F1 – O azar da Ferrari na Malásia

terça-feira, 3 de outubro de 2017 às 13:39

Kimi quebra no grid – Malásia 2017

Por: Adauto Silva

Automobilismo é um esporte de precisão. Não só do piloto, como também do equipamento. E como todos os esportes de precisão, as chamadas “zebras” são raras. No tênis, no golf, em alguns outros esportes e principalmente no automobilismo, quase sempre vence o melhor. E no caso do automobilismo, como quase sempre os melhores pilotos estão nos melhores carros, acontecer zebra é mais difícil ainda.

Lógico, existem as exceções das categorias norte-americanas, que inventaram as bandeiras amarelas para parar as corridas o tempo todo e assim viabilizar resultados muito mais randômicos do que acontece no resto do mundo. Mas mesmo assim, na Indy, por exemplo, onde as corridas tem uma verdadeira profusão de bandeiras amarelas, o melhor conjunto carro-piloto geralmente vence o campeonato. Tanto é verdade que nos últimos 15 anos somente 3 equipes venceram todos os campeonatos; Penske, Andretti e Chip Ganassi.

Mas para quem gosta de automobilismo com resultados aleatórios, as duas últimas corridas de F1 foram dois pratos cheios. Em Cingapura a Ferrari era franca-favorita, mas venceu a Mercedes. Na Malásia a Mercedes teoricamente era favoritíssima, mas a Red Bull venceu.

É óbvio que existem explicações racionais para esses resultados, mas mesmo assim eles aconteceram.

Em Cingapura a batida da largada tirou as duas Ferraris e uma Red Bull do páreo. Hamilton, que havia largado em P5 de repente se viu em P1 na terceira curva da corrida.

Na Malásia a explicação é um pouco mais complexa.

A Mercedes foi para a Malásia como favorita. Duas grandes retas e várias curvas de alta numa pista larga, teoricamente davam boa vantagem a Hamilton e Bottas. O “normal” seria inclusive uma dobradinha das flechas de prata. Mas o que se começou a ver no TL1 é que a coisa não seria bem assim. A Mercedes não se achou. Bem, mas é “só” o TL1 e eles provavelmente testaram alguma coisa que deu errado. Chegamos no TL2 e nada. Hamilton e Bottas tomaram 1,5 segundos de Vettel e conseguiram ficar até atrás da McLaren-Honda (!!!) de Alonso.

Uau, mas o que estava acontecendo? Como o super-mega-hiper motor Mercedes estava tomando das duas Red Bulls com Renault e até de uma McLaren-Honda num circuito de alta parecido com Silverstone? Aquilo não podia estar acontecendo, afinal de acordo com inúmeros especialistas a Mercedes é o melhor carro justamente por seu super-mega-hiper motor!

É, alguns especialistas precisam rever seus conceitos sobre Formula 1.

Bem, chegamos no TL3 e as coisas melhoraram um pouco para a Mercedes. Hamilton tomou “só” 7 décimos de Kimi e praticamente meio segundo de Vettel.

Mas como, a Mercedes não era a favorita? Era meu caro, era. Mas a partir daquele momento deixou de ser.

Por quê?
De acordo com eles foi um problema do novo pacote aerodinâmico! Heim, como assim, cara-pálida? Novo pacote aero numa pista que tem 95% do acerto igual ao de Silverstone onde a Mercedes reinou?

Na Formula 1, como meu velho amigo Edgard Mello Filho já disse várias vezes, quando você quer ir para a direita, você manda os outros para a esquerda. Se você quer ir para trás, diz que está indo em frente. É assim que funciona lá, ninguém te dá o caminho das pedras.

O problema da Mercedes não tinha nada a ver com “novo pacote aero”. O problema é o de sempre: suspensão. Como a suspensão da Mercedes esmaga os pneus contra o asfalto, no calor eles – os pneus – ultrapassam rapidamente a janela de temperatura e isso gera degradação térmica. Com os pneus ultra-aquecidos, o carro fica ruim de curva, escapa a frente na entrada, a traseira na saída e a coisa vira uma cadeira elétrica.

Pode ver como a Mercedes sofreu em todas as corridas quando o clima estava quente, começando pelo Bahrain, depois Monaco, Hungria, Cingapura e agora Malásia. Lógico que o fato do carro ser maior e mais pesado que a Ferrari também influenciou nas pistas de baixa, mas a suspensão é o que torna a Mercedes uma “Diva”, que adora atacar em altas temperaturas.

Mas e a pole de Hamilton?
Lewis fez a pole porque Vettel teve problemas na classificação. O motor deu pau e ele nem marcou volta no Q3. Em 1 volta os pneus já superaquecem, mas as consequências disso começam a piorar mesmo em 3 ou 4 voltas. Vimos isso na corrida. Verstappen chegou na terceira volta e passou. E aí começou a abrir sem qualquer chance de Hamilton contra-atacar, assim como Bottas, que também não suportou o ataque de Ricciardo, foi ultrapassado e foi ficando, inclusive sucumbindo ao ataque de Vettel, que tinha largado em último e fazia uma corrida espetacular de recuperação até chegar em Ricciardo.

Por que Vettel não ultrapassou Ricciardo? Muito simples, de acordo com Michael Schmidt,  jornalista dos que eu mais respeito da revista alemã Auto Sport und Motor: Combustível. Se Vettel continuasse naquele ritmo ele não terminaria a corrida.

A verdade é que Hamilton, além de ser um piloto fenomenal e agora muito maduro, também contou com a sorte pela segunda corrida seguida. Raikkonen, que ganharia com o pé nas costas, teve problema no motor antes da largada e por isso nem largou.

Mas Verstappen não teve mérito em sua vitória? Claro que teve. Ele conseguiu o que Ricciardo não conseguiu, que era no mínimo chegar à frente das duas Mercedes.

Mas discordando de Christian Horner e Helmut Marko, que já dizem que a Red Bull tem o melhor chassi, eu digo que não. A Ferrari ainda é melhor, O que ela teve nesse final de semana na Malásia foi azar. Kimi poderia ter feito a pole em cima de Hamilton, mas Kimi hoje é fraco, por isso não fez. Vettel faria.

Vettel faria e venceria a corrida, se o carro dele não o tivesse deixado na mão na classificação. E na corrida Hamilton não resistiria a Kimi também, já que seus pneus superaqueceram em poucas voltas e ele ficou sem ritmo. Se tudo tivesse sido normal, a Ferrari teria feito dobradinha com Vettel e Kimi, Verstappen seria P3 e Hamilton P4 porque Ricciardo não foi tão bem quanto Max nessa corrida, senão ele seria P4 e Hamilton apenas P5.

Não, meu amigo leitor, Hamilton não economizou nada. Ele simplesmente andou o que o carro podia. Veja Bottas, que não precisava e nem podia economizar nada nessa corrida, andou muito mal e chegou quase 1 minuto atrás de Lewis.

A coisa foi feia para a Mercedes. Eles erraram muito no acerto do carro. Erraram tanto quanto a Ferrari errou em Silverstone. A diferença é que em Silverstone a Mercedes não teve o azar que a Ferrari teve na Malásia.

Em tocada foi a melhor corrida de Vettel no ano. Muito rápido, sem erros e ousado nas ultrapassagens. Deve ter recuperado boa parte de sua confiança perdida na patacoada protagonizada em Cingapura.

A Mercedes que se cuide, porque a próxima corrida no Japão vai ser equilibrada. Lá não faz calor, a Mercedes vai andar melhor, mas a Ferrari está com um chassi muito forte, sua aero é melhor naqueles “esses” atrás do box e no setor 2 – e Vettel está de confiança renovada.

Aposto numa super corrida na magnífica e técnica pista de Suzuka.

Adauto Silva
Leia e comente outras colunas do Adauto Silva

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.