F1 – O peso do currículo
segunda-feira, 9 de setembro de 2019 às 12:15Por: Bruno Aleixo
Sebastian Vettel é tetracampeão mundial de Fórmula 1. Em uma lista de campeões mundiais, está ao lado de Alain Prost, o Professor. Acima deles, apenas Juan Manoel Fangio, Lewis Hamilton e Michael Schumacher. Abaixo, gente do quilate de Ayrton Senna, Jackie Stewart, Nelson Piquet, Niki Lauda. Se descer um degrau, ainda encontramos uma turma que, sabidamente, poderia estar mais acima, casos de Fernando Alonso e Jim Clark, por exemplo.
Pois bem. Depois do GP da Itália, disputado no último domingo, acho que finalmente cabe a pergunta: o que faz Sebastian Vettel em um grupo tão seleto? Antes que me joguem pedras, esclareço que essa não é uma questão que surgiu magicamente, depois da última prova. Mas a atuação patética deste tetracampeão sobre o mítico asfalto de Monza, na minha visão, coroa uma sequência de erros que vêm se acumulando desde 2014 e que, nos dois últimos anos, intensificaram-se de forma absurda.
Dizer que Vettel só foi campeão porque tinha o melhor carro é, além de maldoso, ingênuo. São pouquíssimos os casos em que alguém foi campeão sem estar montado no carro mais veloz, potente e equilibrado. Para responder à pergunta do parágrafo anterior, é preciso ir mais a fundo, estudar um pouco a qualificada lista de multicampeões, da qual Vettel faz parte, por direito.
Um bom começo, é entender o que esses caras fizeram quando, eventualmente, estiveram montados em carros pouco competitivos. Senna, por exemplo, fez sua melhor temporada na carreira em 1993, quando sabia não ter a menor chance de bater os carros da Williams. Emerson Fittipaldi, que saiu da poderosa McLaren para acreditar no projeto da Copersucar, chegou a levar o problemático carro brasileiro a conquistar um pódio em Jacarepaguá, um resultado absolutamente improvável. Quando chegou à Ferrari, Schumacher pegou um carro tão mal projetado, que obrigava o piloto a abaixar a cabeça nas retas, para não tapar a entrada de ar do motor. Ainda assim, faturou três provas, uma em Monza, inclusive.
O tema companheiros de equipe também é relevante para o caso. Prost, na McLaren, tinha uma situação cômoda, já era bi-campeão, quando Senna chegou o derrotou em 88. Mas o francês encontrou seu caminho e deu o troco no ano seguinte, à sua maneira. Piquet, quando enfrentou Nigel Mansell na Williams, também teve que dar um jeito, e deu. Campeão em 87, driblando até a equipe inglesa, que jogava a favor do companheiro. Hamilton chegou à McLaren e encarou Fernando Alonso de frente.
Em nível de erros, outro parâmetro interessante, encontramos algumas coisas aqui e ali. Senna deu no guard-rail em Mônaco, quando liderava tranquilo a prova de 88. Prost rodou com a Ferrari em uma volta de apresentação, em Imola. E tenho dificuldades para lembrar de outras situações, que certamente devem existir.
Absolute joy for Charles Leclerc on Sunday – but a very different day for his team mate…#F1 #ItalianGP 🇮🇹 pic.twitter.com/sXevZVqnSs
— Formula 1 (@F1) September 8, 2019
O que nos traz de volta ao personagem da coluna desta semana, Sebastian Vettel. Tente contar quantos erros o alemão cometeu somente nos dois últimos anos. Rodadas, batidas, excesso de Overdrive. Isso sem contar vacilos já mais antigos, como as patéticas batidas em Mark Webber (Turquia) e Jenson Button (Spa), na temporada de 2010. Contra companheiros de equipe, Sebastian bateu Mark Webber (que, convenhamos né) e Kimi Raikkonen (um tipo de piloto que todo mundo sabe que é bom, mas que só anda quando quer). No início de carreira, também superou Sebastien Bourdais e Vitantonio Liuzzi. Mas foi engolido por Daniel Riccardo quando este chegou à RedBull e, agora, por Charles Leclerc, este apenas na sua segunda temporada. E, a bem da verdade, já não vinha sendo mais rápido do que Raikkonen, no apagar das luzes de 2018.
Vettel parece ser um cara simpático, tem boa relação com as equipes nas quais trabalha, não é, claro, um piloto lento, nem ruim. De seus quatro títulos mundiais, um deles, o de 2012, foi talvez o mais legítimo de todos. No restante, não houve adversários, nem do lado de fora, nem debaixo do mesmo teto. Mas, é fato: quando precisou encarar um carro que não era o melhor, alemão sempre se embananou. Foi assim na RedBull, em 2014. Vem sendo assim na Ferrari, desde 2015.
Grandes pilotos, e a lista de multicampeões está repleta deles, precisam mostrar talento é na adversidade. É na hora de superar obstáculos que parecem intransponíveis. No caso de Vettel, por exemplo, é receber um companheiro de equipe novato e esmaga-lo. É encarar Lewis Hamilton numa disputa roda a roda e não apenas manter-se na pista, mas não deixa-lo passar sob nenhuma circunstância. É levar o seu equipamento, aquele de que dispõe, ao limite, seja qual for este limite.
Infelizmente, até hoje, Vettel não fez nada disso. E, por isso, na minha visão, sua presença na lista de multicampeões acaba sendo irreal. Um peso no currículo que ele vai carregar por muitos anos, ainda.
Obs: concorda? Discorda? Então vamos trocar ideias, aqui nos comentários, ou no Twitter (@brunoaleixo80). Estou esperando!
Bruno Aleixo
São Paulo – SP
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