F1 – Mais um paralelo entre Ayrton Senna e Lewis Hamilton

sábado, 9 de janeiro de 2021 às 14:01

Ayrton Senna e Lewis Hamilton

Apesar de todas as especulações envolvendo um hipotético desacordo entre Lewis Hamilton e a equipe Mercedes de F1 – agora possuída igualmente pela Daimler, Toto Wolff e Ineos com 33,33% cada -, é possível traçar um paralelo com a última vez em que a maior estrela da Fórmula 1 ficou sem contrato com sua equipe. Isso foi no início da temporada de 1993, quando Ayrton Senna estava em um impasse com o chefe da McLaren Ron Dennis sobre os termos de sua continuação.

O Autoracing tem a informação e já a publicou desde antes do GP de Abu Dhabi, que esse não é o caso de Hamilton / Mercedes, mas de qualquer maneira, é interessante relembrar aquela época

O pano de fundo naquela ocasião foi a retirada da Honda, parceira de motor da McLaren, do campeonato no final de 1992. O domínio esmagador da McLaren-Honda em 1988-89 havia sido constantemente corroído pela crescente competitividade da combinação Williams-Renault, que a partir da segunda metade de 91, teve a vantagem de desempenho e em 92 foi ainda mais dominante com sua suspensão ativa do que a McLaren tinha sido em 1988. Houve corridas em que Senna tomou volta da Williams FW14B de Nigel Mansell.

O estratagema de Senna de oferecer-se para guiar pela Williams em 1993 “de graça” foi desbaratado por Alain Prost, que já havia assinado um contrato lá e estipulado um veto à contratação de Senna. Foi ao descobrir esta cláusula, e a aparente impossibilidade de Senna entrar em um carro competitivo para 1993, que ele acusou Prost de ser “covarde”.

Senna havia feito sua oferta à Williams após ser informado pela Honda de que ela não continuaria além do final da temporada. A proximidade da relação Honda-Senna era tamanha que ele foi informado disso semanas antes de Ron Dennis.

Tudo isso deixou Senna sem nenhuma alternativa atraente para ficar com a McLaren – e Dennis sem parceiro de motor e um orçamento substancialmente reduzido.

A Benetton, com uma parceria oficial de motores da Ford, já estava sendo construída em torno de Michael Schumacher, a Ferrari estava em crise competitiva – e nenhuma outra equipe seria remotamente competitiva o suficiente para o tricampeão.

Dennis negociou o fornecimento do Ford Cosworth HB V8, que era essencialmente o mesmo motor fornecido à Benetton, embora nas condições de clientes naquela época envolvessem um pagamento significativo e nenhuma garantia de paridade de especificações. Combinado com a perda da contribuição da Honda para o orçamento da McLaren, Dennis tinha muito menos a oferecer a Senna do que nos anos anteriores. Naquela época, Senna exigia o pagamento de um prêmio – essencialmente como compensação por não ter mais um carro com motor de fábrica. Ele queria $ 1 milhão por corrida.

Há sempre aquele cálculo delicado de quanto vale o brilho de um piloto.

Dennis iniciou as negociações insistindo que não poderia pagar a Senna mais do que USD 5 milhões pela temporada. Senna disse que faria as cinco primeiras corridas por isso. Eles poderiam negociar novamente, dando a Dennis tempo para levantar mais apoio. Essa é a base sobre a qual McLaren e Senna começaram a temporada de 1993. O acordo de cinco corridas os levou ao GP da Espanha e – convenientemente para Senna – incluiu não apenas a vitória no Brasil, mas também seu desempenho antológico na pista molhada dp GP da Europa em Donington Park, uma exibição tão virtuosa que fortaleceu ainda mais a posição de negociação de Senna.

Depois disso, Senna guiou corrida a corrida, com a responsabilidade da McLaren de que o dinheiro (USD 1 milhão) fosse transferido para a conta de Senna em um determinado número de dias antes da corrida. Além das vitórias no Brasil e em Donington, ele também venceu em Mônaco, Suzuka e Adelaide. Mas antes que a temporada acabasse, ele já havia concluído seu acordo fatídico para se juntar à Williams em 1994.

Dennis mais tarde refletiu que o esgotamento do orçamento feito pelas demandas de Senna contribuiu para o baixo investimento nos recursos técnicos da McLaren e que a Williams, tendo adotado a abordagem oposta, foi a beneficiada por ter possibilitado a ela ter um carro mais competitivo do que a McLaren – portanto roubando-lhe Senna! Foi fácil entender seu ponto de vista. Era óbvio, em retrospectiva, que Dennis tentaria recrutar o arquiteto técnico dos carros Williams, Adrian Newey.

A analogia entre Senna-McLaren em 1993 e a situação atual de Hamilton-Mercedes não pode ser estendida para mais do que isso. A Mercedes aumentou o seu já enorme financiamento (com o novo sócio Ineos) e recursos e é a favorita para voltar a produzir o carro mais rápido. Mas há sempre aquele cálculo delicado de quanto vale o brilhantismo de um piloto. Nesse sentido, Toto Wolff, Mercedes e Ineos parecem ter escolhido que precisam de Hamilton, assim como Dennis escolheu que precisava de Senna.

Já ouviu o último Loucos por Automobilismo? Clique na imagem abaixo!

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.