F1 – História antes da história (vídeo)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019 às 18:38

Tazio Nuvolari – Nurburgring 1935

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Grande Prêmio da França 1908, Vicenzio Lancia, fundador da empresa de carros que leva seu nome, hoje pertencente ao grupo Fiat, segue um costumeiro ritual, beber Champanhe pouco antes da largada. Com a garrafa em mãos, caminha até o meio da pista e arremessa a botelha vazia para o público, acontece, então, uma disputa frenética pelo precioso souvenir do campeão na Targa Florio de 1904.

Nos primórdios, não só os nobres ou endinheirados buscando perigosas aventuras alimentavam as competições, havia aqueles como Wilbur Shaw, depois de meses no hospital, dezenas de quilos perdidos, ainda mumificado pelas bandagens, consequência de queimaduras, é retirado desmaiado do carro, após vencer uma corrida de 800 km.

Outros tais como Ray Harroun, calculista, estudou Indianápolis e concluiu que uma média de 120 km seria suficiente para conquistar as 500 milhas. Seguindo rigorosamente seus planos, trinfou na primeira prova, em 1911, da lendária pista americana.

Quando a FIA resolveu regulamentar o mundial de F1, muito da história anterior a 1950 acabou meio obscura, os campeões mundiais são listados com início nesta data, mesma forma o ranking de vitórias, títulos e poles. Dantes (1930- 1939) a AIACR (Ass. Internacional de Automóveis Clubes Reconhecidos) organizava o Campeonato Europeu de Automobilismo, variando de quatro a sete corridas anuais válidas para determinar os campeões e inúmeros grande prêmios realizados sem contar pontos.

Década de vinte, vários autódromos debutavam: Monza 1922; Mônaco sediava o primeiro GP em 1929; Monthléry, França e SPA, Bélgica, 1925; Le Mans 1923; Nurburgring 1927, aqui um capítulo á parte.

A criação germânica fascina pelo traçado longo, 28 km, posteriormente reduzido para 22,5 km, serpenteando pela floresta, mais de 170 curvas, 4.500 freadas, retas, ganchos, descidas abruptas. Palco destinado aos corajosos, as grandes epopeias.

Jean-Pierre Beltoise escreveu em suas memórias: No circuito Bugatti em Le Mans corri lado a lado com Jim Clark, na ocasião bati o recorde de volta, as curvas são simples, basta não cometer erros, atingir o limite, acelerar firme nas retas. Agora, seguir o escocês na pista de Nurburgring, jamais conseguiria.

Stirling Moss no autódromo alemão, com um Lotus ultrapassado, de propriedade particular, correu contra Phil Hill, campeão mundial, titular da Ferrari e o bateu por 21 segundos e 4/10.

1968, sem Jim Clark, morto naquele ano, foi à vez de Jackie Stewart lograr notabilidade, deixar de ser reputado apenas como uma promessa, prevalecendo numa tarde onde Nurburgring estava apavorante com nevoeiro, chuva e rios de água cruzando a pista.

La pela metade dos anos oitenta, Enzo Ferrari, perguntado sobre quem foi o melhor piloto com o qual já havia trabalhado, respondeu taxativo: Tazio Nuvolari, para espanto de seu jovem interlocutor, esperando ouvir nomes como Fangio, Surtees, Lauda ou talvez uma lembrança do ótimo Villeneuve.

Nuvolari, piloto Alfa Romeo, cujo carro era preparado pela Ferrari, desembarca na região do castelo de Nuburg, perto de Colônia, aprontando-se para mais um grande prêmio.

Hitler no poder, clímax da difusão nazista, o insano ditador tenta provar a superioridade da raça ariana, investe forte na preparação da olimpíada. Max Schmeling pugilista peso pesado, engendra seu combate contra Joe Louis, enquanto serve de garoto propaganda ao regime.

Empenhado em fazer triunfar a Mercedes e a Auto Union para prova de 1935, o Fuhrer não poupa recursos financeiros às duas montadoras. Seu desejo era atestar, perante o mundo, a excelência da engenharia alemã. Conta com grandes pilotos, Rosemeyer, Hermann Lang, Hans Stuck, Rudolf Caracciola, Von Brauchitsch.

Nurburgring possui vida própria, ocasionalmente impiedosa, a segunda pista que mais ceifou vidas, terrível para pneus, suspensão, freios, não basta acelerar, é necessário muita técnica. Alheia aos anseios de Adolf Hitler armou o tablado para uma apresentação histórica.

Antes da largada, breve chuva, suficiente para molhar o asfalto e tornar o piso mais escorregadio. Os nove bólidos alemães alinhados no grid possuem no mínimo 80 cv a mais que a pequena Alfa.

Primeira volta, Rudolf Caracciola assume a ponta, Tazio Nuvolari em seu encalço, força demais, escapa numa curva, perde tempo na lama, cai para sexto lugar, começa a perseguição. Transcorridas duas horas o italiano e a Alfa lideram, girando 30 segundos mais rápido que os demais. Hora de reabastecer.

Nos boxes os ansiosos e acelerados mecânicos quebram a bomba de gasolina, usam latas para encher o tanque, a miserável empreitada custa intermináveis dois minutos. Nuvolari não desiste, dirige como nunca, ao iniciar a última volta Tazio está na segunda posição, a 40 segundos de diferença para Brauchistsch.

Terço final da pista, a distância entre os dois cai para 10 segundos, o pneu da Mercedes não resiste, estoura. 300 mil pessoas esperam Brauchistsch emergir da floresta, quando surge o Alfa Romeo vermelho. Depois de 1min. 38 seg. aparece o segundo colocado Hans Stuck, da Auto Union.

As tribunas de honra reservadas à cúpula do partido nazista, esvaziam-se rapidamente, perplexos os generais deixam o autódromo ao som da Marcia Reale, o hino italiano, enquanto Tazio Nuvolari, no pódio, comemora sua estupenda vitória.

Veja momentos da corrida:
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Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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