F1 – O talento, a rivalidade, uma pole improvável

domingo, 29 de março de 2020 às 7:14

Ayrton Senna

Colaboração: Antonio Carlos Homem de Mello Cesar

“O melhor de todos os tempos”, axioma propagado e atinente à carreira de Lewis Hamilton, representante da estirpe dos grandes corredores, talento insofismável, porém, não poderá, jamais, usurpar a inexistente coroa de maior piloto da história. Será o inglês, por exemplo, superior a Ayrton Senna?

Três décadas passadas… Alain Prost contrafeito a gradual evolução de Senna na equipe McLaren, inconfortável frente sucessivos embaraços que Ayrton lhe impunha nas demandas de pista, movimentou-se para desestabilizar a equipe. Complicava coisas simples, exigia mudanças na curva de potência dos motores Honda, a fim de torna-la mais suave, não tanto abrupta como se apresentava, segundo ele, bem ao gosto de Senna. Fez da imprensa europeia um canal para críticas, em especial a francesa.

Píncaro das lamurias prostianas, aconteceu pós Jerez de la Frontera, justificando o terceiro posto, atrás de Senna e Berger, referiu-se ao seu carro como “Taxi McLaren”. Colocava, assim, nas entrelinhas, dúvidas quanto à lisura da equipe, induzindo algum tipo de favorecimento para o brasileiro.

Povo de tradição e cultura milenar, os japoneses veneravam Senna como autêntico Samurai, respeito compartilhado por Osamu Goto, diretor da Honda, bem como dos seus superiores no Japão. Um piloto que jamais se recusava a correr em condições adversas ou sob chuva, sem críticas a marca, incapaz de questionar honestidade nas decisões tomadas pela empresa.

Paul Ricard, França, Julho de 1989, Alain Prost, depois de vencer (Senna abandonou na primeira volta), anuncia o fim da parceria com a McLaren. Especulações davam conta que seu destino estaria vinculado a Renault, quem sabe Williams, todavia o suspense terminou dias antes do GP italiano. Um contrato, válido por doze meses, contendo sessenta e cinco páginas, amplamente discutido entre advogados, solidificou a presença de Prost na Ferrari para o mundial do ano seguinte, 1990.

“Gran Premio Coca-Cola D’Itália 1989”. Monza, pista veloz, situada em um parque meio a muito verde, verdadeira catedral para Ferrari, onde, todo ano milhares de fiéis devotados vão prestar homenagem e torcer pela equipe do cavalo rompante. Até os sinos da igreja de Maranello, berço dos automóveis vermelhos, badalam anunciando as vitórias da equipe.

Início de atividades, primeiros treinos, Prost, ainda de McLaren, recebe faixas de boas vindas, Mansell e Berger com Ferrari, estrondosos aplausos, Senna a fúria dos fanáticos torcedores. Vale lembrar que os tempos obtidos na sexta-feira contavam para formação do grid.

A prática segue morna, carros girando entre 1.26 e 1.27, Mansell resolve colocar lenha na fogueira, marca 1.24.768, reduz ainda mais, 1.24.739, festa nas arquibancadas, Ayrton vaiado não consegue baixar de 1.25.021, perto do final, Berger fantástico, supera seu companheiro, 1.24.734. Explosão de alegria e júbilo entre os tifosi.

Se Deus é brasileiro, São Pedro deveria ser cupincha do padre de Maranello, mandou muita chuva durante a madrugada para região norte de Milão, lavando o asfalto de Monza. Conclusão, pista mais lenta, praticamente garantida uma primeira fila da Ferrari.

Sábado, autódromo lotado, cada vez que Berger ou Mansell embocavam na saída dos boxes, delirantes aplausos, mesma intensidade os apupos para Senna. Segue o dia, próximo ao término da sessão, os tempos da sexta-feira permanecem imutáveis, as Ferraris recolhidas à garagem, descansam sobre os louros de incerta vitória.

Ayrton aquece os pneus, pouco mais de um minuto para o fim das atividades, contorna veloz a Parabólica, ganha embalo para início do giro cronometrado, zarpa célere, sobe em zebra, belisca grama, mais uma daquelas voltas voadoras, imprevisíveis.

Primeira parcial, o locutor, antes deveras entusiasmado, mostra preocupação: “McLaren più veloce di Berger”. Segunda parcial, agora o tom é quase fúnebre: “Senna continua più velocemente”. Na plateia silêncio, no circuito a sinfonia estrondosa dos dez cilindros da Honda, nas mãos do maestro a pole espetacular, 1.23.720, mais de um segundo frente Berger (1.24.734), quase dois segundos para Prost, quarto colocado (1.25.510).

O francês reúne jornalistas, visivelmente irritado: Dois segundos, isso não existe, tem alguma coisa diferente no carro do Senna, acho que nem chegarei ao Japão e Austrália (Na época fechava a temporada).

Aqui, retomo a pergunta formulada no início: Será Lewis Hamilton melhor que Ayrton Senna?

Antonio Carlos Homem de Mello Cesar
São Paulo – SP

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