O cinco vezes campeão mundial de Fórmula 1, Michael Schumacher, deu uma entrevista ao jornalista Umberto Zapelloni, do jornal Corriere della Sera. Nela, o piloto fala sobre o atual momento da Ferrari, sobre as especulações a respeito de seu futuro e também fala sobre alguns de seus colegas de profissão, como Juan Pablo Montoya e Jacques Villeneuve. Confira a entrevista do ferrarista.
Pergunta: Schumacher, o que está acontecendo com a Ferrari? Michael Schumacher: Estávamos acostumados com o nosso sucesso e quando você deixa de vencer as perguntas começam a aparecer. Mas são coisas que acontecem em corridas. É normal que depois de um longo período de triunfos estejamos atravessando um momento complicado.
Pergunta: E porque o novo carro não será usado em Ímola? Michael Schumacher: Ela ainda não é 100% confiável e quando ela estiver pronta a colocaremos em pista. É inútil arriscar.
Pergunta: É momento de se preocupar? Michael Schumacher: Não. Nas provas anteriores tivemos um carro veloz na Austrália e no Brasil. Na Malásia tivemos problemas com os pneus e a temporada é muito longa para nos preocuparmos.
Pergunta: No Brasil, Rubens abandonou sem gasolina… Michael Schumacher: Não foi por falta de concentração, mas por um problema. O que aconteceu é possível de entender. Todas aquelas voltas atrás do safety car atrapalharam nossas previsões e a telemetria não funcionou.
Pergunta: É a primeira vez em sua carreira na Fórmula 1 que você começa uma temporada sem conseguir subir ao pódio nas três primeiras corridas de um campeonato… Michael Schumacher: O péssimo começo foi circunstancial. E eu também errei nestas provas. Espero ter terminado minha fase longe do pódio.
Pergunta: E como é lutar pelas vitórias largando atrás? Michael Schumacher: Quando a partida é dura, é hora de jogar. Não é assim que dizem?
Pergunta: As pessoas dizem que você já não é o mesmo piloto de antes e que sob pressão você não rende… Michael Schumacher: Estar numa situação como a que estou atravessando, significa que tive bons momentos. Há pessoas que confundem as coisas. Ninguém pode fazer qualquer tipo de comparação com o meu passado.
Pergunta: Como você responde aos críticos? Michael Schumacher: Há pessoas que dizem que fraquejo sobre pressão e há o contrário também. Cada pessoa escolhe o que achar melhor.
Pergunta: Dizem também que a escuderia está relaxada de tantas vitórias? Michael Schumacher: Basta ver o trabalho no novo carro, o que estamos fazendo para melhorar o carro antigo e você entenderá que isso é uma inverdade
Pergunta: No ano passado você já tinha uma boa vantagem… Michael Schumacher: A diferença é que estávamos com sorte. Na Austrália o culpado foi o tempo. No Brasil tivemos as mudanças do regulamento… Só na Malásia estávamos mais lentos, mas também estivemos assim no ano passado.
Pergunta: Você esperava um bom rendimento da McLaren? Michael Schumacher: Ninguém acreditava quando disse nos primeiros testes que eles estavam muito próximos. Desde o fim do ano passado eles estavam rápidos. Eu esperava por isso e entendíamos que seria um começo de ano bastante duro. A diferença está na confiabilidade que nós sempre tivemos e eles não. Agora estamos numa situação desfavorável.
Pergunta: A Bridgestone não tem mais uma grande vantagem? Michael Schumacher: É verdade. A Michelin melhorou muito, sobretudo em pistas onde no ano passado ela não foi bem como na Austrália, por exemplo. É natural termos uma competição acirrada.
Pergunta: O regulamento continua a ser discutido, mas os pilotos não têm participado das reuniões. É justo? Michael Schumacher: Nós demos muitas opiniões, mas no final apenas uma pessoa decide. Não faz diferença se um piloto é ouvido. Nós demos nossa opinião e comunicamos a FIA. Trabalhamos pela segurança, que melhorou muito. Mas não somos ouvidos a respeito dos regulamentos técnicos.
Pergunta: Sobre segurança, você viu o trator que estava ao lado de sua Ferrari quando você saiu da pista em Interlagos? Michael Schumacher: Falamos com a FIA. Estou seguro de que eles nos ouvirão e que isto não acontecerá mais.
Pergunta: É um absurdo que a F1 discuta cinco dias depois o resultado final de um Grande Prêmio? Michael Schumacher: Tem acontecido coisas estranhas na atual Fórmula 1. Novas regras tem sido introduzidas e elas não fáceis de ser aplicadas.
Pergunta: Você achou justa a vitória de Fisichella? Michael Schumacher: Foi o que mostrou a imagem. Eu estou contente por Giancarlo, ele mereceu.
Pergunta: Depois de três corridas, qual sua opinião sobre as novas regras? Michael Schumacher: Eu sou conservador e gostava mais das classificações com acerto para pouca gasolina e onde podíamos mudar o acerto. Agora devo pensar no domingo já que a tarde do sábado faz parte da corrida com a nova classificação.
Pergunta: Assim é possível concluir que nunca um carro veloz fará a pole? Michael Schumacher: Nem sempre. Na Austrália eu fiz a pole e nosso carro era o mais veloz. Mas certas coisas dão margens a surpresas. Agora o público se diverte mais, há mais espetáculo, mas o sábado pode não mostrar um resultado real. Não é o que eu entendo como Fórmula 1, mas as regras são iguais para todos. Não é culpa do regulamento o fato de não termos vencido neste ano ainda.
Pergunta: Não é igual para todos. Mas no Brasil as equipes puderam alterar seus carros entre a classificação e a corrida… Michael Schumacher: Verdade. No Brasil eu fui para a classificação com acerto para pista molhada prevendo uma possibilidade de chuva, mas permitiram mudanças no acerto dos outros carros.
Pergunta: O ideal seria classificar com uma volta por piloto e poder abastecer antes do começo da corrida? Michael Schumacher: Sim. Não gosto da classificação de uma volta por piloto. O melhor é poder fazer isso com pouca gasolina no tanque.
Pergunta: O que você pensa numa mudança de regras durante o ano? Michael Schumacher: Quero regras claras. Que elas sejam iguais do começo ao fim. Não tem sentido mudar as regras no meio do jogo.
Pergunta: E ter dois tipos de pneus de chuva? Michael Schumacher: Foi ridículo não tê-los.
Pergunta: Vamos falar um pouco de pilotos. O que você pensa de seus rivais. Comecemos por Raikkonen, seu rival no campeonato mundial. Michael Schumacher: É um piloto muito bom. Tem um grande potencial. Mas ainda é cedo para se dizer que ele é o meu rival, Coulthard, ou se será a Williams que no último teste em Barcelona melhorou muito.
Pergunta: Vamos falar de Barrichello. Michael Schumacher: Não me surpreende o fato dele estar fazendo um bom trabalho. Ele melhorou e ele tem sido muito eficiente para a equipe.
Pergunta: Coulthard? Michael Schumacher: Me surpreendeu. Ele está andando na frente de Raikkonen mais do que eu esperava.
Pergunta: Montoya? Michael Schumacher: Me decepcionou. Não melhorou como eu esperava. Prometia mais.
Pergunta: Seu irmão Ralf? Michael Schumacher: Teve um começo difícil. Mas a desculpa vale também para Montoya, já que eles não tem um carro bom.
Pergunta: Fernando Alonso? Michael Schumacher: Não me surpreende, tinha certeza de que ele seria bastante forte. Ele é um ótimo piloto e uma pessoa muito simpática.
Pergunta: Trulli? Michael Schumacher: É veloz, competitivo, mas um pouco azarado.
Pergunta: É possível falar na Fórmula 1 de sorte ou azar? Michael Schumacher: De certa forma, sim. Vamos lembrar do Brasil. Foi sorte ou azar a bandeira vermelha ter sido exibida quando Fisichella estava na frente, quem pode afirmar isso?
Pergunta: Falemos um pouco de Fisichella… Michael Schumacher: É muito bom. Tenho muita consideração por ele como piloto. É forte, mas um pouco inconstante em algumas ocasiões.
Pergunta: Vamos concluir com Villeneuve… Michael Schumacher: Fala muito. Deveria pilotar mais e falar pouco.
Pergunta: Quem se destacou mais nas primeiras corridas? Michael Schumacher: Webber. Ele é consistente e preciso. Tem muito a evoluir.
Pergunta: Schumacher e agora que você não tem vencido, pensa em parar de correr? Michael Schumacher: Vencer é bom, mas para ser um bom vencedor é preciso saber perder.
Pergunta: Depois da prova da Malásia começaram as especulações sobre seu futuro. Seu manager disse que você ainda não se manifestou sobre sua renovação com a Ferrari… Michael Schumacher: Meu contrato vai até 2004. Na prática ainda tenho mais duas temporadas. Tenho tempo de pensar e decidir o que farei. Por ora não tenho nada decidido. Amo o esporte, amo brigar, estamos num momento difícil, mas em breve voltaremos a brilhar.
Pergunta: É verdadeira a idéia de que você vai deixar as competições com a Ferrari? Michael Schumacher: Sim, é verdade.
Pergunta: Seu momento atual lembra algum outro período do passado? Michael Schumacher: Sim. Antes de conquistarmos o mundial de 2000 estávamos numa fase complicada. Antes, em 1996 terminei uma corrida na volta de apresentação (GP da França). Foram momentos duros.
Pergunta: Você sempre teve reações consideradas positivas. E agora como será? Michael Schumacher: As pessoas têm reações diferentes. Há pessoas que sabem superar momentos complicados. Estamos unidos e acreditamos em nossa força. Não temos medo do futuro.
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