F1 – Os pilotos que desafiaram as ordens de equipe

terça-feira, 30 de novembro de 2010 às 14:02

O Autoracing relembra para você os três casos mais famosos de pilotos da Fórmula 1 que desafiaram suas equipes e desobedeceram a famigerada “ordem de equipe”.

Em três semanas, a Ferrari estará diante de uma reunião com o Conselho Mundial de Automobilismo da FIA.

A comissão irá examinar se a equipe de Maranello quebrou a regra que proíbe ordens de equipe, na ocasião do Grande Prêmio da Alemanha deste ano.

A regra banindo ordens de equipe foi introduzida em 2002, após o episódio do Grande Prêmio da Áustria daquele ano, onde Rubens Barrichello recebeu ordens do até então diretor esportivo da Ferrari, Jean Todt (hoje presidente da FIA), para ceder a sua vitória para Michael Schumacher, companheiro de Barrichello na Ferrari naquela época.

Na história da Fórmula 1, poucos pilotos tiveram a coragem de não cumprir ordens de equipe que tivessem relação em abrir mão de uma vitória ou não ultrapassar um companheiro de equipe. Conheça aqui os três casos registrados de homens que colocaram a própria vitória acima dos interesses de suas equipes. Será que Felipe Massa deveria ter agido igual estes três pilotos?

Carlos Reutemann – Grande Prêmio do Brasil de 1981

O cenário no Grande Prêmio do Brasil de 1981, realizado em Jacarepaguá, era simples: Os dois carros da Williams lideravam a corrida desde a primeira volta, com Carlos Reutemann na frente de Alan Jones. Naquela ocasião, Jones liderava o campeonato com 9 pontos, três a mais do que Reutemann, o segundo colocado na tabela. A corrida do Rio era a segunda da temporada.

De acordo com o contrato de Reutemann, se dos dois pilotos da equipe se encontrassem um na frente do outro em uma corrida e o argentino liderasse Jones, deveria deixar o australiano vencer. A dupla já havia trocado posições um ano antes, quando Jones conquistou o título mundial.

Naqueles tempos, ainda não havia a comunicação box-piloto via rádio e as equipes passavam informações através da boa e velha placa na mureta dos boxes. Já nas últimas voltas do Grande Prêmio do Brasil, a equipe Williams mostrou uma placa para Reutemann com os dizeres “Jones-Reut”, em uma clara ordem de inversão de posições.

Reutemann, que estava perto do seu aniversário de 39 anos e se preparando para a próxima corrida, o Grande Prêmio da Argentina, país do piloto, resolveu não cumprir a imposição da equipe, uma vez que havia perdido uma vitória para Jones em Long Beach, algumas semanas antes da corrida no Rio. Dessa maneira o argentino venceu a prova e acabou se tornando rival de Jones, que nem subiu ao pódio carioca, tamanha a sua ira.

Em Buenos Aires, Reutemann foi ovacionado pelo seu público e retribuiu a admiração com bom humor, ao levantar uma placa na reta dos boxes com os dizeres “Reut-Jones”, satirizando a placa que foi mostrada para ele no Brasil.

Reutemann acabou perdendo o apertado campeonato daquele ano para Nelson Piquet. Muitos dizem que houve certa “má vontade” da Williams com Carlos, após ele ter desobedecido as ordens no Rio.

Didier Pironi – Grande Prêmio de Imola de 1982

Este foi certamente o mais famoso caso de ordens de equipe “dando errado”. Alguns dizem que este acontecimento acabou tendo consequências mortais.

Os pilotos da Ferrari Gilles Villeneuve e Didier Pironi, ocupavam a liderança da prova em Imola confortavelmente, com o canadense liderando o francês. No campeonato, Didier estava na 12ª posição, com 1 ponto marcado. Gilles ainda não havia feito pontos naquele ano.

O veloz circuito de Imola, com suas longas retas e curvas de alta contornadas de pé cravado, era uma grande preocupação para a Ferrari em termos de consumo, uma vez que além das características da pista, o modelo 126 C2 era um grande beberrão de combustível com o seu monstruoso motor turbo.

Dessa forma, a Ferrari mostrou uma placa para os seus pilotos com a palavra “slow” (devagar), com a intenção de que eles poupassem combustível, levantando o pé do acelerador. Acreditando que a placa asseguraria a sua vitória e que seria uma ordem para que ambos os pilotos mantivessem as suas posições, Gilles levantou o pé e foi ultrapassdo por Pironi. O canadense então abaixou o seu tempo de volta e ultrapassou Didier novamente, pensando que o francês queria apenas dar um “show” a mais para os Tifosi.

Villeneuve reduziu a velocidade novamente, mas desta vez foi ultrapassado definitivamente por Pironi, em uma manobra arrojada na rápidissima curva Tosa. Didier não deu mais chances para Villeneuve efetuar nova ultrapassagem e venceu o Grande Prêmio de Imola de 1982.

O clima na Ferrari azedou de vez. Gilles prometeu jamais falar com Pironi novamente e disse que agora iria tratar o francês como um rival qualquer. Didier tentou conversar com Gilles, mas nada adiantou. A equipe “rachou” em duas, com Enzo Ferrari apoiando Villeneuve e o resto apoiando Pironi.

Gilles não tolerou o fato de Pironi desrespeitar as ordens da equipe, uma vez que o próprio canadense abriu mão de ultrapassar o seu companheiro Jody Scheckter em Monza 1979, para ajudar o sul-africano a conquistar o seu título mundial. Gilles esperava que a Ferrari fizesse Pironi ter a mesma atitude.

Infelizmente Villeneuve faleceu nos treinos para a corrida seguinte ao Grande Prêmio de Imola, o GP da Bélgica realizado em Zolder. O canadense sofreu um acidente nos treinos, quando a sua Ferrari levantou vôo após tocar a roda traseira do March de Jochen Mass, em um dos acidentes mais chocantes e comoventes vistos na história do automobilismo.


Pironi após sair do local do acidente fatal de Gilles, carregando o capacete do canadense

Pironi sofreria um acidente em Hockenheim e se afastaria definitivamente da Fórmula 1, fazendo apenas alguns testes para diversão, na Ligier e na AGS em 1986.

Como maneira de homenagear Villeneuve, Pironi batizou um dos seus gêmeos com o nome do canadense. Infelizmente Didier viria a falecer em uma corrida de lanchas offshore em 1987.

Rene Arnoux – Grande Prêmio da França de 1982

A desastrosa experiência da Ferrari com as ordens de equipe em 1982, não impediu que a Renault tentasse fazer o mesmo. Mas repetindo o que aconteceu com Reutemann um ano antes, o rápido Rene Arnoux também não aceitou ser “capacho” do seu companheiro, o sempre imbatível Alain Prost.

Arnoux era piloto da Renault desde 1979, tendo vencido o seu primeiro Grande Prêmio em Interlagos no ano de 1980, sendo o último piloto a vencer uma corrida de Fórmula 1 realizada no antigo traçado longo de Interlagos.

Mas em 1982, Arnoux completaria a dolorosa marca de duas temporadas sem vitórias. E justamente quando estava diante da possibilidade de conquistar o primeiro lugar, correndo em casa, viu a equipe pedir a inversão de posições.

Liderando com 20 segundos de vantagem, Arnoux ignorou as insistentes ordens de inversão de lugares e venceu a corrida em Paul Ricard.

Acusações dentro da equipe voaram para todos os lados após o acontecido. Figuras mais antigas do comando da equipe disseram que Arnoux deveria voluntariamente ceder a posição a Prost, uma vez que Alain acreditava que ambos tinham o mesmo status na Renault.

Um fato engraçado aconteceu motivado por este episódio:

Após a corrida, Prost entrou em seu Mercedes para voltar para casa. Uma vez em um posto de gasolina abastecendo o seu carro, o frentista confundiu Prost com Arnoux e deu os parabéns ao piloto pela lição dada naquele “bastardo” do Prost. Para evitar maiores constrangimentos, Alain pagou o abastecimento em dinheiro, para que seu cartão de crédito não revelasse a sua verdadeira identidade.

Em 1983 Arnoux deixaria a Renault para correr pela Ferrari.

Fabio Henrique – 18/08/10
www.autoracing.com.br

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.