F1 – Barrichello vs Schumacher

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021 às 12:15

Schumacher e Barrichello

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Em texto publicado anteriormente, relacionei a tarefa de Rubens Barrichello, vencer Schumacher na Ferrari, semelhante um episódio da série Missão Impossível. Porém uma opinião me fez pensar e aqui tomo liberdade para transcrever a postagem do leitor: Hawk10… ”O que passa como verdadeiro para a história é o conteúdo que se origina do lado dos vencedores e seus adeptos. O ser humano geralmente associa verdade o que emana da vitória, do sucesso, e opostamente, o que deriva do fracasso é associado a mentiras. Mas há muitas verdades mentirosas e mentiras que são verdadeiras. E a F1 é pródiga nisso”.

Duas vertentes populares criaram-se na época, 2000 a 2005, uma delas jocosa, servindo de base para piadas, por vezes maldosas, e não dimensionava defeitos, virtudes, do piloto Barrichello. Lado oposto havia quem consignasse as entranhas ferraristas, uma conspiração a lhe impedir vitórias ou sagrar-se campeão mundial.

Rubinho na temporada 2000 e naqueles anos imediatos vivia um dilema, enfrentar a equipe, desobedecer a certas ordens, usar imprensa tornando público fatores que o prejudicavam ou ficar quieto e aproveitar salário, royalty, publicidade etc.. Caso optasse pela rebeldia, haveria que mostrar atributos eficazes no duelo contra Schumacher.

Qualquer ramo da atividade humana exige do postulante ao sucesso, algo além dos adjetivos nomeados sobre o homem bem-sucedido, imposição maior quando rivais brigam por milésimos de segundo.

Não raro os bastidores da F1 apontam interesses sobrepujando a competição limpa, igual. Mario Andretti ídolo nos Estados Unidos, vencedor das 500 milhas de Indianápolis 1969, três vezes campeão na F Indy 65/66/69, assinou contrato com a Lotus onde cláusulas lhe garantiam direitos para vencer Ronnie Peterson, companheiro de equipe. Colin Chapman desejava expandir a venda dos automóveis Lotus no mercado americano, para tanto, nada melhor que um ícone local pilotando seu carro. Peterson calado viveu uma temporada discreta, Andretti foi campeão mundial em 1978 aos 38 anos.

Duas semanas após a bela vitória de Rubens na Alemanha 2000, Luca de Montezemolo, presidente da Ferrari conversou com o brasileiro: “Ampare a equipe em tudo que puder, mas corra para vencer”. Logo a imprensa italiana, conhecedora dos labirintos de Maranello ponderou que não seria bem assim, a luta pelo título estava acirrada, Schumacher 56 pontos; Coulthard 54; Hakkinen 54; Barrichello 46 pontos (distribuição dos pontos 10-6-4-3-2-1). O alemão precisava de ajuda. Quem apostaria no Rubens?

Nelson Piquet, entrevistado recentemente, sem indicar data, circuito, narrou episódio característico da sua forte personalidade:

Sexta-feira, no decorrer de prática livre, após solicitar mudança na relação de cambio, notou pouca ou nenhuma mudança, creditou melhora na condição de pista o fato das marchas ainda parecerem curtas.

Indagado seu engenheiro respondeu: ”Estudei junto ao corpo técnico e decidimos não alongar o câmbio”. Piquet furioso expulsou o sujeito dos boxes, Patrick Head, co-fundador da Willians, correu tentando controlar os ânimos, enquanto Piquet irredutível bradava: Não preciso de engenheiro, ainda mais alguém contestando minha capacidade. Nelson dirigiu os trabalhos no seu boxe e venceu a corrida.

De certo Barrichello não possuía os predicados de Piquet, capaz da insubordinação genial, senhor da competência para mais do talento em pilotar.

1993, a Ferrari amargava duradoura abstinência de títulos e vitórias vinham à conta gotas, Jean Alesi desabafou com seu parceiro Berger: Caso eu estivesse no lugar certo, seria tão bom como Ayrton Senna, tenho habilidade suficiente, todavia o carro impede a mostra plena da minha aptidão.

Gerard Berger tratou de tirar o francês das nuvens: Esqueça, você nem chegaria perto, o homem passa férias no Brasil malhando ante sol de quarenta graus, gasta horas sem fim enfiado na fábrica, monitora tudo, até a colocação de um aerofólio.

Ergue a peça no ar, faz golpe de vista, usa os braços como balança, só então autoriza a instalação. Você consegue numa volta ser tão rápido quanto ele, girar vinte vezes no seu ritmo, impossível, o foco, a concentração do Ayrton está muito acima de todos nós.

Barrichello um bom piloto, sem a prodigalidade de Ayrton Senna, Nelson Piquet, situado ali na média entre outros de sua época como Montoya, Coulthard, Webber, Button, Jacques Villeneuve, teria força mental, braço, conhecimento técnico para desbancar Schumacher no seio da escuderia vermelha? Local onde o respeito e a hierarquia do piloto alemão eram incontestáveis.

Contratado pela Ferrari em 1996, Michael levou consigo Ross Brawn, Rory Byrne, ambos da Benetton, estes se juntaram a Jean Todt, Domenicali, formando uma equipe excelente. Sessenta meses de trabalho duro, paciente, que frutificou na temporada 2000 com o campeonato mundial, evento intercorrido cinco vezes seguidas, coadjuvado por Rubens.

Números restritos a 2000-2005, embate na Ferrari entre Schumacher e Barrichello:
Vitórias – Shumi 49 / Rubens 09.
Poles – Shumi 43 / Rubens 11.
Pontos – Shumi 678 / Rubens 412.
Títulos – Shumi 05 / Rubens 00.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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