EXCLUSIVO: Dude e a obra-prima de Lewis Hamilton, o “homem”

quarta-feira, 17 de novembro de 2021 às 21:34

Lewis Hamilton – Brasil 2021

Por: Adauto Silva

O que Lewis Hamilton fez neste final de semana na pista de Interlagos foi inédito, pelo menos para mim, que fui ou assisti todos os GPs do Brasil no Circuito José Carlos Pace, com exceção de três ou quatro. Fui inclusive em 1972 na corrida inaugural que não valia para o campeonato.

Não fui em 1979 porque eu morava nos Estados Unidos e nos dois ou três restantes porque eu estava viajando fora do Brasil. Mas as vezes que não fui em Interlagos estando no Brasil, assisti pela TV.

Não vi nada igual em Interlagos nesses 49 anos. Começou na sexta-feira com o TL1 e depois uma classificação dominante sempre sendo o mais rápido da pista em todas as sessões sem dar nenhuma chance aos adversários. Guiou com a faca nos dentes todas as vezes que foi à pista, testou várias linhas de corrida, fez as retas muitas vezes nos treinos sem usar o DRS e testou linhas e freadas para as duas curvas mais importantes da pista – o S do Senna e a Junção – de todas as maneiras. Ele viu muito rapidamente que não podia entrar “vendido” nessas duas curvas-chaves do circuito, pois perdia na reta seguinte.

Viu também que nessas curvas ele não podia frear como gosta, lá dentro, porque também perdia nas duas retas fazendo isso. Arrumou uma maneira de ajudar a não superaquecer os pneus ao fazer o Pinheirinho por fora de uma maneira que nunca vi ninguém fazer.

Mas foi desclassificado. 2 milímetros de um lado de seu DRS estavam além do permitido, enquanto o outro lado estava certo. Seu DRS estava “torto”, o que definitivamente não o ajudou em nada, mas quebrava o regulamento.

A Mercedes sabia da desclassificação na própria sexta-feira à noite, apesar de só ter sido anunciada no sábado. O suspense faz parte do marketing da F1. Quase tudo é decidido muito antes de ser divulgado, mas eu tenho a sorte de ter um amigo dentro da equipe Mercedes, o Dude, que me contou o seguinte:

“Adawtow, sabíamos que o homem seria desclassificado no começo da noite de sexta-feira. Claro que foi um erro de montagem do DRS, um erro legítimo de 2 milímetros que não ajudou, mas sim atrapalhou o homem, pois a asa quando abria ficava torta em 2 milímetros.”

“A FIA sabe disso, os adversários sabem disso, mas o regulamento é claro, apesar de estar mal escrito. Foi aventada a possibilidade de recorrermos e corrermos no sábado largando da pole sob protesto. Todos nós queríamos fazer isso, mas duas pessoas não; Lobo e o próprio homem.”

“O homem interrompeu a discussão perguntando: ‘Eu posso usar potência máxima na corrida curta o tempo todo?’”

“Então Shovlin disse: ‘Pode, mas os pneus traseiros não vão aguentar isso, você já está com menos downforce na traseira’ Então o Bono sugeriu que se não fossemos correr sob protesto, isso seria a nossa melhor chance.’”

“Daí o homem, olhando para o Lobo, disse que isso era o que devíamos fazer, ele garantiria que os pneus aguentariam guiando redondo principalmente da 5 (Laranjinha) a 12 (junção). Então o Lobo perguntou a nós todos: ‘Porque não’”?

“Naquele momento eu diria que o homem decidiu que daria 24 voltas de classificação na corrida curta de sábado. Mas para domingo, o Lobo ligou para a fábrica e pediu novas simulações para a UP considerando essa estratégia. Menos de 1 hora depois chegaram as simulações e começamos a estudar as três mais arriscadas e as três menos.”

Então, no sábado, a torcida em Interlagos e os milhões de espectadores pela TV testemunharam as 24 voltas alucinantes de classificação sem um único erro de Hamilton, que fez impressionantes 15 ultrapassagens e ainda tinha pneu para mais meia dúzia de voltas.

“Ele chegou extasiado depois da corrida (curta), disse que não se lembrava de ter se sentido assim antes. Mesmo assim estava calmo, focado, disse que aprendeu todos os caminhos da pista, era como se fosse Silverstone, uma pista na qual ele andou umas 50 vezes mais que Interlagos. E aquela atmosfera o ajudou também, ele mesmo disse isso.”

Mas no dia seguinte teríamos a corrida, então a obra não estava acabada, mas Lewis Hamilton queria mais.

“Sinceramente não achávamos que ele venceria a corrida. Um pódio sim, mas não a vitória. Mas acho que ninguém disse isso a ele, porque ele entrou para vencer. Nós só acreditamos mesmo quando ele estava em P2 se aproximando de Verstappen. Achamos que Max estava salvando os pneus para quando isso acontecesse, mas a verdade é que não estava. O homem se aproximava a cada volta e então a quase certeza da vitória tomou conta do box. O clima mudou lá dentro, a arquibancada urrava cada vez que ele passava na nossa frente e começamos a cerrar os punhos, assim como ele certamente estava dentro do carro.”

“Aquela manobra na volta 48 de Max não nos assustou, o homem sabia que aquilo ia acontecer, tanto que desviou muito fácil do Max. Depois ele sabia que precisava levar Max ao erro para passar antes da freada da curva 1 (S do Senna) ou da 4 (curva do Lago). Então ele ameaçou na 1, Max foi para dentro e aí acabou, sabíamos que ele passaria na reta oposta a seguir.”

“Não perguntei para ninguém, nem para ele, mas para mim foi a melhor atuação que vi um piloto fazer desde que estou trabalhando na Fórmula 1 há quase 20 anos.”

“Não sei o que vai acontecer a seguir, mas esse final de semana foi a obra-prima de Lewis Hamilton. Não sei se nem quando veremos isso novamente.”

Adauto Silva
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