F1 – Palavras ao vento

segunda-feira, 22 de junho de 2020 às 12:42

Felipe Nasr

Por: Bruno Aleixo

E eis que a grande polêmica da semana passada foi a revelação da conduta da Sauber em relação a Felipe Nasr, no período em que o brasileiro pilotou um dos carros da equipe, nas temporadas de 2015 e 2016. Se você não viu, ou não sabe do que eu estou falando, aqui vai um pequeno resumo: em uma live de um site nacional, o brasileiro, juntamente com um ex-mecânico da equipe (o também brasileiro Tiago Conte) relatou que o patrocinador principal da equipe injetou uma grana preta para que Marcus Ericsson tivesse preferência no uso das melhores peças disponíveis. E mais: de acordo com os dois brasileiros, esse patrocinador não apenas queria que o Sueco tivesse privilégios, mas teria exigido que este apresentasse resultados mais expressivos do que os de Nasr, especialmente a partir da temporada de 2016. Wow! É uma bomba. Mas, vamos por partes.

Em primeiro lugar, não sejamos inocentes: qualquer um que acompanhe F1 sabe que equipes de menor expressão dependem muito de pilotos endinheirados e que estes, via de regra, têm a preferência no uso daquilo que a equipe tem de melhor. Fizeram uma nova asa? Vai para o milionário. Opa, temos um novo assoalho? O riquinho leva. Rapaz, olha esse jogo de pneus! Toma aí afortunado.

Não estou dizendo que concordo, apenas constatando o óbvio. O próprio Adauto Silva conta que, na Williams de 2017, Lance Stroll tinha acesso a tudo o que a equipe podia oferecer de melhor, deixando Felipe Massa com as sobras. Não é difícil imaginar, por exemplo, que Sérgio Perez sofra o mesmo, na atual Racing Point. E só para sair das pequenas, a Red Bull deu uma asa dianteira nova a Vettel no GP da Inglaterra de 2010, o que deixou Mark Webber contrariado (e levou o australiano a uma de suas maiores atuações na F1, vencendo com autoridade a corrida e soltando no rádio “nada mau para um segundo piloto”). Em 2002, Michael Schumacher ganhou a primazia de usar o carro novo da Ferrari no GP do Brasil daquele ano, deixando o carro de 2001 na mão de Rubens Barrichello.

Portanto, a primeira parte da história de Felipe Nasr, embora triste, não é nenhuma surpresa. Embora, diga-se, a passagem de Nasr na F1 é bastante relevante, tendo o brasileiro conseguido excelentes resultados. O problema é o que veio depois. Uma coisa é entender que Felipe Nasr foi preterido em favor de Marcus Ericsson. Outra é se deparar com um absurdo suposto boicote sofrido pelo brasileiro nos seus tempos de Sauber. A equipe, em comunicado, negou a situação.

Bom, eu prefiro usar a lógica e pensar um pouco sobre o tema, já que não é possível saber a verdade absoluta dos fatos. E para isso, uso a parte final da entrevista de Nasr, na qual ele cita sua atuação no GP do Brasil de 2016, quando terminou em P9 e marcou os únicos pontos da equipe naquele ano. Segundo o brasileiro, a equipe insistiu diversas vezes para que ele adotasse uma estratégia claramente prejudicial (colocar pneus intermediários no meio daquele aguaceiro), que certamente lhe tiraria da prova. Pergunto a vocês, meus nobres e queridos leitores: isso faz algum sentido? Os pontos de Nasr garantiram 40 milhões (dólares ou euros, confesso que não sei, mas o número foi citado pelos dois protagonistas do vídeo) ao time para o ano seguinte, qual poderia ser o interesse da equipe em perder essa grana? A Sauber rasgava dinheiro?

Por mais que um empresário queira favorecer um piloto claramente mais lento, como era Ericsson, me parece muito difícil que o interesse dele seja manter o sueco à frente à força, algo que o levaria a, efetivamente, perder dinheiro investido. Ou vocês acham que os 40 milhões vão todinhos para a equipe? Se estivéssemos falando de um vilão de filme de espionagem, talvez o raciocínio tivesse lógica, mas não é o caso. Alguém pôs dinheiro na equipe, esse alguém era ligado a Ericsson e exigiu tratamento diferenciado a ele. Mas baixar a pressão dos pneus depois de um treino satisfatório apenas para que Nasr fosse mais lento no resto do fim de semana, como relatou o engenheiro Tiago? Ou, ainda, demitir o engenheiro responsável pela parte elétrica do carro do brasileiro, para contratar outro que não tinha sequer experiência comprovada? Muito esquisito.

Toda essa história, sem comprovação documental, me cheira à vitimismo. O mesmo que levou Rubens Barrichello a proferir a famosa frase “sou um brasileirinho contra os italianos”. Até entendo de onde vem a indignação de Nasr: ser preterido em função de um piloto claramente mais lento deve doer fundo na alma. Mas daí a dizer que havia uma espécie de conspiração contra ele dentro da equipe, a ponto de querer tirá-lo de uma corrida na qual viria a marcar pontos importantes para a equipe, me parece um certo exagero para justificar um possível mal desempenho. Que, repito, nunca aconteceu. Mesmo preterido, Nasr foi constantemente mais rápido do que Ericsson nas duas temporadas em que estiveram juntos.

De qualquer maneira, a gravidade da acusação enseja, sim, investigação por parte da FIA. Afinal de contas, se a equipe utilizou peças fadigadas, pneus com calibragens abaixo do recomendado e até mesmo incentivou o piloto a adotar uma estratégia suicida de colocar pneus intermediários sob chuva forte, claramente o colocou em risco. Portanto, se Felipe Nasr tem tanto a dizer da Sauber, precisa provar o que sabe e apresentar tudo isso judicialmente para que os responsáveis sejam punidos. Caso contrário ele dará as pessoas, como deu a mim, a impressão de que está jogando palavras ao vento.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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