F1 – Ultrapassando por fora

quinta-feira, 9 de julho de 2020 às 11:51

Hamilton x Albon 2020

Por: Adauto Silva

Uma coisa que todo piloto aprende desde o kart é que uma ultrapassagem por fora – para ganhar posição – envolve muitos riscos.

O caso aqui são ultrapassagens por fora em circuitos mistos, já que nos ovais a lógica e a “convenção” são diferentes.

Se ela (a ultrapassagem) for feita na reta – porque o adversário da frente deu o lado de fora – aí não tem problema. Você o ultrapassa e já chega na frente depois de frear para a curva. Então a preferência é toda sua e o cara que foi ultrapassado, precisa fazer quase um milagre para te ultrapassar de volta na mesma curva sem bater em você. Nesse caso a responsabilidade em não bater é dele.

Mas quando ambos os pilotos nessa disputa chegam praticamente juntos freando e depois contornando a curva tipo lado a lado – e não são companheiros de equipe – as coisas se complicam para quem está do lado de fora.

Por que? Porque o piloto que está por dentro não vai dar mole de jeito nenhum, a menos que ele esteja tirando uma soneca naquele momento. Ele vai frear o mais tarde possível e provavelmente “espalhar” na curva, alargá-la, para “tirar pista” do outro que está por fora a fim de defender sua posição.

Mesmo que o piloto que esteja por dentro nessa situação não “espalhe”, a linha de corrida dele inevitavelmente vai levá-lo para o lado de fora da pista na saída da curva e, se você estiver ali, a batida é quase certa.

Portanto, quando dois pilotos contornam uma curva lado a lado, praticamente juntos – sempre considerando que não são da mesma equipe – a responsabilidade em não bater é de quem estiver por fora, ou seja, o piloto do lado de fora sabe que se ele não estiver totalmente na frente do outro que está por dentro, a chance de bater é altíssima.

A outra possibilidade – onde batidas são raras – é quando o piloto que está por dentro é totalmente surpreendido numa pista larga, ou seja, ele deu o lado de fora para o adversário, mas mesmo que ele volte para a linha de corrida na saída da curva, ainda resta “pista” para quem está por fora continuar ali e completar a ultrapassagem. Poucas pistas são largas assim. Silverstone é um exemplo, mas Red Bull Ring não.

Vamos ver isso na prática?

No GP da Áustria aconteceram essas duas situações descritas várias vezes durante a corrida. E o “legal” para entender é que ambas as situações exemplificadas aconteceram justamente entre os dois pilotos que acabaram batendo.

Na primeira curva da corrida logo após a largada, Hamilton tentou ultrapassar Albon por fora. Mas Hamilton viu que Albon e ele estavam lado a lado e Albon voltaria para a linha de corrida na saída da curva. Hamilton até conseguiu começar a contornar curva 1 ao lado de Albon, mas o piloto da Red Bull espalhou e Hamilton saiu da pista para não bater voltando atrás. Tudo normal.

Duas curvas mais adiante, justamente na mesma curva onde eles bateram mais tarde, Hamilton fez uma segunda tentativa. Ele contornou a curva lado a lado com Albon, mas viu que Albon voltaria para a linha de corrida na saída dela. Então ele “recolheu”, ou seja, tirou o pé do acelerador para não bater e quase certamente estragar sua corrida. Normal.

Veja o vídeo de Hamilton “recolhendo” na segunda tentativa:

É assim que se faz quando você está por fora e ainda não colocou seu carro totalmente na frente do adversário na saída da curva.

Então, mais tarde, logo após um safety-car, Albon já atrás de Hamilton e muito mais rápido que o hexacampeão por estar de pneus novos e macios, faz sua tentativa sobre Hamilton (sem DRS). O campeão dá o lado de fora para Albon, que entra na curva lado a lado com Hamilton sem, no entanto, conseguir colocar seu carro inteiramente à frente do de Hamilton na saída da curva. Hamilton não espalha (algo que ele poderia ter feito) mas com o volante totalmente esterçado numa curva fechada, ele naturalmente continua na linha de corrida.

Albon não alivia, não recolhe, não sai da pista com pelo menos duas rodas. Ele fica na pista dentro da linha de corrida como se já tivesse passado inteiramente pelo carro de Hamilton. É lógico que os dois colidem. Até seu chefe de equipe disse isso depois: “Alex pensou que já tinha ultrapassado Hamilton na saída da curva.” Isso comprova que ele errou. Veja:

Albon é bom piloto, é ousado e foi pra cima para aproveitar que era muito mais rápido que as duas Mercedes naquele momento. Mas faltou-lhe algo que só o tempo vai trazer; experiência.

Se ele espera mais três ou quatro curvas, poderia usar o DRS em três retas seguidas para ultrapassar Hamilton. E depois Bottas. Ele ganharia a corrida. Você duvida?

Então saiba dessa informação: Mesmo depois de bater com Hamilton, rodar e voltar em último, Albon foi em média 1,2 segundos por volta – em todas as voltas – mais rápido que Hamilton até quebrar. E olha que Hamilton precisava dar tudo para se afastar dos caras que estavam atrás dele, já que ele sabia que tinha uma punição de 5 segundos no tempo total de corrida para cumprir.

E não conseguiu. Claro, seus pneus estavam no bagaço, enquanto Albon, Leclerc e Norris de pneus macios e novos – estavam mais rápidos que Hamilton e Bottas.

Adauto Silva
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