativa, avaliações anteriores surpreenderam o mundo. Seu primeiro contato com um carro de F1 ocorreu no dia 19 de julho daquele ano em Donington Park pela Willians. Após vinte voltas bateu o recorde da pista, 1.00.82, circunstância notável. Jonathan Palmer, piloto contratado de testes, foi 1.5 seg. mais lento que o brasileiro.

Ensaio na equipe McLaren evidenciou a genialidade do jovem aspirante, bastaram seis voltas em Silverstone para o cronometro apontar 1.14.08. Sobrepujando as marcas de largada, no GP da Inglaterra, conseguidas pela dupla oficial, John Watson 1.15.60 e Niki Lauda 1.14.26. Á tarde Senna baixou ainda mais 1.13.09. Fantástico!

Na Toleman foi à vez de Derek Warwick amargar 1.4 segundos, até chegar Novembro e topar com Nelson Piquet, piloto astuto, veloz, combinação de técnica, malandragem e competência extrema.

Ficou deliberado que Piquet acertaria o carro, além de fixar uma volta rápida. Partir desse ponto as configurações da máquina iriam permanecer inalteradas, objetivando referência e critério para avaliar os candidatos.

Modo a engastar certa pressão no seu piloto, Bernie Ecclestone provocou: Senna vem colocando tempo em todo mundo, só quero ver aqui. Nelson: Ele sequer fica no mesmo segundo. Bernie: Será? Nelson taxativo: Vamos apostar 100 mil dólares, falo sério. Bernie afinou.

Dia do teste, aldeia medieval Le Castellet, pleno outono, estação onde o verde mistura-se ao amarelo e marrom das folhas e as manhãs são bastante frias. Motores turbos com alto desempenho, á época, necessitavam de baixas temperaturas e ar rarefeito típico das regiões altas, modo contrário, perdiam apetite em cidades quentes, nível do mar.

Paul Ricard cuja elevação vertical está apenas 300 metros relativos ao mar, faz com que os melhores tempos sejam obtidos antes das dez horas, quando termômetros marcam oito, nove graus. Piquet sabia disto, entrou cedo na pista.

No começo algumas voltas usando pneus usados, tira asa, mexe nisso, naquilo, retorna à pista, outra vez no boxe, regula válvula do turbo, pneus zero e vai embora acelerando. Contorna a primeira e travada parte do circuito, reta Mistral 1.700 metros, antes da reforma, 700 HP empurram o carro leve (500 kg), 342 km/h. Em seguida curva lenta, freada forte, mais a frente uma de média para alta, último trecho sinuoso, reta dos boxes. Tempo: 1.05.90, nove e trinta da manhã.

Piquet abastece, torna à pista deixa o relógio correr, delonga, só faz aumentar a ansiedade dos rapazes. Estaciona e vai reunir-se com Gordon Murray projetista e Charlie Withing mecânico. Quase onze horas, primeiro da fila, Ayrton Senna finalmente acelera em Paul Ricard.

De imediato percebe um carro difícil, oposto da McLaren e Willians, executa cerca de trinta voltas buscando melhor aclimatação. Mais confortável recebe pneumáticos novos, algumas instruções e zarpa em busca do giro rápido. Resultado nada promissor, roda acima de um minuto e oito.

Inconformado, Ayrton decide arriscar, pouco combustível, coloca o último jogo de pneus a que tem direito e assinala sua melhor marca 1.07.81, quase dois segundos atrás do Nelson (1.05.90). Durante o período da tarde Mauro Baldi registra 1.07.80, superando Senna por um décimo. Pierluigi Martini e Roberto Guerrero ficam acima de 1.08.00.

Piquet se manifestou avesso a presença do compatriota na Brabham, talvez prognosticasse o talento de Ayrton, o prato cheio para imprensa, principalmente brasileira, estimular verdadeira guerra de bastidores. Bernie Ecclestone, indiferente aos apelos do campeão, tentou engajar Senna na equipe.

O veto definitivo partiu da patrocinadora multinacional, Parmalat: Dois brasileiros? De maneira nenhuma, nossa prioridade e desejo recaem sobre um piloto italiano ou alguém oriundo de país no qual a empresa tenha interesse comercial. Por fim escolheram Teo Fabi, ausente dos testes em Paul Ricard, corredor da Indycar e pole-position nas 500 milhas de Indianápolis daquele ano, 1983.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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