F1 – Quando éramos reis
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020 às 12:34Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar
Interlagos, pleno verão, Fevereiro 1973, traçado antigo, pista pra cabra macho, destemido, Ronnie Peterson garante a pole, 2.30.5/10, Emerson segundo, 2.30.7/10, as Lotus negras parecem imbatíveis. Ickx com Ferrari, apesar dos 325 km por hora no extinto e longevo retão, não tem um bom chassi, sofre demais nas curvas, surpreende ao conseguir o terceiro posto, assegurando um lugar na primeira fila. (Ainda vigorava o 3-2-3)
Sobre a égide do regime militar, foi montado colossal esquema de segurança para o GP Brasil, modelo que mais causou problemas que qualquer outra coisa. Jornalistas credenciados barrados em locais de direito, um numeroso batalhão da cavalaria improvisando cocheiras na área destinada ao camping, onde barraqueiros padeciam com odor de urina e bosta.
A brigada de cães formou um cordão de isolamento no campo de largada, os assustados animais, dado o barulho dos motores, latiam, aos pulos em total desespero, tentavam galgar sítio mais seguro, até que alguns deles libertaram-se e felizmente na fuga tomaram o lado oposto da pista, apavorados demais para morder alguém.
Emerson Fittipaldi, longas madeixas, costeletas bem desenhadas, roupas da moda, sorridente, articulado, estampava capas de revistas, figura corriqueira nos comerciais da TV. Desfilou em carro aberto, ao final de 1972, celebrando o título de mais jovem campeão mundial da F1, era um “astro do rock”, personagem oposta àqueles que o sucedeu, Nelson Piquet, seco, sem papas na língua e Airton Senna, comedido, meio tenso.
Para dimensionar, à época, feito semelhante, só mesmo um lutador tupiniquim nocautear Muhammad Ali, no Madison Square Garden, pela coroa dos pesados.
Caso um futurólogo, lá pelos idos de 1969, desses que aparecem prevendo morte de celebridades, conquistas esportivas, profetizasse o surgimento, em pouco tempo, de um brasileiro vencedor na F1, diria tratar-se do mais puro charlatanismo.
Todavia, não foi nenhum mago usando turbante, bola de cristal, quem prognosticou o futuro brilhante de Emerson e sim um jornalista inglês encarregado de cobrir o Kriter Trophy da Fórmula Ford, no circuito de Snetterton. Primeira corrida do brasileiro em solo europeu, não conhecia a pista, os adversários e nem mesmo participou dos treinos livres, teve apenas vinte e cinco minutos para tentar se classificar, antes do início da prova.
Largando na terceira posição manteve o posto, por cautela, até metade da corrida, a partir daí ultrapassou os dois oponentes, vencendo de maneira categórica. Dia seguinte o periodista vaticinava: Fittipaldi surpreendeu todo mundo, inclusive eu. Está nascendo um grande piloto.
Manhã de domingo, aos borbotões pessoas acercam as dependências do autódromo, milhares chegaram à noite anterior, graças ao Emerson tínhamos um GP oficial, válido pelo campeonato e mais três brasileiros participando.
Abrindo a terceira fila, sexta posição, José Carlos Pace, dirigindo o modestíssimo Surtees TS-14, larga á frente de Jackie Stewart e François Cevert, ambos da Tyrrell, de Arturo Mezzario com Ferrari, das duas Brabhans e oito postos de vantagem para Mike Hailwood seu parceiro na Surtees, o cara é bom. Wilson Fittipaldi, no meio do pelotão, mas ninguém bota muita fé no irmão mais velho do campeão, fechando o grid Luis Pereira Bueno.
Dez horas, sol forte, para entreter a multidão, um show de ostentação militar, caças de guerra cruzam o espaço aéreo, paraquedistas surgem dos céus em queda livre, acionando o equipamento bem próximo ao solo, esquadrilha da fumaça faz voos rasantes.
Combatentes simulam ataque e tomada de território, descendo por cordas de um Helicóptero, há pelo menos cinquenta metros de altura, quando alguém despenca La de cima e cai estatelado na curva do Pinheirinho. O sujeito é rapidamente retirado do local por uma ambulância.
Postos de atendimento médico, espalhados pelo autódromo, atendem inúmeros casos de insolação, que se multiplicam com o passar do tempo. Para amenizar tal situação, os bombeiros levam caminhões até a pista, acionam as mangueiras e molham os torcedores, uma festa toma conta das arquibancadas, aplausos e gritos de: Mais… Mais… Mais!!.
Na corrida, Fittipaldi soberano, assumiu a ponta logo na largada e desta maneira foi até o final, sem dar chance aos adversários, registrando, também, a melhor volta, cruzou a linha de chegada, quinze segundos a frente de Stewart.
Hulme, terceiro, declarou após a bandeirada: Tinha poucas esperanças de vencer um campeão mundial detentor dos segredos, atalhos deste circuito, que a maioria de nós não conhece. Stewart economizou as palavras: Hoje Emerson estava invencível.
Anos mais tarde, nosso campeão, genial, veloz, técnico e não sei mais quantos superlativos seriam necessários para dimensionar sua competência, buscou a América, onde, também, foi coroado rei, abrindo as portas para outros brasileiros alcançarem fama e fortuna na terra de Tio Sam.
Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP
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