F1 – Quarenta anos sem o Cometa Jim Clark

quarta-feira, 24 de novembro de 2010 às 21:58
Jim Clark

Existem datas no automobilismo mundial que muita gente não suporta ouvir falar delas, como por exemplo, o 1º de maio de 1994 quando se trata de Ayrton Senna ou o 8 de maio em relação a Gilles Villeneuve. Porém, hoje trataremos de outra data triste para aqueles que amam corridas, o 7 de abril de 1968, data na qual há 40 anos o mundo perdia um dos mais talentosos e geniais pilotos de todos os tempos. Naquele dia, James Clark Jr, ou simplesmente, Jim Clark, chocou-se contra as arvores que margeavam a pista de Hockenheim na Alemanha em uma corrida de F2. O Autoracing aproveita a data para mostrar a você leitor de nosso site um pouco sobre o mito Jim Clark.

Primeiros anos
Nascido a 4 de março de 1936, na cidade de Kilmany, na Escócia, o filho de fazendeiros começou a se interessar por velocidade aos 15 anos. Aos 17 participou de alguns rallys e aos 20 anos, em 1956, começou a participar de provas de automobilismo regularmente. Aos 22 anos, em 1958 ele conheceu uma pessoa, Colin Chapman, dono da Lotus e uma pista, Spa-Francorchamps que marcariam sua carreira. O traçado belga nunca foi um dos preferidos do escocês, mas uma corrida ali marcaria demais a sua carreira.

Jim Clark

Categorias inferiores e chegada à F1
Em 1960, ele venceu dois campeonatos de F-Junior, como era conhecida a F3 de então e ocasionalmente ele atuava em provas da F2 e da F1. Em 1961, ele disputou às 24 Horas de Le Mans e terminou a prova na terceira posição. Já na categoria máxima do automobilismo mundial ele era visto com um piloto talentoso e que não tinha um carro que o permitisse brigar pelas vitórias. Na Holanda, na pista de Zandovoort, ele chegou a brigar ferozmente com Phil Hill (Ferrari) pela vitória, mas a corrida seguinte em Monza seria chocante e marcante para todos naquela temporada.

Como ele não se classificara para a prova do ano anterior, Clark correria pela primeira vez em Monza e logo na segunda volta, ele levou uma batida por trás de outro piloto, o então líder da temporada e pole position daquela corrida, Wolfgang Von Trips, que acabou saindo da pista e parando no meio do público na reta oposta do traçado localizado perto de Milão. O saldo trágico foi de 15 mortos (o alemão e mais 14 espectadores). Durante muito tempo, mais precisamente até o fim de sua vida, Clark foi acusado de ter sido o culpado do acidente fatal de Von Trips.

Jim Clark

No ano seguinte, a dupla mandou para as pistas o Lotus 25, que permitiu ao piloto brigar mais proximamente do título, tanto que na última etapa do ano ele precisava apenas da vitória para se sagrar campeão mundial. Contudo, um vazamento de óleo acabou impedindo o escocês de fazer a festa, deixando o título para Graham Hill (BRM).

O primeiro título
O ano seguinte foi o que se pode chamar de “Feliz Ano Novo” para Jim. Aos 27 anos ele sagrou-se o mais jovem campeão mundial, marca que seria batida anos mais tarde por Emerson Fittipaldi e Fernando Alonso em 1972 e 2005 respectivamente. Em 63, o mundo se espantou ao ver que em dez provas ele faturou sete poles e vitórias e seis voltas mais rápidas, além de somar 73 pontos (54 aplicando-se os descartes válidos à época), destroçando a concorrência como um cometa.

Jim Clark

Quem vê os números frios, pura e simplesmente, diria que a Lotus teve um carro do outro planeta ou coisa assim. Nada disso, o monoposto era apenas um pouco melhor que o da concorrência, formada principalmente por BRM e Ferrari. O que fazia de fato a diferença era o braço do piloto escocês.

Um exemplo disso foi no GP de Mônaco onde ele largou na pole, perdeu a liderança para Hill e depois de 18 voltas recuperou a primeira colocação e ali se manteve por outras 60 voltas até a caixa de câmbio “abrir o bico”. Outro detalhe impressionante é que o mesmo jogo de pneus usado em Montecarlo foi usado nas outras quatro etapas seguintes daquele ano (Bélgica, Holanda, França e Alemanha). Na Itália ele teve uma briga duríssima contra a Ferrari de John Surtees, o BRM de Hill e o Brabham de Dan Gurney e ainda assim venceu a prova e faturou o título. Nos Estados Unidos, um problema de bateria na largada o fez perder uma volta em relação aos demais competidores e ainda assim recuperou-se recebendo a bandeirada em terceiro. Outro grande momento de Clark naquele ano foi sua estréia em Indianápolis, onde atuou com um Lotus equipado com motor traseiro. À primeira vista, o carro gerou piadas dos norte-americanos, mas quase venceu para espanto dos presentes ao Indianápolis Motor Speedway. Para completar a temporada norte-americana, ele ainda correu em Milwaukee onde mediu forças contra Gurney e AJ Foyt e venceu a prova.

Jim Clark

1964
O mundo esperava que a temporada de 1964 repetisse o que foi visto em 1963, mas não foi bem o desfecho visto naquele campeonato. Em Mônaco, um pneu o fez perder várias posições e com compostos novos ele fez uma corrida impressionante de recuperação, mas a quatro voltas do fim o motor de seu Lotus o deixou na mão. Depois ele venceu na Holanda. Em Spa, a pista que ele não morria de amores, ele largaria em sexto, devido a um problema na caixa de cambio. Normalmente uma colocação assim deixaria qualquer piloto sem muitas esperanças pela vitória, mas uma sucessão maluca de acontecimentos resultou numa das mais marcantes vitórias de Jim. Nada menos que quatro pilotos (Dan Gurney, Graham Hill, John Surtees e Bruce McLaren) ficaram pelo caminho na última volta da corrida. McLaren ainda conseguiu cruzar a linha de chegada a 3s5 de Clark. Na Alemanha Colin Chapman mandou para a pista o novo modelo 33, que o escocês julgava ser prematuro usar. A posição de Clark foi reforçada com os abandonos na Alemanha, Áustria e Itália. A falta de sorte o acompanhou nas provas finais daquele ano, nos Estados Unidos ele saiu na pole e pouco tempo depois um contratempo o mandou para o box onde ele teve que começar a fazer uma corrida de recuperação. A sete voltas do fim, ele estava em segundo quando a bomba de óleo o deixou na mão, fato que se repetiu também na última corrida do ano, no México, que viu a consagração como campeão mundial de John Surtees, o único homem no mundo a ser campeão nas motos e na F1.

Jim Clark

Porém, o resto daquele ano não foi de se jogar fora. Jim foi pole em Indianápolis, onde agora todos usavam motores na parte traseira do carro e só não venceu por causa de problemas na suspensão. Mas ele venceu o BTCC (campeonato britânico de carros de Turismo) e no fim daquele ano recebeu a Ordem do Império Britânico das mãos da Rainha Elizabeth II.

O fantástico ano de 1965
Se um ano foi perfeito para Clark, este foi o de1965. Mal começou aquela temporada e ele foi para a Oceania disputar a Copa da Tasmânia, com provas na Austrália e Nova Zelândia, e o escocês foi simplesmente o campeão daquele certame, além de faturar a F2 Francesa. Provas de carros esportivos, turismo e afins, ele também venceu. Eventos como o Tourist Trophy, a Corrida dos Campeões e as 200 Milhas de Riverside, mas outras vitórias assombraram o mundo naquele ano.

Clark disputou nove corridas de F1, abrindo mão do tradicional GP de Mônaco por um motivo nobre e naquela temporada ele venceu 6 das 9 provas que atuou levando o seu segundo título na Fórmula 1. Já a terceira tentativa de Clark em Indianápolis foi marcada por um mês de exclusiva dedicação a esta corrida. O piloto liderou 190 das 200 voltas da prova e ainda por cima impôs a vantagem de 2 minutos sobre o segundo colocado. Outro grande feito conseguido por Jim foi o fato de ele ter sido um dos poucos esportistas no mundo a ser capa da influente revista “TIME”.

Jim Clark vencendo em Indianápolis

O ano de 1966
O novo ano começava e Clark teve dois acidentes, sendo que um deles foi grave. Na Alemanha uma saída de pista sem maiores conseqüências, mas na França um pássaro atingiu seu rosto. Ainda assim, Jim teve alguns momentos brilhantes como no GP da Inglaterra. Carro ruim e motor ultrapassado, isso não era capaz de conter o “escocês voador”. Nem mesmo a falta de freios o continha, premiando-o com um quarto lugar. Na Holanda ele deu uma canseira no vencedor daquela corrida e campeão mundial naquele ano, Jack Brabham e ainda faturou a vitória no GP dos Estados Unidos, usando o motor de 16 cilindros da BRM. Nos Estados Unidos ele terminou a Indy 500 na segunda posição. Ele ainda teve algumas atuações no Reino Unido, só que os altos impostos o forçaram uma mudança para Suíça.

Jim Clark

1967. Com Clark, começa uma revolução na F1
A temporada começa com mais um título na Copa da Tasmânia, na Oceania, com cinco vitórias e três segundos lugares, usando um Lotus 33 adaptado para esta competição, mas o fato que mais chamou a atenção foi a estréia na Holanda do modelo 49 equipado com um motor Ford desenvolvido pela Cosworth. Nem mesmo Jim sabia, mas aquele fato iria começar a mudar de vez a história da Fórmula 1. Nos treinos de classificação, um modesto oitavo lugar, mas na corrida, uma espantosa recuperação rumo à vitória na estréia da parceria. Alguns problemas com o desenvolvimento do veículo durante o ano impediram Jim de lutar pelo terceiro título, fato que para muitos especialistas aconteceria em 1968…

Jim Clark

1968, o ano que terminou antes mesmo de começar
Reveillon? Que nada… a Fórmula 1 entrou na pista para abrir uma nova temporada justamente no dia 1º de janeiro, quando muita gente ainda se restabelecia da ceia pela virada de ano e Clark venceu o GP da África do Sul, em Kyalami. O modelo 49 continuaria a ser desenvolvido e enquanto isso, ele ia disputando a Copa da Tasmânia, que previa a primeira etapa para Pukekohe, na Nova Zelândia.

No dia 7 de abril de 1968, Clark iria atuar pela Lotus numa prova de F2, em Hockenheim, na Alemanha e parecia que ele acumularia mais uma vitória ao seu cartel, mas uma saída de pista fez com que ele se chocasse contra algumas árvores na “Florestra Negra” e acabou o levando à morte. A causa do acidente nunca ficou esclarecida e a causa mais provável apontada é um pneu traseiro vazio. Porém o mito Jim Clark nunca foi sepultado.

Em 72 corridas na F1, ele venceu 25, recorde que foi superado depois por Jackie Stewart em 1973, com 27, Alain Prost em 1987 com 51 e Michael Schumacher, em 2000 com 91. Quanto as poles, ele marcou 33, feito superado em 1989 por Ayrton Senna que estabeleceu 65 largadas na primeira posição e Schumacher com 68 em 2006. Além de dois títulos mundiais.

Jim Clark

Sandro Varela – 07/04/08
www.autoracing.com.br

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