F1 – A melhor e mais impressionante volta de classificação da história (vídeo)

domingo, 21 de março de 2021 às 20:12

Ayrton Senna

Por: Adauto Silva

Prepare-se para assistir algo único na história do automobilismo. Eu, pelo menos, nunca vi nada igual nem antes e nem depois.

Suzuka, Japão, 21 de outubro de 1989. Ayrton Senna e Alain Prost, ambos da dominante McLaren, chegam à pista japonesa disputando o campeonato mais que acirradamente, na verdade em guerra total.

A equipe está totalmente dividida. Há uma cortina dentro do box separando a turma de Senna da turma de Prost. Os dois se odeiam, suas próprias equipes dentro da equipe McLaren estão a ponto de se agredirem, tamanha rivalidade e tensão a que chegaram.

Um não olha para o outro, seus engenheiros e mecânicos não se falam, a troca de acertos de carro há muito tempo simplesmente não existe.

Não há mocinhos e bandidos nessa história. O que há são dois dos melhores pilotos de todos os tempos se digladiando para ver quem será o campeão mundial de 1989.

O Professor Alain Prost está muitos pontos à frente no campeonato. Senna precisa vencer para levar a disputa para a última corrida na Austrália 15 dias depois. Suzuka era – como ainda é – considerada uma das pistas mais técnicas do mundo, cuja tocada exige precisão absoluta para qualquer um dos dois conseguir a pole e / ou a vitória

Então começa a classificação. Senna sempre um pouco mais rápido que Prost até os minutos finais, quando o brasileiro se concentra num canto do box e entra no carro com um sangue nos olhos poucas vezes visto num esportista.

Ele sai com sua McLaren e a torcida japonesa o apoia maciçamente. Parece que ele está no Brasil, tamanha devoção dos japoneses por Senna.

Ele dá a sua vota de aquecimento e na saída da chicane já crava o pé embaixo muito cedo, mais cedo do que qualquer outro jamais fez.

Então ele vem de motor cheio na reta e entra na curva 1 á direita reduzindo marcha e mantendo os giros lá em cima bombando o acelerador como só ele sabia fazer reduzindo mais marchas para fazer a segunda perna da curva. Vem fazendo os “Esses” de Suzuka de forma alucinada dando a impressão – mas só impressão – que vai perder o carro em todas aquelas curvas, sempre bombando o acelerador e mantendo o motor basicamente em giro máximo.

Ele faz a longa a curva 7 à esquerda (a última dos “Esses”) numa velocidade espantosa jogando marchas pra cima (errou ali tchau…) e mete a última marcha na saída dela entrando numa pequena reta até a curva 8 à direita. Ele baixa só uma marcha pra fazer a oito e você simplesmente não acredita que o carro fará a curva. Mas faz – absolutamente nas mãos dele – e entra numa nova reta bem curta antes de reduzir duas vezes (mas você só escuta uma) para fazer a curva 9, aquela quase debaixo do viaduto, que vai leva-lo ao Grampo que é a curva 11.

Ele chega lá em penúltima marcha e reduz três vezes de forma absolutamente feroz. Ele quase perde o carro. Eu diria até que sabia que ia perder o carro e conserta a situação antecipadamente a ela se impor . É realmente impressionante a ferocidade com que ele pilota desde o começo da volta até esse ponto.

Então ele sai do Grampo e vai em direção a curva Spoon, uma curva de média / alta velocidade em duas pernas para a esquerda, que exige grande precisão, pois antecede a maior reta do circuito. Ele a aborda também de forma feroz, o motor pedindo arrego quase sempre em seu limite de giro máximo com Senna continuando a bombar o acelerador de forma completamente impiedosa.

Ele sai muito forte da Spoon, entra na reta jogando marcha pra cima e vai se aproximando da curva 130R á esquerda, a curva mais rápida de todas as pistas da F1, mas na época impossível de ser feita de pé cravado em última marcha. Na aproximação, Senna reduz para a penúltima marcha, mas mantém o pé cravado e o motor definitivamente parece que vai para o saco! Mas não vai, porque Senna sabe exatamente o que está fazendo. Veja que o motor nunca “estola” ou sai de giro na volta inteira, apesar de ser exigido de forma atroz 100% do tempo.

E aí, meu amigo, chegamos na freada da chicane. O que Senna faz nessa freada e contorno não está em livro algum, nenhum instrutor vai sequer sugerir que você tente fazer algo igual, simplesmente porque você, eu ou qualquer outro piloto não sabe fazer aquilo.

Senna freia quase dentro da chicane enquanto reduz várias marchas e freia num punta-tacco inimaginável de tão rápido e perde o carro! Sim, ele perde o carro e o recupera no meio da freada ainda a tempo de fazer a chicane sem perder um décimo sequer. É pra assistir 50 vezes e ficar boquiaberto em todas elas.

Agora, como ele conseguiu recuperar o carro no meio daquela tempestade de motor, freio e cambio com a tangencia certa chegando, não me pergunte. Eu não sei, os mecas dele nunca souberam e ninguém nunca soube. Essa ele levou com ele.

Ah! De quebra ele ficou com a pole 1.730s à frente do Professor.

Vale repetir o que eu disse lá no começo. Nunca vi nada igual antes e nem depois. Duvido que eu vá ver isso algum dia de novo. Não assim, não com essa ferocidade misturada com essa precisão espantosa.

Som na caixa e curta:

Adauto Silva
Leia e comente outras colunas do Adauto Silva

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.