F1 70 anos: A história de quem não fez história

quarta-feira, 12 de agosto de 2020 às 21:22

Taki Inoue

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

…Takachiho “Taki” Inoue, vindo de sua cidade natal Kobe, Japão, desembarcou no aeroporto internacional Norwich, voltando à Inglaterra um ano após concluir curso na Jim Russell Drive School, cujo atestado beneficiava participação em diversas categorias do automobilismo inglês.

Longa jornada, o voo ficara retido, numa conexão, durante horas. Atrasado, malversado no idioma, misturando inglês japonês, pediu um taxi para leva-lo até o circuito de Snertteton, onde deveria encontrar-se com David Sears, objetivando testes e presença na Fórmula Ford 1.600. O taxista deixou Takachiho, diante uma pista para corrida de cavalos em Norfolk, cidade vizinha…

Treze de Maio 1950, Giuseppe Farina dirigindo um Alfa Romeo venceu o GP inaugural da era moderna. Sete décadas que conheceram recordes, tragédias, consagração de pilotos, equipes e uma nobre casta, Alfa Romeo, Ferrari, Bugatti, Mercedes, Maserati. Cultivou a paixão do homem pela velocidade, por máquinas admiráveis.

Quem nunca desejou na garagem de casa, um esportivo com a estrela de três pontas, melhor ainda, acompanhada das letras AMG, talvez o cavalinho rompante estampado numa carroceria vermelha, onde se pode ler Ferrari.

Vizinho àqueles eternizados na memória e narrativas existe um número eloquente dos medianos, ou abaixo disso, tal qual, Takachiho Inoue, personagem de acidentes, cenas bizarras, duas vezes atropelado por veículos de serviço. Para muitos, pior piloto da história.

…Meio uma estação tipificada por abandonos, desastres, Taki dirigindo um Van Diemen F.Ford em Snertteton, empregava seu ritmo normal, distante da elite, dos pontos, quando capotou na curva Russell, destruindo o carro. David, manager da equipe, paciência esgotada, ameaçador, indiferente às dores do piloto, acusava Inoue, aos berros, pelo prejuízo.

O japonês, quase sempre calmo, desta vez, indignado retrucou: “Estou pagando por tudo”. Só fez aumentar à ira do chefe, temendo ser agredido, Taki esticou os braços, como a se proteger, não me bata deste lado, algo está quebrado no meu rosto, veja tem sangue. Mais tarde tornaram-se grandes amigos…

De volta ao país de origem Takachiho participou da F3 japonesa, época onde havia sessenta inscritos para trinta vagas, em raras oportunidades obteve qualificação. Segundo ano, através de aproximação com o empresário italiano Gian Paolo Dallara, conseguiu um chassi Dallara, passou, então a se classificar regularmente, porém nenhuma vitória ou pódio. Seguiu, assim, mais duas temporadas, zero ponto, zero vitória.

Uma coisa, desde logo, Inoue aprendeu, para chegar na F1 predicado maior que talento, é dinheiro, não importando quão rápido ou lento você dirija. Procurou, então, seu antigo patrão David Sears, dizendo: Quero correr na Fórmula 3.000 Internacional. A resposta óbvia: Tem dinheiro?

Com apoio da empresa Nova, rede de escolas espalhadas no continente asiático, nasceu à equipe Super Nova Racing, Taki terminou o campeonato F.3000, 1994, em vigésimo primeiro lugar. Mesmo ano, esteve presente na prova do Japão F1 pela Simtek, com apenas três voltas espatifou-se no muro. Temporada seguinte ocupou o posto de Christian Fittipaldi na Footwork Arrows F1.

…Treinos livres GP Mônaco 1995, Takachiho abre passagem na curva Mirabeau para Heinz Harald Frentzen e tira o pé, sabe-se lá por qual motivo, deixa o carro morrer no meio do circuito. Sessão interrompida, piloto permanece dentro do cockpit enquanto é rebocado pelas ruas do principado. Safety Car faz inspeção na pista, dirigido pela lenda francesa do Rally, o veterano Jean Ragnotti.

Em alta velocidade Ragnotti comete um erro imperdoável, acerta com tudo o F1, batida forte, peças, detritos espalhados pelo chão, a Arrows de ponta cabeça. Por sorte ninguém se feriu, mas Taki Inoue foi parar no centro médico, acometido por leve concussão…

…Dois meses depois, Hungaroring, volta treze, motor Hart fumaçando estoura, Taki desce rapidamente da Arrows, tira o extintor do fiscal hesitante, e vai combater aquele princípio de incêndio. Um carro de serviço chega ao local, não freia adequadamente, atropela o piloto que é jogado sobre o capô, em seguida cai rolando pelo chão, ainda segurando o extintor. Desta vez machucou a perna…

Takachiho “Taki” Inoue esteve presente em apenas dezoito corridas, entre as mais de mil da F1 administradas pela FIA, treze vezes abandonou por quebras, acidentes. Duas vezes foi Top 10, nono Canadá e oitavo Itália, fato que notadamente o exclui como pior piloto da história na F1.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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