Era um garoto que como eu amava os…

sábado, 21 de fevereiro de 2015 às 13:15

Ayrton Senna

Colaboração: Kiko

O ano é 1978… mas a história começa dois anos antes.

Em 1976 eu e meu amigo Ricardo, o Kady decidimos vender nossas bicicletas, as famosas Caloi 10, mesmo sendo nossas “asas” quando, quase todo domingo saiamos da Vila Olímpia até o Autódromo de Interlagos para ver as corridas das divisões 1, 3, 4, etc e tal.

O incentivo para a venda das Caloi e compra de um kart nasceu do encantamento destas tardes de domingo assistindo os pegas entre Pedro Victor Delamare, Ciro Cayres, Artur Bragantini, Antonio Carlos Avallone, entre outros tantos, e até o nosso querido Edgard, que também estava lá…..!

Compramos o kart, um “banheirinha” como era chamado por ter dois tanques de fibra, um de cada lado do assento e motor Riomar conhecido por V12, dois carburadores em V, seis palhetas em cada pirâmide do torque, por isso V12.

Os primeiros “treino livres” deste bólido aconteceu, acreditem, nas madrugadas, em ruas e avenidas da Cidade Universitária… barulho infernal, o escapamento era uma latinha, praticamente direto no cabeçote.

Uma das “sessões” acabou com a perseguição e bloqueio por um Tático Móvel, laranja e preto… “sumam já daqui com essa cadeira elétrica e não voltem mais….ou vai todo mundo para a delegacia”. Carregamos a coisa no porta malas, metade para fora, do Corcel 1 da minha mãe e encerramos a noite tomando vinho quente na Praça Panamericana.

Bem, para o Kartódromo de Interlagos nós não iríamos com aquela banheira então, vendendo a coleção do Deep Purple, Black Sabath , Pink Floyd, o Atari e outros poucos recursos mais, trocamos lá na Pro Kart, uma oficina próxima do kartódromo a dita cuja banheira por um modelo Maxi Mini, motor V4, 1973.

Agora sim, vamos andar em Interlagos, estamos em 1978.

“Kady, carrega o kart, agora no rack de capota do Opalão, também usado para carregar as pranchas de surf, compra gasolina azul, óleo Valvoline 2T e não esquece o capacete! Macacão e Luva…???? quem tem para emprestar???? Sapatilha…???? que é isso????”

Pista alugada para treinos, aos sábados e domingos, fizemos algumas boas amizades dividindo boxes, peças, velas, velas, velas…. e pneus.

Uma das grandes amizades, o Walter, chefe de oficina da Cancoro, concessionária VW, era profundo conhecedor de mecânica e motores, acertos de chassi, dava dicas de pilotagem e adorava participar da festa, pilotar mesmo era seu segundo plano.

O Walter sempre falava para nós: esse garoto aí do boxe ao lado ainda vai fazer carreira neste esporte, foi campeão sul americano, é campeão brasileiro e deve ficar bicampeão este ano…. o garoto tem braço….. guardem o nome deste garoto…. Ayrton Silva.

No final dos dias de treino, a turma fazia uma corridinha extra oficial, o Walter era nomeado diretor de prova. Não tinha classificação de largada, o kart que estivesse pronto ia para o grid.

Enquanto trocávamos a coroa, esticávamos a corrente, ajustávamos o cabo do freio, colocávamos gasolina, o garoto punha o kart dele lá no último lugar do grid e ficava aguardando os outros competidores.

Largada lançada, as vezes três voltas ou mais para alinhar todos os karts; na primeira ou máximo segunda volta o garoto já estava lá na frente, de cara para o vento….

Nos boxes o garoto estava sempre quieto, calado e compenetrado.

O que para nós, quase todo final de semana era uma paixão misturada com hobby levado a sério, para o garoto era disputa de título mundial…..sempre!

Vi algumas vezes o “tempo fechar” no boxe do garoto com outros competidores, pois com ele era passar ou passar ou passar… tó tós , apoios e empurrões eram inevitáveis e aí o bicho pegava quando acabava a brincadeira, ou quando acabava a gasolina… algumas vezes a batalha não tinha limite de voltas para terminar!

Em 1980 paramos com o kart, voltaríamos mais tarde.

Passados alguns poucos anos o garoto ficou famoso e passou a ser conhecido como Ayrton Senna… do Brasil!

“Keep Fighting Michael”

Kiko
Santa Bárbara d´Oeste

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