F1 – Entrevista exclusiva com Nelsinho Piquet 30 / 04 / 2009

quinta-feira, 18 de novembro de 2010 às 13:50
Nelson Angelo Piquet
Nelson Angelo Piquet

Por Adauto Silva
www.autoracing.com.br

Nelson Angelo Piquet, filho do lendário tricampeão Nelson Piquet, nasceu em Heidelberg, Alemanha em 25 de julho de 1985, quando seu pai já era bicampeão mundial de F1.

Desde cedo, Nelsinho, como ficou conhecido, sempre esteve às voltas com automobilismo. Pistas, carros e ambiente de corrida sempre fizeram parte da vida deste rapaz, que carrega um sobrenome muito conhecido mundialmente no meio.

Com 8 anos de idade Nelsinho veio morar no Brasil com o pai e estreou no kart. Daí em diante começou uma série de conquistas que culminaram com sua ida para a categoria top do automobilismo mundial. No kart foram várias conquistas, entre elas três campeonatos brasileiros. Em 2001 com apenas 16 anos, idade mínima exigida, estreou na F3 Sul-Americana. No ano seguinte sagrou-se campeão com quatro corridas de antecedência. Foi então para a F3-Inglesa, que é uma das categorias de base mais importantes do mundo e logo no primeiro ano conseguiu 6 vitórias e 8 pole-positions. No ano seguinte, 2004, tornou-se o mais jovem campeão da história da categoria.

Em 2005 Nelsinho estreou na GP2, categoria criada como ultimo degrau antes da F1. Conquistou uma vitória no espetacular circuito de Spa-Francorchamps. No ano seguinte disputou o título contra Lewis Hamilton e foi vice-campeão.

Tudo isso o levou a conquistar a vaga de piloto de testes da equipe Renault de F1 em 2007. Em 2008 estreou como piloto titular ao lado do bicampeão Fernando Alonso, o que não tem sido nada fácil para Nelsinho desde então. Com resultados aquém do esperado, inclusive por ele mesmo, tem sofrido grande pressão da equipe, da imprensa e da própria torcida.

Para falar sobre tudo isso Nelsinho Piquet deu uma entrevista exclusiva ao Autoracing pela segunda vez em sua carreira como piloto. Aproveite!

Tensão PermanenteTensão permanente

O ambiente da Formula 1 é o que você esperava?
É um pouco mais difícil do que eu imaginava inicialmente. É um ambiente onde você está sob pressão o tempo todo, mas já me adaptei e aprendi a conviver com isso.

Como é dividir a equipe com um piloto como Alonso que, além de bicampeão mundial, tem uma personalidade bastante forte?
Eu encaro isso como um desafio enorme, mas também como um grande aprendizado. Afinal, é um piloto que já ganhou dois títulos mundiais e tentar ser mais rápido que ele é a minha meta desde o início. Qualquer piloto sempre quer ser o mais rápido, desde o kart. É a essência da nossa profissão.

Você sempre tem o mesmo equipamento do Alonso ou ele tem preferência nas novidades introduzidas durante o ano?
O regulamento desse ano mudou muito as características do carro e também é determinante na estratégia de desenvolvimento que a equipe tem que adotar, já que não se pode treinar durante a temporada. Como muitas equipes ainda estão correndo contra o relógio para instalar upgrades nos seus carros, é natural que às vezes aconteça uma situação onde simplesmente não há tempo hábil de se preparar dois kits de peças novas para se instalar nos dois carros ao mesmo tempo.

Como funciona a questão do acerto de carro, cada um usa o seu ou um pode usar o do outro?
Por causa da proibição dos testes, a equipe precisa extrair o máximo de informações na sexta-feira de cada GP e por isso os dois carros costumam andar com configurações diferentes para aproveitar ao máximo esse pouco tempo disponível. Depois, naturalmente os engenheiros cruzam informações para determinar que linha de acerto vamos seguir ao longo do final de semana.

Você gosta do mesmo acerto do Alonso ou seus estilos são muito diferentes?
Todo piloto tem suas preferências e características de pilotagem muito próprias. Mas no estágio atual em que estamos, o principal objetivo é encontrar, juntos, o equilíbrio básico do carro. É como eu falei, para otimizar o pouco tempo de treinos a gente tem que se dividir na tarefa de descobrir o melhor acerto. Eu posso sair para a pista para testar uma relação de marchas ou carga aerodinâmica, por exemplo, enquanto ele trabalha na distribuição de peso, o que aconteceu especialmente na China, quando andamos sem o KERS.

Liderando o pelotão
Liderando o pelotão


Faça uma relação da importância que o piloto tem atualmente no acerto de carro com a de antigamente, quando seu pai era piloto de F1.

Na época em que meu pai corria, o piloto precisava ter muito mais experiência com a parte mecânica. Por exemplo, se ele ouvisse um barulho diferente na caixa de câmbio, precisava voltar aos boxes e apontar o que era. Hoje, principalmente com a telemetria, os engenheiros detectam qualquer problema enquanto você ainda está na pista. Em compensação, quando o treino acaba, você tem centenas de gráficos para estudar e especialistas que te ajudam a interpretar o comportamento do carro e a buscar soluções para os problemas.

A estratégia de corrida é determinada por você, pela equipe ou por ambos? Caso você tenha outra idéia em relação à estratégia, você pode usá-la mesmo a equipe sendo contra?
As estratégias são discutidas nas reuniões com os engenheiros. Claro que minha opinião sempre é levada em conta. Não há uma regra sobre qual opinião deve prevalecer, tudo depende de como foi a classificação, da situação de cada corrida, do que acontece após a largada. O objetivo sempre é brigar pelo melhor resultado possível. Às vezes a gente acerta, às vezes erra na opção por um determinado tipo de pneu no pit stop ou na duração de um stint durante a corrida, por exemplo, mas isso é parte de um jogo cheio de detalhes.

Nas categorias de base você andava muito com pista molhada, mas isso não vem ocorrendo na F1. Por que?
Os últimos GPs com pista molhada foram bastante atípicos. Na Malásia eu vinha fazendo uma boa prova de recuperação, mas como quase todas as outras equipes, nós erramos na escolha do pneu adequado para o momento decisivo da prova. Na China foi uma corrida para esquecer, mas em geral eu não tenho problemas com a chuva. Fiz boa parte da minha carreira na Inglaterra, onde chove muito, e sempre andei bem nessa situação.

Qual a principal virtude e o principal problema do carro da Renault?
Enfrentamos alguns problemas de equilíbrio do carro no começo da temporada, mas foi justamente aí que surgiu a grande virtude da equipe. Todos estão trabalhando muito na busca de evoluções e foram bastante rápidos, principalmente para produzir o primeiro modelo do novo difusor. Se esse ritmo de desenvolvimento tiver sequência nas corridas européias, ainda poderemos crescer muito na temporada.

Caso você saia da Renault por qualquer razão, existe outra equipe em vista ou você consideraria mudar para outra categoria? Se sim, qual?
Não me vejo fora da equipe ING Renault. Estou satisfeito com a oportunidade que tenho de aprender com eles e estou procurando fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Eu preciso melhorar em alguns pontos, reconheço isso e estou me dedicando ao máximo para me superar e conquistar resultados importantes para a equipe.

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