F1 – Entrevista com Fernando Alonso! 02/12/05

segunda-feira, 22 de novembro de 2010 às 23:19
Fernando Alonso

O espanhol da Renault F1 Team possui o carisma dos grandes pilotos. Se, dentro da pista, seu estilo arrojado conquistou não apenas vitórias, mas também a admiração dos principais rivais, fora dela é um profissional consciente e extremamente dedicado. Não é à toa que, no GP do Brasil, ele tenha se tornado o mais jovem campeão mundial da história: “A corrida de Interlagos permanecerá para sempre como o melhor dia da minha vida”, diz ele de forma emocional, apesar de ser conhecido pela segurança e maturidade, algo que ele justifica com a mesma precisão de seus movimentos ao volante: “Preciso ser profissional. Sou pago para não cometer erros: represento a Renault e o trabalho duro de 800 pessoas”. Alonso promete não relaxar no embalo da glória de seu título tão precoce: “Para 2006, não espero que as coisas sejam fáceis”. Conheça mais sobre o mais jovem campeão da história na entrevista a seguir.

Como foi a última volta no GP do Brasil? Você estava prestes a tornar-se campeão mundial. O que pensava naquele momento?
Eu acho que pensava nos pneus! (risos) Eles estavam no limite, e a prioridade era terminar aquela volta. Lembro de perguntar ao meu engenheiro de corridas, Rod Nelson, a que distância o Michael Schumacher estava. Eu não queria perder o terceiro lugar nos metros finais. Mas tinha uma vantagem de 12 segundos, então foi até fácil administrá-la. Claro que eu comecei a ouvir barulhos esquisitos (imaginando que poderia haver um problema). Eu rezava para não chover. E então, finalmente, avistei a última curva…

A primeira coisa que você fez foi agradecer a equipe pelo rádio…
Agradecer foi importante, foi fundamental. Na Fórmula 1 nada acontece por acaso. Se eu consegui alcançar meu sonho em 2005, foi por causa da ajuda de várias centenas de pessoas que trabalharam sem parar nos bastidores. Todos, dos diretores-técnicos às pessoas da oficina de manufatura, deram aquele algo a mais que fez a diferença. Então, eu lhes disse ao rádio: nós somos todos campeões. E foi sincero.

E depois você agradeceu novamente na China, sua sétima vitória na temporada…
É verdade. Eu achava que nada poderia se comparar ao Brasil. Mas estava errado…

Conte como foi o pódio em São Paulo. Como foi ouvir a equipe gritar em coro Campeão do mundo?
Quando saí do carro no parque-fechado, eu vi a equipe inteira e a placa com a inscrição ‘campeão do mundo’ erguida bem alto. Foi algo fantástico ouvi-los gritando ‘Fernando, campeão do mundo!’. Toda a pressão que eu sentia desapareceu imediatamente, foi quando relaxei e meus sentimentos emergiram. Eu não consigo realmente lembrar como foi a caminhada até o topo do pódio, depois que saí do carro. A imagem que guardo na mente é um verdadeiro mar azulado (cor do uniforme da Renault) abaixo de mim, e centenas de pessoas sorrindo à minha volta, muito felizes. Alguns dos mecânicos da Minardi, com quem trabalhei em 2001, também estavam lá. As lágrimas correram soltas.

Quando voltou para o hotel você viu imagens da multidão em Oviedo, sua cidade natal na Espanha…
Eu chamei meu pai para ver junto comigo. Não acreditava nos meus próprios olhos. Todos os lugares que eu conheço tão bem na cidade estavam invadidos por torcedores. Havia milhares deles, até mesmo em Madrid! Eles foram fantásticos comigo o ano todo, e eu lhes devo muito: quando você está pilotando e sabe que tantas pessoas o apóiam, você fica mais confiante e veloz. Eu tenho orgulho de ter conquistado este título mundial para eles.

Quais são suas melhores lembranças de 2005?
Ah, existem tantas… Eu acho que o GP do Brasil permanecerá para sempre como o melhor dia da minha vida. Mas a corrida da China também foi especial. E, claro, o Grande Prêmio da França, na ‘casa’ da Renault, quando venci diante de milhares de fãs… São memórias inesquecíveis.

Qual foi sua melhor manobra de ultrapassagem em 2005?
Sem dúvida, foi sobre Michael Schumacher na curva 130R, em Suzuka (Japão). Eu assumi um grande risco. Pensando nela agora, talvez tenha arriscado demais!…

Falando em assumir riscos, você sofreu um forte acidente em Montreal (Canadá) ao bater no muro. Como aquilo aconteceu?
Eu estava pilotando com muita agressividade. Acabei abusando do traçado, subi na zebra… e então fui parar no muro. Mas eu não me prendo aos erros. Procuro olhar para frente e não para o passado. Na época, eu disse que aquele fora meu primeiro erro na temporada (era a oitava etapa). E eu não cometi mais nenhum até o final. Por isso, estou feliz com meu desempenho.

Você mudou em 2005?
Acho que não. Quando cheguei ao Japão, duas semanas depois da corrida no Brasil, os jornalistas me perguntaram a mesma coisa umas cem vezes: o que mudou? Eu não acredito que tenha dado a eles a resposta que esperavam! Ainda sou o mesmo sujeito. Estou apenas 19 corridas mais experiente. E mostrei que sei como administrar (a vantagem em) uma temporada. Mas não me tornei uma pessoa diferente.

Você ainda ama competir?
Desde pequeno, esta é uma paixão. Não importa o esporte, seja futebol, tênis ou Fórmula 1, eu sempre faço o melhor que posso para vencer. Algumas vezes, isso não é possível. Então eu me proponho um objetivo mais realista e tento garantir que vou alcançá-lo.

Membros da equipe sempre falam de sua maturidade. Você é tão sério assim quando está longe da pista, ou é mais relaxado em momentos de folga?
Se eu estou no autódromo, é para trabalhar. Então, preciso ser profissional. Sou pago para não cometer erros: represento a Renault e o trabalho de 800 pessoas. Estou sempre concentrado quando estou nos boxes, mesmo que seja fora do carro. Eu nem sempre noto todas as pessoas à minha volta. Quando vou para casa, é diferente. Vejo os amigos, damos risadas e nos divertimos bastante. Não preciso de encorajamento para relaxar…

Você é um melhor piloto agora?
Sim. Mas serei ainda melhor no próximo teste: estou sempre aprendendo, basta estar no carro. Pneus, chassi, motor, sempre há algo para aprender e analisar.

Quando chegou à Renault, você disse que precisou ser mais delicado com o carro. Você conseguiu?
Acho que sim. Eu ainda sou bastante agressivo na pilotagem, mas também sei como cuidar do equipamento. Não tento compensar as fraquezas, como fiz em 2004. Naquele ano, eu tive que dominar o carro para fazê-lo reagir da maneira que eu precisava, fazê-lo ir onde eu queria na pista. Mas em 2005 eu pude trabalhar em harmonia com o nosso Fórmula 1, era um ‘relacionamento bilateral’. Veja, por exemplo, o que aconteceu em Ímola: tínhamos que tomar cuidado com o motor, os pneus, trabalhar com a equipe para planejar nosso fim de semana. E ainda vencemos.

As regras forçam os pilotos a administrar a condição dos pneus com cuidado. Isso foi difícil ao longo do ano?
Na verdade, não. Todas as equipes tiveram que entender como administrar os pneus ao longo de toda a distância de um GP. Mas, em termos de estilo de pilotagem, as regras não mudaram nada. A Michelin fez um trabalho fantástico em 2005.

Você teve que conter sua agressividade para administrar a vantagem que tinha na liderança do campeonato. Como foi ter que reprimir seus instintos de piloto?
Honestamente? Foi muito difícil. Mas eu tinha que pensar no resultado do campeonato como um todo. Eu poderia ter assumido mais riscos para tentar vencer em todas as corridas, mas precisava ser consciente e me concentrar na briga pelo título. Nós começamos muito bem o ano. E então mantivemos nosso desempenho sob controle.

O que isso significou em termos concretos?
Nós administramos cada situação de forma diferente. Em algumas provas, reduzi o ritmo por que estava pensando no campeonato. Este não foi o caso no Japão: eu acelerei o máximo que pude do começo ao fim.

Como seus amigos reagiram depois que você foi campeão?
Claro que ficaram felizes! Recebi umas 300 ligações telefônicas em um espaço de duas horas no Brasil. Eles queriam me dar os parabéns; sei que estavam orgulhosos.

Você leu as notícias após o GP brasileiro? Como foi sua reação?
Li na manhã da segunda-feira, no aeroporto. Foi divertido ver a reação dos jornalistas, ao ler as matérias. Foi quando eu comecei a acreditar que tudo havia acontecido de verdade, que não era apenas um sonho legal.

Qual homenagem foi mais significativa para você?
O troféu Príncipe de Astúrias (o mais importante da Espanha). A nomeação dizia que eu era um exemplo para os jovens de todo mundo, que havia demonstrado determinação e modéstia. Foi fantástico. O rei da Espanha também disse que minha vitória no Brasil foi um grande dia para o país. Isso tudo significa muito para mim.

Você teve tempo para apreciar sua conquista ou começou imediatamente a pensar na defesa do título em 2006?
Passei algum tempo pensando sobre tudo no fim do ano. Tive uma pausa, recarreguei as baterias após um longo ano, e comemorei o título com os amigos. Mas 2006 está chegando rapidamente. A agitação começou já em novembro, e o carro estará pronto em janeiro. Eu o vi no túnel de vento, com o número 1 já pintado no bico!

Qual será sua estratégia em 2006?
Eu não espero que as coisas sejam fáceis. As principais equipes começarão no mesmo nível. Eu espero que nossa equipe faça um bom trabalho de preparação e, talvez, brigue pelo título novamente. Há apenas um segredo neste negócio: trabalhar muito, muito duro mesmo.

Quando chegou à F1, você disse que seu trabalho era algo corriqueiro para você, como qualquer outro. Esse conceito mudou agora?
De muitas formas, não. Eu ainda trabalho duro, e meu objetivo é produzir o melhor desempenho. Alguns dos meus amigos são agentes de viagem, ou limpadores de janelas. No meu caso, piloto um carro de corridas. Tenho muita sorte por ter este emprego, mas ainda assim, olhando friamente, não é nada mais do que meu trabalho. Mas o que mais me surpreende nele, e o que o torna tão especial, é que sou capaz de motivar uma equipe inteira. A paixão dos fãs também é algo único. Eu não trocaria de trabalho por nada neste mundo!

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