F1 – A prova decisiva, personagens e enredo

terça-feira, 9 de junho de 2020 às 12:58

Emerson em Monza 1972

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Quarta-feira, próximo à comuna de Rho, região da Lombardia, um caminhão após capotar, foi parar no acostamento, mas não, sem antes espalhar pelo asfalto varias peças, dois motores, rodas, pneus e uma Lotus 72D negra bastante danificada. Enquanto Steve Good motorista da carreta era socorrido, o carro de F1, qual vítima baqueada, permanecia na estrada, aguardando resgate, cuidados mecânicos.

Dúvidas, mistério, sobre a presença da equipe JPS-Lotus em Monza 1972, Colin Chapman, fundador da equipe, réu na corte italiana, acusado de homicídio culposo devido à morte do piloto Jochen Rindt, temia pelo arresto judicial dos veículos e equipamentos. Desta forma, o estafe inglês, optou comparecer com apenas um automóvel e Emerson Fittipaldi.

Enredo complicado, justo na prova, onde bastaria um quarto lugar para o brasileiro sagrar-se campeão mundial, antecedendo duas etapas, Canadá e Estados Unidos. Ainda na madrugada, algumas horas depois do acidente, técnicos, mecânicos, iniciaram missão quase impossível, recuperar o carro em menos de vinte e quatro horas.

Mister Chapman chegaria somente sábado, quando a justiça italiana não trabalha, outro caminhão, com o carro reserva, ficou posicionado na cidade suíça de Lugano, fronteira norte da Itália, distante oitenta km do autódromo.

Quinta-feira, Peter Warr, chefe da equipe, decide pela interrupção dos trabalhos, a Lotus não teria condições seguras para os treinos oficiais na manhã seguinte. Resta como última opção, acionar o caminhão parado na Suíça, sob-risco de apreensão caso tentasse passar pela fronteira.

Lotus Engineering Co. & Team Lotus produzia veículos esportivos, tendo um braço dedicado às competições automobilísticas. Seu iniciador Anthony Colin Bruce Chapman, projetista notável, engendrou soluções que perduram até os dias atuais na F1, como os radiadores colocados na lateral do carro ou a caixa de câmbio integrada no chassi.

Chassis monocoque, engenho construído por Colin nos anos sessenta, formato de estrutura única que instrui um centro de gravidade mais baixo em conversão ao chassi composto com tubos e solda, usado até então. Mais tarde, monopostos, cujo aerofólio e assoalho permitiram efeito solo, o conceito de asa aeronáutica invertida, carro asa.

Sexta-feira, quase ao nascer do sol, um caminhão cruza a fronteira Suiça-Itália, sem problemas com os fiscais e nas primeiras horas da manhã, descarrega preciosa carga no autódromo de Monza, o Lotus preto, filetes dourados, número seis.

Limitado pelas ocorrências, poucos ajustes são feitos antes do treino, Emerson consegue a sexta marca. Já no sábado, ao término das práticas classificatórias, os registros apontam Fittipaldi em quarto lugar, porém a equipe de cronometragem refaz os tempos e o devolve à sexta posição.

Monza lotada, três Ferraris inscritas, Icks, Regazzoni, Andretti, mas no Team Lotus a trama insólita daqueles dias parece sem fim, minutos da largada, os mecânicos lutam contra enorme vazamento de combustível. Outra vez, corrida ameaçada, ambiente tenso.

Colin chama seu jovem piloto: Conseguimos consertar, não ficou cem por cento, foi adicionada uma dose extra de gasolina, suficiente para os 317 km da prova, o carro está mais pesado. Quero, também, lhe dizer algo importante: Por tradição, sempre ganhamos campeonatos com vitória.

Começo de 1969, Inglaterra, após adquirir um Merlyn fórmula Ford, Emerson Fittipaldi trabalhava na Rua Broadway Court, bairro Wimbledon, oficina de Denis Rowland, que em troca das horas laboradas, oferecia apoio de boxe e manutenção mecânica nas corridas.

Tempos depois, Denis falava sobre Emerson: Um piloto muito rápido, contudo quebrava demais, quando aprendeu poupar equipamento, dirigir com inteligência, não parou mais de triunfar.

Hebert James Russell, dono de equipe, fundador da Jim Russell Racing Drive School, mais afamada escola para pilotos em toda Europa. Manager de Fittipaldi no título inglês de F3, com nove vitórias, não tinha dúvidas: Este rapaz, oriundo de um automobilismo desconhecido como o brasileiro, será, brevemente, campeão mundial.

Quatro de Outubro 1970, Nova York, circuito Watkins Glen, o hino do Brasil ecoa pela primeira vez na F1, Emerson após três corridas vence o GP dos Estados Unidos, adquire status de primeiro piloto da poderosa equipe Lotus. Chapman questionado sobre cargo tão importante nas mãos do inexperiente corredor, respondeu: Não tem problema, daqui dois anos irá tornar-se campeão mundial.

Derradeiros dias do verão europeu, 10 Setembro 1972. Meio um mar vermelho de torcedores, diminuto grupo, vestindo camisa amarela, agitava bandeiras brasileiras, paisagem inédita na gravura do circuito italiano. Os carros, qual ginastas num espetáculo de sincronismo, fazem zigue-zague pela reta buscando melhor temperatura dos pneus, até ocuparem seus postos no grid de largada.

Primeira fila, Jack Icks Ferrari e Chris Amon Matra, a seguir Jackie Stewart Tyrrell com chances matemáticas de título, depois Regazzoni Ferrari, Denis Hulme McLaren, mesma situação do escocês e Fittipaldi Lotus.

Emerson parte bem e deixa Hulme para trás, ultrapassa Amon, Stewart para duzentos metros da largada, embreagem estourada, as duas Ferraris lideram, o brasileiro em terceiro. Décima sétima volta Regazzoni, após acidente com Carlos Pace, desiste, Fittipaldi rapidamente encosta no comandante Icks e durante vinte e nove voltas fica ali, atazanando o corredor belga.

Ritmo fortíssimo, Jack belisca zebra, muda trajetória, força, vai ao limite extremo, faz melhor volta, mas o carro negro não desgruda, predador na eminência do golpe fatal. Pouco menos de sessenta km para bandeirada, a Ferrari entrega os pontos, fumegando encosta antes da reta principal. Emerson lidera, dez voltas para consagração, dirige cautelosamente, vence a corrida e o campeonato mundial.

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À noite em Milão na sede do Instituto Brasileiro do Café, durante coquetel, Fittipaldi confidenciava para convidados, que sua intenção ao desembarcar na Europa era fazer algumas corridas de F1, voltar para o Brasil e seguir carreira, jamais sonhara com vitórias.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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