F1 – Massacre ilusório

terça-feira, 5 de setembro de 2017 às 18:51
Hamilton e Bottas comemoram em Monza

Hamilton e Bottas comemoram em Monza

Por: Adauto Silva

O massacre que a Mercedes impôs à Ferrari em Monza foi irreal. Eu havia escrito em minha penúltima coluna que a Mercedes venceria em Monza fazendo dobradinha, mas nem me passou pela cabeça que seria com meio minuto de vantagem sobre a Ferrari de Vettel e um minuto sobre Raikkonen.

É óbvio que a Ferrari errou. E errou feio. No sábado de classificação chuvosa já tomaram um vareio impressionante de Hamilton, que ficou 2,5 segundos à frente de Raikkonen e Vettel. Apesar de Monza ser um circuito muito mais favorável à Mercedes, a chuva devia aproximar os dois carros, não afastar. Na chuva, a vantagem da Mercedes de maior eficiência aerodinâmica em alta devia ser anulada pelo maior downforce da Ferrari. Por que?

Porque não adianta você ter um canhão de reta, se não pode usá-lo em sua plenitude correndo o risco de aquaplanar. E nas curvas você precisa de muito downforce para não ficar apenas na dependência mecânica dos pneus, que podem perder o contato com a pista a qualquer momento, ainda mais se você tem menos força para baixo – peso – para ajudar os pneus não flutuarem naquele fino lençol d’água que se forma entre os pneus e o asfalto.

Então no sábado eu achei que a Ferrari tivesse ido à pista com um acerto totalmente de seco, inclusive com baixíssimo angulo de asas. Pensei: “Na corrida eles vão ficar muito mais perto.”

Mas não ficaram. A corrida foi um fiasco, ou seja, a Ferrari errou tudo, tanto na classificação quanto na corrida. O presidente Marchionne ficou puto e com razão. Não se faz um papelão desses justamente em casa. Na classificação a Ferrari conseguiu ser pior que Red Bull, Williams e Force India, além da Mercedes, é claro. Caos total.

Por outro lado, é preciso reconhecer o talento-monstro de Hamilton e Verstappen na chuva. Guiam muito, tem o carro totalmente nas mãos e depois de Ayrton Senna, são os dois melhores pilotos de chuva que já vi tocarem um F1 em 45 anos. Verstappen eu ainda quero ver mais corridas na chuva para ter certeza que o nível dele pode ser parecido com o de Senna, mas com Hamilton não há mais dúvidas, pelo menos pra mim.

Veja a pole de Hamilton comentada por ele mesmo e por Martin Brundle:

E ainda tem a diferença que na época do Senna podia-se mexer no carro da classificação para a corrida, então você podia fazer uma classificação na chuva com acerto de chuva e depois, no domingo, mudar totalmente o acerto para seco, caso não fosse chover. Agora não, você vai com o mesmo acerto, só pode mudar o angulo das asas.

E com o mesmo acerto chegamos no domingo de corrida. Sorte da Ferrari que ambas as Red Bulls tinham punições de grid para pagar, senão a coisa ia virar tragédia. Com Verstappen e Ricciardo largando em P13 e P16 respectivamente, a chance de eles alcançarem a Ferrari no seco seria quase nula, em teoria. Mas só em teoria, pois na prática Ricciardo – o piloto de ponta mais preciso e seguro de todo o grid, o Dr. Ricciardo – veio ultrapassando todo mundo e chegou a meros 4 segundos atrás de Vettel em P4.

A Mercedes passeou como nunca tinha feito neste ano. A vitória foi tão esmagadora que Hamilton chegou a ser vaiado pelos tiffosi no pódio e respondeu com um “The power of Mercedes is greater than the power of Ferrari”, que muitos traduziram erroneamente achando que ele estava falando da potência do motor Mercedes ser maior. A tradução correta é que o poder da equipe Mercedes está maior do que o da Ferrari. Em inglês a palavra power sozinha não quer dizer potência. Se ele quisesse falar de motor ele teria dito “engine power”.

Outros que merecem destaque foram Daniel Ricciardo, Lance Stroll, Esteban Ocon e Felipe Massa. Ricciardo fez quase o impossível considerando o motor fraco que tem, na pista da F1 onde isso faz a maior diferença. Stroll fez uma super-classificação e na corrida conseguiu se manter à frente de Massa, que tinha mais ação que ele nas voltas finais. Ocon não cometeu um erro sequer e foi o “melhor do resto” e Massa mostrou na corrida, apesar de ter ido mal na classificação – que ainda tem bala na agulha para pelo menos mais uma temporada na Williams.

Mas como eu disse no começo, a Ferrari não é isso que aparentou em Monza. Os ferraristas podem ficar tranquilos porque é enorme a chance de Maranello dar o troco na próxima corrida. Hamilton tem apenas 3 pontos de vantagem sobre Vettel, é a primeira vez no ano que assume a liderança do campeonato, mas eu digo que não vai durar muito. Em Cingapura a Ferrari terá toda a vantagem e a Mercedes vai ter que se preocupar muito com a Red Bull, pois é grande a chance da equipe austríaca colocar não apenas um, mas seus dois carros à frente da Mercedes.

Adauto Silva
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