F1 – A Mercedes vai sair da Formula 1 no final de 2020?

sábado, 1 de fevereiro de 2020 às 15:58
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Mercedes F1

Por Adauto Silva

A questão colocada no título dessa coluna é a pergunta de 1 milhão de dólares que quase ninguém sabe a resposta.

Eu sei?

Não, eu tenho cá minha opinião, mas por enquanto vamos tentar desenvolvê-la juntos.

Que tal tentamos descobrir analisando os prós e contras de maneira absolutamente racional?

“Racional”? Aí já comecei errado, uma vez que esporte envolve paixão de todos os lados. Ninguém se mete num esporte, seja como mero espectador ou como um player, se não gostar muito daquele esporte.

A diferença é que os fãs usam 70% de paixão e 30% de razão para acompanharem um esporte, enquanto os players, ou seja, aqueles que fazem um esporte profissional acontecer, são obrigados a inverter essa lógica para não perderem dinheiro, afinal o esporte é o negócio deles, mesmo que algumas vezes não seja o negócio central.

Vamos pegar, por exemplo, as montadores que estão na F1. Claro que a F1 não é o negócio central delas, mas é muito importante, afinal eles colocam bastante dinheiro nisso, além do prestígio da marca.

O dinheiro que eles colocam é “facilmente” devolvido, seja na forma de publicidade indireta, patrocínios diretos e prêmios da Liberty. Portanto, em termos financeiros, a F1 não dá prejuízo para nenhuma montadora no médio prazo. Considere que “médio prazo” para empresas situadas em países desenvolvidos é no mínimo 5 anos, até porque um projeto com prazo inferior a esse é altamente arriscado, ainda mais na Formula 1, que é provavelmente o esporte mais complexo do planeta.

E por ser complexo não é para qualquer um. A F1 exige técnicos exponencialmente capacitados que não existem “por aí”. Você tem de criá-los lá dentro. Quando uma montadora resolve entrar na F1 ela precisa “roubar” técnicos de outras equipes pagando mais e oferecendo algumas vantagens. Mas esse “roubo” não preenche nem de longe todo mundo que uma equipe precisa. A maioria do seu pessoal já precisa ter um tremendo background em suas áreas de trabalho para estarem aptos a “aprenderem” a Formula 1, uma vez que não existe coisa parecida no mundo.

Grande parte do pessoal de uma equipe de F1 vem de áreas como aeroespacial, aeronáutica, empresas de tecnologia de ponta e a maioria é engenheiro formado em faculdades reconhecidas no mundo. Por isso ganham tão bem, em média 3 vezes o que seus “equivalentes” ganham em outras áreas.

De qualquer maneira, se a equipe for razoavelmente bem sucedida, o retorno financeiro é certo no médio prazo. Então esse não é o problema central.

O que “pega” mesmo é o prestígio da marca e isso é praticamente impossível de medir financeiramente. É a percepção que o consumidor final tem em relação aquela marca.

Se a montadora estiver ali sempre disputando entre os primeiros colocados, beliscando uma vitória ali, outra acolá e por isso aparecendo de forma positiva e bastante na imprensa mundial todos os dias, está ótimo, o retorno é garantido tanto financeiramente quanto em relação a percepção da marca.

Se a montadora estiver sofrendo sempre em posições intermediárias – mesmo depois de anos na categoria -, ficar sempre longe de vitórias e até de pódios – caso atual da Renault -, isso é bastante ruim financeiramente, mas principalmente em relação a percepção da marca. Seu prestígio vai caindo, enquanto os torcedores e muitas vezes a imprensa ficam zombando da marca. Mas essa não é a hora de sair, pelo contrário. Se sair num momento desses sua reputação fica manchada e a recuperação entre os fãs / consumidores pode levar mais de uma década para ser recuperada, isso se for recuperada.

Portanto, trata-se de uma prática extremamente equivocada sair em momentos de baixa. O que a montadora deve fazer nesse momento é investir mais ainda na sua equipe para se recuperar, conseguir chegar naquele patamar no mínimo de disputar e conseguir algumas vitórias, tirar aquela impressão de fracasso da cabeça dos fãs e da imprensa. É o que a Honda fez quando saiu da McLaren e resolveu investir pesado na Red Bull.

E finalmente temos a situação de sucesso completo, que é quando a montadora consegue vitórias, títulos, propaganda positivas em profusão e aumenta seu prestígio de forma geral valorizando a marca. É o momento que ela está totalmente por cima.

E esse e o caso da Mercedes.

Com seis títulos de pilotos e construtores seguidos, inúmeros recordes batidos e prestígio no céu, o que fazer a seguir?

Racionalmente, financeiramente e seguindo as melhores práticas dos negócios, é a hora da Mercedes sair. Ela já conseguiu mais do que queria, talvez mais do que tenha imaginado e não tem mais o que provar.

Agora, ironicamente o sucesso é tanto que ele atrapalha, coloca a marca numa situação sui generis. Como ela não tem mais como “subir”, ela no mínimo tem que se manter no topo indefinidamente, caso contrário começa a perder o prestígio que conquistou a duras penas.

E se manter no topo da F1 indefinidamente é muito difícil, para não dizer impossível. E pior de tudo, não é bom para ela e nem para o esporte. Para ela não é bom porque grande parte dos espectadores começam a ter “bode” da marca, acham que ela está estragando o esporte, é poderosa demais, não dá oportunidade de outros resultados. Passa a ser vista como aquele patrão “opressor”.

E não é bom para a F1 porque os resultados ficam previsíveis demais, além de espantar outras montadoras, que ficam com medo de entrar na categoria e não conseguirem vencer, ainda mais começando do zero e tendo que correr atrás de uma super potência estabelecida há muito tempo.

Isso sem falar da enorme pressão que os políticos estão fazendo sobre as montadoras – sobretudo na Europa – contra motores de combustão interna movidos a combustível fóssil. Multas bilionárias estão sendo aplicadas – e a Mercedes tomou algumas – por conta de emissões de poluentes acima do permitido. É bom lembrar que a Alemanha, país sede da Mercedes, já proibiu que carros que emitam poluentes, especialmente carbono, sejam fabricados a partir de 2030. E as UPs da Formula 1, mesmo híbridas, emitem carbono.

Mas como estamos falando de esporte, existe o lado emocional e ele é forte. O DNA da Formula 1 passou a fazer parte da Mercedes. As pessoas, que já associavam a Mercedes a carros de luxo de extrema qualidade, a glamour e a status, agora passaram a associá-la a carros rápidos altamente tecnológicos com dinâmica de condução de ponta e motores realmente potentes e confiáveis.

A empresa finalmente ultrapassou as vendas de carros de sua divisão esportiva – a AMG – de sua concorrente histórica – a divisão M da BMW – pela primeira vez na história, que era algo impensável até cinco anos atrás.

Será que se ela sair da F1 a divisão M da BMW não a ultrapassa de novo? Será que a memória dos consumidores de carros esportivos – que são os de maior lucro da Companhia – já sofreu uma reviravolta completa?

E esportivamente falando, será que a Mercedes consegue manter seu sucesso – que se atrapalha por um lado, ajuda do outro, com o novo regulamento de 2021, que maximiza a aerodinâmica e minimiza quem gasta mais? Eu tenho sérias dúvidas e se tivesse que apostar hoje quem será o campeão de 2021, colocaria minhas fichas na Red Bull de Adrian Newey, que ainda por cima provavelmente terá Max Verstappen ao volante.

Há muito o que considerar…

Adauto Silva
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