F1 – Bottas mostra que tem bala na agulha

segunda-feira, 1 de maio de 2017 às 16:45
Massa cumprimenta Bottas em Sochi

Massa cumprimenta Bottas em Sochi

Por: Adauto Silva

O GP da Rússia pode não ter sido o mais empolgante da temporada para quem primordialmente gosta de ultrapassagens, mas mostrou que minha desconfiança em relação a Valtteri Bottas foi confirmada.

O finlandês fez uma corrida absolutamente impecável – digna dos grandes – e venceu as duas Ferraris  com um carro inferior, além de ter vencido Hamilton com rara facilidade.

Bottas já vinha mostrando na Williams que era um piloto acima da média. Ganhou mais do que perdeu de Felipe Massa e isso não é para qualquer um. Massa, a despeito de boa parte da torcida brasileira que só reconhece pilotos com título da F1, é um excelente piloto, um dos melhores da categoria há muitos anos reconhecido por todo o paddock da F1.

Mas vamos falar de Valtteri porque esse texto é sobre ele. Assim que Toto Wolff fez todos os tipos de malabarismos políticos e financeiros para convencer a Williams a liberar Bottas, muita gente achou que ele estava contratando um segundo piloto para a Mercedes, já que Toto tem ligações comerciais e até afetivas com o finlandês. Ledo engano.

Toto Wolff, como você leitor que frequenta o Autoracing sabe, é acionista da equipe Mercedes. Ele tem 30% da equipe (Lauda tem 10% e a Daimler 60%), portanto ele tem que prestar contas a um dos grupos automotivos mais famosos e conhecidos do mundo, Ele não tem autoridade para contratar um piloto que vai representar os interesses da Mercedes – uma subsidiária da Daimler – a seu bel prazer.

Wolff tinha Esteban Ocon e Pascal Wehrlein à sua disposição imediatamente após Nico Rosberg anunciar sua aposentadoria precoce apenas cinco dias depois de se tornar campeão mundial de 2016 pela Mercedes. Mas Ocon e Wehrlein – dois pilotos com pouquíssima experiência na F1 – teriam condições de ajudar realmente a Mercedes num ano de regulamento novo e ainda desafiar Lewis Hamilton? Pouco provável, e na minha opinião quase impossível…

Então Wolff foi atrás do piloto com o melhor “pacote” disponível. Valtteri Bottas, um cara rapidíssimo, inteligente, que sempre cometeu pouquíssimos erros e super fácil de lidar – o que na língua inglesa eles chamam de “easy going” – parecia a melhor aposta. Wolff poderia ter teimado em Alonso, por exemplo, que é um piloto que ninguém tem dúvidas que poderia desafiar fortemente Lewis Hamilton.

Eu até gostaria que Wolff tivesse ido atrás de Alonso e inclusive escrevi isso, porque quem não gosta de ver o circo pegar fogo? Mas eu não sou chefe de equipe da Mercedes e não tive que gerenciar egos de pilotos reconhecidamente difíceis. Então me rendi à escolha de Wolff, que teve um certo trabalho para convencer a Daimler e Niki Lauda que Bottas era a escolha certa.

E essa escolha está se pagando? Claro que sim. Bottas chegou na equipe mostrando humildade, mas não subserviência. O finlandês se mostrou ávido em ouvir, aprender, visitar a fábrica, conversar muito com os engenheiros, entender o funcionamento da equipe, treinar e até pedir um conselho ou outro para Hamilton. Com isso ele angariou simpatia de todos na organização, inclusive de Hamilton. Inteligência.

Nos treinos de pré-temporada em Barcelona, Bottas começou a mostrar a que veio. Ávido por treinar o máximo possível sempre ouvindo os conselhos dos membros da equipe, ele começou a mostrar serviço na pista. Nos primeiros dias só fez simulações de corrida para aprender como o carro se comportava. Na primeira vez que fez um simulação de classificação (dia 3) já foi o piloto mais rápido de todos marcando 1m19.705s.

No entanto, ir bem em treinos não necessariamente qualifica o piloto para as disputas diretas quando o campeonato começa. Mas quando a coisa começou pra valer  na Austrália, Bottas ficou a 3 décimos de Hamilton na classificação e na corrida terminou em P3 colado em Hamilton, recebendo a bandeirada menos de 2 segundos atrás.

Na China, segunda corrida da temporada, Bottas ficou muito perto de Hamilton na classificação, apenas 0.187s atrás. Na corrida ele cometeu um erro na pista molhada, rodou e acabou mal apenas na sexta colocação. Mas foi no Bahrain que Valtteri começou a mostrar suas garras fazendo a pole e se classificando na frente de Hamilton! Foi por poucos centésimos, mas foi. Hamilton teve problemas porque seu DRS não abriu na reta oposta em sua última tentativa? Teve, mas Bottas estava lá para aproveitar, quando o mais óbvio seria ter alguma Ferrari ali…

E aí a Formula 1 chegou em Sochi, Rússia, uma pista onde eu disse que teoricamente era a melhor chance da Mercedes revidar a vitória da Ferrari no Bahrain. Mas confesso que esperava que Hamilton fizesse isso, não Bottas. Entretanto, o finlandês não se intimidou e começou a cravar Hamilton desde os treinos livres, que não se achou em nenhum momento do final de semana.

Apesar das Ferraris fazerem valer seu melhor equipamento e ambas se classificarem na frente das Mercedes para o grid, Bottas simplesmente meteu 0.5s em Hamilton para se classificar em P3. Hamilton e seus engenheiros não conseguiram acertar seu carro e o inglês tomava um caminhão de tempo no setor 3 da pista, apesar de ser o mais rápido no setor 1. Até agora eu não consigo entender porque Hamilton não exigiu que seu acerto de carro mudasse…

Na corrida, Bottas fez um largada campeã e ultrapassou as duas Ferraris fazendo a primeira curva já em primeiro lugar. Hamilton continuou em P4 e de lá não saiu mais até o fim. Nem ele parece ter entendido bem o que aconteceu, apesar de eu continuar achando que era óbvio que seu acerto estava errado desde os treinos livres da sexta-feira.

Bottas fez uma corrida magnífica. Não tomou conhecimento de Vettel fungando em seu cangote boa parte da prova, principalmente no final, quando Bottas errou uma freada, deixou seu pneu dianteiro completamente quadrado e mesmo assim conseguiu se manter à frente de Vettel, inclusive pedindo no rádio para a equipe não falar mais com ele, já que ele precisava de concentração total para não errar e proporcionar uma oportunidade derradeira para Vettel, que estava muito perto e tinha um carro bem mais rápido naquelas alturas.

Com essa vitória espetacular, literalmente no braço sobre Vettel, Raikkonen e Hamilton, Bottas começa a angariar um merecido respeito dos fãs, da equipe e principalmente e mais importante, de seus adversários diretos.

A temporada promete!

Adauto Silva
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