Exclusivo – Ana Beatriz Figueiredo: Por Flávio de Matos Peres

domingo, 19 de dezembro de 2010 às 23:22

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Bia vence em Florianópolis

Grandes desafios sempre me interessaram, ainda mais quando significam vencer injustiças, e, principalmente, preconceitos. A primeira vez que o assunto Ana Beatriz Figueiredo me interessou foi quando escutei, no Autoracing, um programa “Loucos por Automobilismo”, com a participação dela, muito simpática, contando, dentre outras coisas, que no início de sua carreira no Kart havia até mesmo sido jogada para fora, por concorrentes que não admitiam ser derrotados por uma menina. Não sou feminista e nem levanto tal bandeira. Entretanto, a Constituição Federal de meu país diz, em seu artigo 3º, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. E isso mexe profundamente comigo.

Um tempo depois, um amigo Kartista dizia que as duas maiores promessas de nosso Kart eram justamente ela e o Jimenes, o que me deixou muito contente. O Autoracing, quando ela estava na Fórmula Renault, passou – então – a disponibilizar uma coluna da moça, e, lá, também constava um e-mail do próprio site, para contato. Lógico, somente para assuntos estritamente ligados a esporte a motor (não pensem bobagem, gente, eu nunca pensei em paquerar a moça…). Então, depois das corridas, e colunas, eu passei a arriscar alguns palpites e pedir esclarecimentos sobre algumas questões do mundo das corridas. Para minha imensa surpresa, conquanto de maneira estritamente profissional, a moça se mostrou atenciosa e ser ex-tre-ma-men-te bem-educada! Além de responder minhas dúvidas, nem mesmo brincou com as minhas sugestões (uma delas, pasmem, era comer mirtilo antes das corridas, haja vista que os pilotos de aviões de combate na Segunda Guerra Mundial o faziam, meia hora antes dos confrontos, para aumentar o foco visual)… Uma lady!

Depois do Kart, onde ela foi muito bem, realmente foi duro ver as dificuldades que encontrou. Mas bacana ver que há patrocinadores que acreditam em seu talento e em sua capacidade de superar obstáculos. E que ela, ainda que correndo somente algumas provas, foi capaz de chegar à F Indy e integrar o circuito. Mas ainda faltava algo, uma exibição de gala, que confirmasse o seu talento e seu merecimento. Algo ainda mais impactante do que ser a primeira mulher a vencer na FRenaul e na Indy Lights. E ela veio em forma de conto de fadas, no “Desafio das Estrelas”, classificado pelo Galvão Bueno, como um dos eventos mais competitivos, a se levar em conta a constelação reúnida e advinda das principais categorias do mundo do automobilismo.

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Bia comemora com a galera!

A segunda bateria do evento hoje de manhã, transmitida em canal aberto para todo o Brasil, mostrou, como sempre, uma prova extremamente competitiva, que valoriza o braço, o talento dos participantes. E ela, largando em 11º, colocou a faca entre os dentes, “saiu viva da mistura de tintas com Pizzônia e Di Grassi”, mostrou garra para renascer na prova, técnica para fazer ultrapassagens belíssimas, e coragem para se superar e “passar além do Bojador”: “jamais imaginei que conseguiria ultrapassar um piloto tão bom como o Rubinho numa corrida”. Imagina, Bia, o alemão escapou por que ficou cuidando das crianças… Foi uma grande corrida, que, com certeza, vai abrir os caminhos para ela e outras flores tão talentosas quanto. Sou obrigado a discordar do magnífico promotor do evento, Felipe Massa, que chegou a declarar sobre trazer outras mulheres para a prova: “o problema é que não existe uma piloto tão boa quanto ela”. Existem sim! A atual vice-campeã de Kart, Biland, uma brasileira, Jennifer Costa é um diamante bruto que precisa de atenção e ajuda, para – também – dar a luz necessária a seu talento (além da Danica Patrick que corre em uma categoria de respeito já há algum tempo).

Acho que a Ana Beatriz vai continuar a não seguir meus lúdicos palpites (penso que ela deveria fazer GP2 e depois tentar a Fórmula 1), porém, à ela, às outras e aos outros que amam o esporte ou mesmo tem grandes sonhos, lembro o que disse o gênio Johann Wolfgang von Goethe: “Começa tudo o que possa fazer, ou que sonha poder fazer. A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.”

Flávio de Matos Peres, especial para o Autoracing

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