F1 – Como Vettel superou seus rivais – coluna de Jonathan Noble

terça-feira, 20 de setembro de 2011 às 12:04
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Aqui está um teste da Fórmula 1 para você. Dos pilotos regulares que vêm nos empolgando com suas corridas neste ano, quantos acharam que seria uma boa idéia ir visitar a sede da Pirelli no último inverno para descobrir tudo sobre seus pneus antes do retorno da companhia aos GPs?

Foram apenas os pilotos de ponta que tiraram um dia de suas férias a fim de tentar entender o que esperar dos produtos da Pirelli em 2011? Afinal, fazia todo o sentido descobrir o que havia no horizonte, com a Fórmula 1 se preparando abertamente para um tipo de borracha bastante diferente comparada à fornecida anteriormente.

Bem, o número de pilotos que apareceram na sede da Pirelli em Milão nem sequer se estendeu aos potenciais vencedores de corridas – porque a resposta para a pergunta original é um simples “um”.
E talvez não seja uma surpresa, olhando como a luta pelo título mundial se desenvolveu, descobrir que o piloto misterioso que largou na frente na compreensão do caminho da Pirelli durante uma visita de um dia em dezembro do ano passado foi… Sebastian Vettel.
Se você observar as fundações de sua campanha, um elemento crucial tem sido a maneira como ele vem sendo tão brilhante em extrair o melhor dos pneus nas tardes de sábado. Veja Monza no último fim de semana.
Suas poles frequentemente sensacionais o permitiram liderar da frente, em um carro que algumas vezes foi mais lento do que seus rivais em ritmo de corrida, e o ajudaram a acumular as vitórias que o deixaram perto de outro título. Compare o que ele fez com o homem ao seu lado, que tem o mesmo carro e as mesmas oportunidades.
f111-hembery-abu-dhabi-janeiro350Em Monza, o diretor de competição da Pirelli, Paul Hembery, ofereceu algumas informações fascinantes sobre a atitude de Vettel neste ano – e o impacto daquela visita em dezembro. “Acredito que, algumas vezes, as pessoas subestimam todos esses pequenos detalhes”, disse ele. “Quando você os soma, eles provavelmente fazem a diferença para alguns pilotos”.
“Ficamos impressionados quando ele veio nos visitar, e creio que nos deu uma pequena idéia de sua qualidade como piloto. O que ele fez conosco, claramente faz em todas as áreas em que opera. O único outro piloto que nos faz muitas perguntas é outro alemão – um pouco mais velho e com alguns campeonatos a mais em seu currículo. Achamos isso interessante. É como ver o mestre e o aprendiz trabalhando”.
O entendimento dos pneus de Vettel não veio apenas daquela visita à Pirelli, mas o que ele ganhou certamente contribuiu com seu banco de dados de conhecimento. É mais significativo o modo como a visita mostra porque Vettel é um pacote tão completo, que, como qualquer um dos grandes, extrai o máximo de cada detalhe na tentativa de obter uma vantagem.
Refletindo sobre a visita de Vettel em dezembro, Hembery disse: “Ele queria saber o que estávamos fazendo. Queria ver os laboratórios, conhecer o gerenciamento, não apenas de competição, mas também dar uma olhada e sentir como era a companhia”.
“Ele queria saber o que estávamos tentando alcançar, o que pediram para que fizéssemos – a fim de poder entender se os pneus de 2011 seriam de sprint ou não. Ele estava disposto a entender como a nova fornecedora iria jogar em termos de estratégia, e isso claramente o deixou em um bom estado nesta temporada”.
“Ele claramente tem um carro fantástico e é um piloto incrível, mas parece ser muito bom em extrair a performance máxima daquele pacote. Aquela volta na classificação na Itália, eu ficaria surpreso se a Red Bull achasse que seria possível, para ser honesto. Eu assisti na televisão e a considerei uma das grandes voltas. As pessoas vinham me dizendo que a classificação não era importante lá, mas significou bastante para ele”.
É dito frequentemente que um dos pontos fortes de Michael Schumacher durante seus anos de domínio com a Ferrari era o relacionamento ultra-próximo que ele tinha com a Bridgestone – pois era um homem que entendia que extrair o melhor dos pneus era tão importante para o sucesso quanto qualquer ajuste aerodinâmico que a equipe colocasse no carro.
Julgando pelos eventos desta temporada, parece que Vettel tem um desejo similar de entender tudo o que pode sobre a interação dos pneus com seu carro. Lembra das dificuldades que a Red Bull teve na sexta-feira na Hungria? Lembra de a equipe ter quebrado o toque de recolher a fim de fazer mudanças no carro? Bem, adivinhe com quem Vettel passou algum tempo naquela noite, tentando entender exatamente do que seu carro precisava?
f111-vettel-hungria-sabado350“A Red Bull simplesmente não conseguiu acertar o equilíbrio do carro ao gosto de Vettel”, diz Hembery. “Eles ainda estavam muito rápidos, mas ele claramente não estava feliz com um certo setor da pista. Ele veio falar com nossos engenheiros. Estava tentando explicar o que estava sentindo e obtendo informações nossas sobre o que achávamos que estava ocorrendo. Como vocês sabem, eles trabalharam durante a noite para tentar acertar as coisas, e os resultados foram claros”.
“Ele possui aquela intensidade de foco e dedicação que o leva a querer entender mais, apesar de ter exatamente os mesmos pneus de todos os outros. Eu não posso dizer qual benefício isso lhe dá em termos de ritmo, mas pelo pouco que vimos, se ele faz isso em todos os aspectos do pacote do carro, você pode imaginar que o resultado será muito bom”.
Talvez mais surpreendente do que Vettel buscar todas as informações possíveis da Pirelli é o fato dos outros pilotos não terem seguido esse caminho – nem mesmo aceitando aquele convite para ver o que a Pirelli estava fazendo.
“Eu achei um pouco estranho – talvez os outros sejam tímidos”, sorri Hembery. “Nós não mordemos. Somos bastante amigáveis. Dissemos às equipes que se alguém quisesse nos visitar e dar uma olhada, seria bem-vindo, e algumas equipes vieram nos ver, não os pilotos – para tentar saber quem somos…”
“Porém, tenha em mente que, no teste de Abu Dhabi, não tivemos alguns dos pilotos de uma das grandes equipes. Isso realmente nos surpreendeu. Não estamos duvidando dos pilotos que tivemos lá em termos de sua capacidade, mas eu achava que todos iriam querer conhecer os pneus o quanto antes”.
Talvez os dias após o triunfo de Vettel em 2010 nos digam mais sobre o segredo de seu sucesso nesta temporada do que o que vemos na pista. O quão fácil teria sido para ele ter uma grande festa no domingo à noite em Abu Dhabi no ano passado e então desaparecer por três meses antes de retornar para os testes da pré-temporada em fevereiro?”
Talvez isso não tivesse feito muita diferença para sua forma, mas na Fórmula 1, os detalhes contam – e Vettel sabe que, se houver dez áreas onde ele pode trabalhar mais duro do que todos os outros visando obter uma vantagem, todas elas podem se somar para fazer uma diferença real.
É por isso que Vettel voltou ao carro na semana após Abu Dhabi para testar a borracha da Pirelli – antes de embarcar nas atividades promocionais de inverno e então fazer aquela visita à Pirelli antes do Natal. Compare ao fato de Lewis Hamilton e Jenson Button não terem sequer feito o teste da Pirelli em Yas Marina.
A palavra final é de Hembery: “Quando você trabalha com os melhores, sempre há muito a fazer com o nível de detalhes. Na Pirelli, nós tivemos o privilégio de trabalhar com Sebastien Loeb e outros grandes do rally, e aqueles pilotos não dormem à noite pensando em como melhorar as coisas”.
“Vettel aprendeu isso com alguém ou nasceu assim. Poderia ser uma tentação para as pessoas pensar que, quando chegam à Fórmula 1, já conseguiram tudo, mas a realidade é que ele não parou – e provavelmente não ficará feliz até ter sete títulos em sua carreira, como o mestre…”
Realmente, não há substituto para o trabalho duro. E talvez os rivais de Vettel terão de começar a trabalhar mais duro se perceberem isso.
Jonathan Noble

LS – www.autoracing.com.br

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