F1 – O que é o Pacto de Concórdia

quarta-feira, 19 de agosto de 2020 às 13:53

Formula 1

Por: Adauto Silva

Como o Autoracing já publicou hoje, todas as equipes de Fórmula 1 assinaram nova edição do Pacto de Concórdia que regerá os termos do esporte pelos próximos cinco anos.

O primeiro Pacto de Concórdia foi feito em 1981 e visava, em última instância, produzir um grid mais nivelado na F1. No começo até funcionou, mas com o tempo se tornou um fracasso, já que o esporte cresceu demais, rápido demais, entrou dinheiro demais, apareceu a eletrônica nos carros que não havia sido prevista e todos ficaram bestificados pela quantidade de dinheiro que a F1 nunca jamais tinha sonhado.

Bernie Ecclestone, um brilhante homem de negócios, mas totalmente centralizador, não teve pulso nem capacidade técnica de fazer os ajustes que eram necessários nos anos seguintes. Ao contrário, ficou deslumbrado com o poder e o dinheiro realmente abundantes e os Pactos que se seguiram – geralmente a cada 5 anos – foram tornando a F1 uma categoria cada vez mais cara e desigual.

O novo Pacto tem a intensão de corrigir tudo isso.

O que é o Pacto de Concórdia?
O Pacto de Concórdia é um contrato entre a Fédération International de l’Automobile (FIA) e as equipes de Fórmula 1 e o grupo de Fórmula 1, a FOM.

Ele dita os termos das corridas e como a receita da televisão e o prêmio em dinheiro são divididos.

Esse novo Pacto de Concórdia entrará em vigor em 2021.

O presidente da FIA, Jean Todt, disse que o contrato iniciaria um “capítulo novo e emocionante” para as corridas de Fórmula 1.

“A conclusão do novo Pacto de Concórdia entre a FIA, a Fórmula 1 e todas as 10 equipes atuais garante um futuro estável para o Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA”, disse ele.

“Ao longo de seus 70 anos de história, a Fórmula 1 se desenvolveu a um ritmo notável, levando os limites da segurança, tecnologia e competição aos limites absolutos, e hoje confirma que um novo capítulo emocionante nessa história está prestes a começar.”

Por que ele foi elaborado?
O contrato foi elaborado para tornar a remuneração das equipes mais justa, para que as corridas sejam mais parelhas e todas as equipes tenham melhores chances de vencer.

Todt disse que o contrato seria o caminho para “uma competição mais sustentável, justa e emocionante no auge do esporte a motor”.

A FIA disse em um comunicado: “O acordo garantirá o futuro sustentável de longo prazo para a Fórmula 1 e, combinado com os novos regulamentos, anunciados em outubro de 2019 que entrarão em vigor em 2022, reduzirão as disparidades financeiras e de pista entre as equipes, ajudando a nivelar o campo de jogo, criando corridas mais disputadas na pista que os fãs querem ver mais.”

O presidente da Fórmula 1, Chase Carey, acrescentou: “Todos os nossos fãs querem ver as corridas mais próximas, a ação roda a roda e todas as equipes tendo mais chance de subir ao pódio.”

“O novo Pacto de Concórdia, em conjunto com os regulamentos para 2022, irá estabelecer as bases para tornar isso uma realidade e criar um ambiente que seja financeiramente mais justo e diminua as lacunas entre as equipes na pista de corrida.”

Quais equipes fazem parte do novo contrato?
Todas as 10 equipes já assinaram o contrato. A líder do campeonato, Mercedes, inicialmente fez pedidos para que o acordo fosse revisado, o que atrasou os prazos em uma semana.

Ferrari, McLaren e Williams anunciaram que concordariam com o contrato na terça-feira, após manifestarem sua disposição de assinar durante o Grande Prêmio de 70 anos em Silverstone no início deste mês.

Os outros sete construtores – Mercedes, Red Bull, Racing Point, Renault, AlphaTauri, Alfa Romeo e Haas – seguiram agora a sua liderança.

Prêmios e Teto orçamentário
Não foram revelados os detalhes do novo Pacto de Concórdia. O que já se sabe é que as equipes que ganhavam mais prêmios (pelas posições no campeonato) perderem uma boa parte para as que ganhavam menos, não é mais necessário apoio de 100% para se mudar o regulamento, agora basta que a maioria aceite.

Foi também estipulado um teto orçamentário de USD 145 milhões por temporada que cada equipe pode gastar. Mercedes, Red Bull e Ferrari, que vem operando nos últimos anos com cerca do triplo disso, agora vão ter que se virar com esses USD 145 milhões por temporada.

Ficou de fora do teto o salário dos pilotos, as ações de marketing que cada equipe quiser fazer com seus patrocinadores tanto nas corridas quanto fora delas, viagens e o salário de três executivos principais que cada equipe determinar.

Sabe-se também que a Ferrari manteve seu poder de veto e vai continuar a receber um prêmio extra por sua dedicação à Fórmula 1 desde que ela começou oficialmente em 1950.

Extraoficialmente, a Mercedes deve ter conseguido algum prêmio extra também, ainda que menor que a Ferrari. Mas ainda não se sabe quanto e nem se conseguiu mesmo.

Por quanto tempo o novo Pacto de Concórdia é válido?
O contrato é válido por 5 anos, de 2021 a 2025.

Objetivos serão atingidos?
Concomitantemente ao novo Pacto, os carros de 2022 serão completamente diferentes dos carros atuais. Um grupo de estudo liderado por Ross Brawn e inúmeros outros engenheiros que já trabalharam na F1 criaram as novas regras dos carros novos com o objetivo que eles consigam seguir uns aos outros muito mais de perto do que hoje sem perder downforce, ou perdendo muito menos.

Esses carros terão uma espécie de efeito-solo, que ajuda demais eles conseguirem se seguir de perto. Não é o mesmo efeito-solo do início da década de 80, mas de acordo com as simulações feitas em túnel de vento, essa nova geração de carros – que também terá rodas aro de 18 polegadas (contra 13 de hoje) perderá cerca de 70% a menos de downforce ao se aproximarem do carro da frente em relação ao que perdem hoje.

Se isso se confirmar, as corridas realmente terão muito mais disputas roda a roda do que jamais vimos na F1.

Outro fator importante para reduzir as diferenças é que muitas das peças que hoje as equipes têm propriedade intelectual sobre elas, e, portanto, são exclusivas, passarão a ser públicas e outras equipes terão acesso aos projetos e poderão fazer igual ou até melhor.

Não são todas as peças. A F1 continuará a ser uma competição entre pilotos e construtores, mas passará a ser bem mais aberta em termos de tecnologia de apenas uma equipe.

Tudo isso foi feito para acirrar as disputas, tornar as corridas mais parelhas, mas agradáveis e mais fáceis para o grande público entender e acompanhar. Mas os melhores pilotos nas melhores equipes ainda serão os favoritos, já que isso não pode e nem deve ser tirado de esporte nenhum.

Vai dar certo?
Tudo leva a crer que vai, eu tenho quase certeza que sim. Obviamente alguns ajustes precisarão ser feitos no primeiro e talvez no segundo ano, já que esta será sem nenhuma sombra de dúvida a maior revolução da história da Formula 1.

Mas eu não sou derrotista. Para mim a Formula 1 não está ruim, eu a assisto porque trata-se da mais pura excelência do esporte a motor. Faço parte da minoria das pessoas que apreciam uma joia raríssima que é um carro de F1 andando nas melhores pistas do mundo, conduzido pelos melhores pilotos do mundo – desde que esteja no limite – praticamente sozinho.

Mas claro, adoro disputas, adoro a emoção do ‘roda a roda’ e aprecio muito a possibilidade de termos mais equipes e pilotos lutando por vitórias e títulos. E acima de tudo, prezo pela continuidade e crescimento da F1, categoria que passei a amar em 1972 no GP do Brasil não válido pelo campeonato quando, ao final da corrida, meu pai me colocou de “cavalinho” em cima dele e invadimos os boxes de Interlagos junto com outras centenas de pessoas.

Por alguma razão do destino, chegamos perto de Emerson Fittipaldi, tão perto que ele passou a mão na minha cabeça e soltou um: “Gostou, garoto?”

Naquele momento peguei o vírus da F1, que até hoje não tem vacina.

Adauto Silva
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