Executivos, técnicos ou pilotos?

segunda-feira, 18 de agosto de 2014 às 19:26
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Lowe, Hamilton, Rosberg e Wolff

Por: Adauto Silva

A questão de ordens de equipe na Mercedes está um tanto nebulosa de algum tempo para cá.

A equipe iniciou a temporada de 2014 dizendo que iria deixar seus dois pilotos brigarem livremente na pista, o que mereceu aplausos da quase totalidade dos fãs e da maioria dos jornalistas que cobrem a F1.

Ninguém, ou quase ninguém, gosta de se lembrar dos tempos da “era Schumacher” na Ferrari, quando o alemão era o piloto número 1, 2 e muitas vezes até o número 3. Schumacher amealhou muito menos simpatia do que seus múltiplos títulos sugeriam justamente por causa disso.

Recentemente Fernando Alonso também tem sido alvo de muitos fãs devido às ordens de equipe que a Ferrari impôs a Felipe Massa de 2010 a 2013, sempre privilegiando o espanhol.

Atualmente ninguém sabe direito como a Ferrari agiria numa disputa entre Alonso e Raikkonen, já que ela ainda não aconteceu na pista. Teoricamente a Ferrari não imporia ordens, uma vez que – como divulgado aqui na semana passada – Alonso e Raikkonen tem o mesmo salário, fato que não acontecia na época em que Felipe Massa era companheiro de equipe do espanhol. Felipe ganhava bem menos que Alonso.

Schumacher e Alonso são dois dos melhores pilotos da história da categoria, mas infelizmente as ordens de equipe da Ferrari fizeram grandes estragos na reputação de ambos.

Na Mercedes temos algumas curiosidades. Apesar de ser uma equipe alemã e portanto todo o seu capital vir da Alemanha, a equipe tem inúmeros funcionários ingleses, o engenheiro chefe é italiano (Aldo Costa) e o presidente da equipe é austríaco, o tricampeão Niki Lauda, um notório esportista absolutamente contra ordens de equipe.

Lauda também é o grande responsável pela contratação do piloto inglês Lewis Hamilton, tirado da McLaren a peso de ouro e certamente com a promessa que teria sempre as mesmas condições de seu companheiro de equipe na Mercedes, não importa quem fosse.

A Mercedes começou muito bem a temporada com seus pilotos dominando completamente desde o início. No Bahrain pareceu que todos tivemos a prova definitiva de que a equipe não interferiria na disputa entre Hamilton e Rosberg, já que ambos protagonizaram uma luta sensacional com múltiplas ultrapassagens entre eles durante boa parte da corrida. Tudo o que a Mercedes disse no rádio naquele dia foi para terem cuidado para não tirarem um ao outro da corrida, o que é perfeitamente legítimo e compreensível.

Mas as corridas foram passando e o carro começou a ter problemas de confiabilidade, principalmente nos freios e especialmente no carro de Hamilton.

Depois de quatro problemas no carro do inglês (quebra na largada em Melbourne, quebra na corrida do Canadá a nas classificações da Alemanha e Hungria, sem contar o problema de freios na classificação da Áustria) parte da torcida e até mesmo da imprensa começou a desconfiar de tantas quebras, principalmente porque Rosberg só teve uma pane como as de Hamilton, em Silverstone.

Então chegamos na Hungria. Como todos sabem, o carro do inglês pegou fogo logo no início da classificação, antes mesmo de Hamilton conseguir completar uma única volta. Isto fez com que ele tivesse que largar em último no domingo. Mas Hamilton se recuperou. Com a ajuda do safety-car ele tirou grande diferença dos líderes, e com sua já conhecida agressividade e habilidade, realizou várias ultrapassagens até ficar à frente de Rosberg, que havia largado na pole.

Foi então que a Mercedes deu a primeira ordem de equipe do ano e mandou que ele abrisse passagem para Rosberg. Hamilton disse que não ia abrir e não abriu mesmo. Lógico, ele seria muito estúpido se abrisse para seu único adversário pelo título mundial. Com isso ele chegou na frente de Rosberg, diminuiu a diferença que os separa na tabela e de quebra ganhou mais fãs ainda do que já tinha, tornando-se inclusive o piloto predileto dos fãs brasileiros.

Mas e a Mercedes? E aquela história de que não usaria ordens de equipe? Logo após a corrida, Niki Lauda, que não participa das decisões do dia a dia da equipe, deu razão total a Hamilton e disse que faria exatamente o mesmo se estivesse no lugar do inglês. Mas Toto Wolff e Paddy Lowe, que dividem a função de chefe de equipe da Mercedes, vem dando declarações conflitantes desde então.

Num primeiro momento disseram entender a “desobediência” do inglês. Depois Paddy Lowe disse que “no calor do momento é difícil acertar sempre”. Toto Wolff disse que a Mercedes não interferiria mais, mas depois disse também que não vai aceitar “caprichos dos pilotos”, ou seja, tudo meio confuso e contraditório.

A F1 tem que entender que as estrelas do espetáculo são os pilotos. Ninguém quer saber do que técnicos ou executivos uniformizados dentro do box decidem. O que importa é o que os pilotos pensam e fazem, suas próprias decisões e suas habilidades para guiar os carros mais rápidos do mundo.

Técnicos e executivos excelentes têm aos montes por aí.

Gente capaz de levar um F1 ao limite por voltas e mais voltas só tem uns 20 ou 30 no mundo.

E tenho dito!

Adauto Silva

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