El Chueco o manco

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023 às 14:25
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Juan Manuel Fangio – Mercedes 1955

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Há quem diga ser impossível comparar pilotos de épocas diferentes na F1. Pessoalmente entendo, e aqui posso estar errado, legítimo escolher um piloto como soberano de todos os tempos. Basta aplicar critérios lógicos, estatística, os feitos narrados e comprovados, doses de subjetividade e muita pesquisa.

O método mais simples: Quem venceu mais corridas tem o maior número de títulos e poles é o melhor da história, no caso Lewis Hamilton, justo numa avaliação entendível quase inconteste.

Grand Prix de San Remo 1949… Insatisfeito com o rendimento do carro apesar do segundo melhor tempo no grid de largada, Fangio El Chueco (o manco), apelido ganho nas peladas de futebol, iniciou uma checagem minuciosa do motor e descobriu que o virabrequim estava arranhado.

Duas horas de polimento usando uma lixa como aprendera em Balcarce ainda criança, ato continuo o correto balanceamento da peça e troca do rolamento. No dia seguinte venceu a corrida.

Jack Brabham, Nelson Piquet e Fangio, épocas distintas e uma característica comum: Conhecimento professoral, técnico, mecânico de um carro de corrida, atributo que os ajudou na conquista de inúmeros triunfos.

Fascinante como pilotos dotados de rara magia bem cedo nas primeiras provas de F1, mesmo sem a devida experiência, deixam todos boquiabertos e uma certeza: Está nascendo um futuro campeão.

A maioria de vocês deve lembrar de 2007 na estreia de Lewis Hamilton na categoria, a primeira vitória no GP do Canadá e os velhinhos como eu se emocionaram com o novato Ayrton Senna embaixo de chuva dirigindo o modesto Toleman-Hart em Mônaco.

!949… Primeira vez de Fangio na Europa, um ano antes da FIA radicar o campeonato mundial e os mesmos carros que abririam a temporada oficial da F1 no ano posterior. Correndo pela equipe independente de Achile Varzi com patrocínio do Automóvel Clube da Argentina o piloto patagão conquistou 06 vitórias, números que não constam dos dados estatísticos da FIA.

Sebastian Vettel e Alain Prost tetracampeões de incontestável virtude. O francês também é quatro vezes vice-campeão mundial, isto significa que dos seus 12 torneios na F1 em 08 deles foi campeão ou vice. Separados por 03 décadas e números muito parecidos Prost supera Vettel como um nome mais robusto no universo da F1.

Talento, competência transcende as estatísticas e quem sabe não foi Ayrton Senna o definitivo sinônimo de velocidade dos últimos 40 anos. Concentração, valentia, o controle surreal do carro lhe permitiu atingir níveis jamais imaginados, beirando o descontrole.

A dominante competência dos heptacampeões Schumacher e Hamilton em arrebatar títulos e recordes guarda similitude com o período hegemônico do argentino na F1. Os dados percentuais entre número de vitórias e GPs disputados projetam eficiência superior para Fangio de 47,6% contra 31,2% de Hamilton e 29,6% de Schumacher. Pole position: Fangio 56,86%, Hamilton 31,80%, Schumacher 22,15%.

Para que bem se possa avaliar a excelência da pilotagem do El Chueco basta olhar 1954, ano que marcou o retorno da Mercedes, o argentino foi contratado pelos alemães junto com Karl Kling e Hermann Lang. Todavia as flechas de prata não ficaram prontas e a estreia acabou protelada para julho.

Fangio corre as duas primeiras de Maserati e vence ambas, Argentina e Bélgica. Terceira etapa, França, mais um triunfo agora na Mercedes. Das 08 corridas do calendário Fangio venceu 06 (02 com Maserati- 04 de Mercedes) e 05 poles, nenhum outro piloto da Maserati, nem mesmo seus companheiros de Mercedes ganharam alguma coisa. Inglaterra e Espanha sobraram para Ferrari.

Inauguração de Brasília 1960… Grande comemoração, celebridades, políticos, imprensa do mundo inteiro. Entre os eventos programados uma prova automobilística pelas ruas da nova capital ainda em obras.

A corrida misturava carros de Turismo e Esporte GT, o piloto brasileiro Jean Louis Lacerda Soares, cujo apelido era Lagartixa, iria participar dirigindo uma Ferrari Testarossa. Durante um jantar de gala na noite anterior a prova, Jean Louis conheceu Fangio que estava em Brasília para entregar o Troféu ao vencedor.

Após conversa amigável, Jean Louis pediu um conselho: Qual seria a melhor estratégia na corrida amanhã? Fangio respondeu: Se quiser vencer faça exatamente o que vou lhe dizer, adote um ritmo mais lento, permita ser ultrapassado sem oferecer resistência, depois de 10/12 voltas com essas retas longas ninguém mais terá freios. Na época os freios eram a tambor.

O brasileiro seguiu rigorosamente as instruções do pentacampeão, notou que depois do primeiro terço, mesmo sem aumentar muito o ritmo ganhava posições com muita facilidade. Venceu a corrida.

Frase de Juan Manuel Fangio: “Meu maior triunfo não foi ganhar cinco títulos mundiais, mas sim ter permanecido vivo”.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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