E as coisas começaram mal…

terça-feira, 11 de janeiro de 2011 às 18:02

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E as coisas começaram mal…

Depois de tanta expectativa por uma temporada daquelas inesquecíveis, o negócio começou mal tanto na F1 quanto na Indy.

Vamos começar falando da F1. Alonso fazendo dupla com Felipe Massa na Ferrari, Schumacher voltando à F1 pela Mercedes, o campeão Button indo para a McLaren desafiando a si próprio, classificação de tanque baixo, um grid com 25 carros e o fim do reabastecimento.

Parecia tudo pronto e montado para uma corrida espetacular no deserto do Bahrain. Nos treinos livres a dúvida quanto a quem era mais rápido nas variadas condições de peso e pneu persistiu. Cada piloto e equipe falavam uma coisa e ninguém se comprometia com nada. Eu estava achando ótimo; quanto mais surpresas melhor!

Seguindo o script eu diria que tivemos uma excelente sexta-feira. Começamos bem e o sábado de classificação oficial parecia promissor. Nenhuma grande surpresa no Q1 e Q2. As equipes novas saíram no Q1 e as pequenas “antigas” no Q2. Tudo de acordo com o script. Até a equipe Hispania, que de forma inédita, colocou um carro pela primeira vez na pista sem sequer um shakedown. E o carro agüentou. Realmente impressionante.

Mas então a maionese começou a desandar no Q3. As Ferraris pareciam que iriam dominar com facilidade, mas então surgiu Vettel para estragar a festa vermelha. Até aí sem problema, afinal o script dizia que qualquer uma das quatro grandes, Ferrari, McLaren, Mercedes e Red Bull poderiam fazer a pole. O problema foi a partir do quarto colocado, Lewis Hamilton, que ficou a longínquos 1.1 segs de Vettel. Mais de 1 segundo de diferença do primeiro para o quarto? Simplesmente assustador…

No paddock, vários burburinhos começaram a se formar. Dezenas de microfones foram colocados nas bocas dos chefes de equipe da McLaren e da Mercedes, que não tinham muito a dizer, a não ser o velho chavão de que precisam melhorar, etc, etc, etc. E os pilotos dessas equipes, apesar do velho discurso de que ‘estavam satisfeitos, era só o começo’ e bla bla bla, também estavam todos com cara de bunda.

Mas como a esperança é a última que morre, a expectativa de uma corrida disputada com a formação de dois pelotões na frente, o primeiro formado por Vettel, Alonso e Massa e o segundo por Hamilton, Rosberg, Schumacher, Button e Webber, resistia. Tínhamos ainda o Sutil em décimo, que também poderia aprontar alguma, já que seria o único entre os top 10 a largar de pneus duros.

Apesar de tudo o domingo poderia continuar o script original, com sábado tendo sido apenas um desvio rápido.

E vamos para a corrida com um monte de expectativas. Vettel conseguirá manter a ponta? Felipe partirá pra cima dele? Alonso em terceiro partirá para a forra depois de tomar 4 décimos de Felipe na classificação? E no segundo pelotão, Schumacher e Button envergonhados por terem apanhado de seus companheiros na classificação? Webber com um carro muito mais rápido vai passar todos do pelotão e encostar rapidamente nas Ferraris? Sutil vai aproveitar seus pneus mais duros para ficar 10 voltas a mais na pista e ganhar muitas posições? Eram muitas as emoções que pareciam guardadas…

Aceso o sinal verde, a corrida acabou na primeira curva. Felipe Massa bobeou legal, deu um espaço que nunca poderia ter dado a Alonso na segunda perna da primeira curva e foi ultrapassado. Lá atrás um pouco de confusão na freada do pelotão, uma rodada ou outra, mas depois nada, zero, niente!

O inacreditável aconteceu. Cada pelotão formou uma fila indiana e assim foram durante todo o primeiro stint. Ninguém conseguia ameaçar ninguém, ninguém conseguia por do lado, disputar uma freada, nada. Todos com medo de estragar os pneus? E o Sutil e o resto da turma com pneus duros? Nada. Hamilton era claramente mais rápido que Rosberg, mas não conseguia sequer chegar perto dele na pista. Então veio a parada para a troca de pneus obrigatória. Apenas 16 ou 17 voltas haviam se passado e todo mundo de pneu macio foi trocar. Hamilton ganhou a posição de Rosberg na parada. E foi só.

No segundo stint alguma coisa podia acontecer, afinal faltavam 2/3 da corrida ainda e alguém podia estar economizando pneus para o final, assim como acontecia na década de 70, quando Emerson e Stewart pareciam ter carros novos no terço final das corridas enquanto o resto se arrastava na pista sem aderência nenhuma nos pneus. Lauda e Prost também deram esse exemplo no início da década de 80. Senna conseguia abrir do pelotão nas primeiras voltas sem estragar seus pneus. Mansell era rápido em qualquer situação, assim como Gilles Villeneuve. Pensei: “Aí tem coisa, alguém vai aprontar alguma; talvez Schumacher com toda sua experiência; Hamilton, com toda sua velocidade; Alonso, com sua inteligência e frieza; Felipe, com sua ousadia e bravo pela besteira na primeira curva; ou talvez nada disso aconteça, talvez alguém saia acelerando como um louco para abrir do resto, fazer ultrapassagens para compensar mais uma parada para outra troca.

Mas não. Voltaram à pista e mantiveram-se em fila indiana novamente. Não acontecia nada. Então o carro de Vettel começou a dar pau. Uma vela falhando tirava potência do motor e o pobre alemão, que naquelas alturas estava com a vitória garantida, perdeu rapidamente sua posição para Alonso, Massa e logo depois Hamilton.

E foi isso. Muito pouco em relação à expectativa gerada. Agora estão todos apavorados. Querem mudar alguma coisa. Fazer duas paradas obrigatórias, só fornecer pneus macios, acabar com a bandeira azul e etc. São muitas idéias, mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que é possível fazer agora. Alguns colocaram a culpa na pista. Eu não acho que a pista tenha sido o problema. Será melhor em Melbourne? Pode ser que sim, mas pode ser que não. Na verdade talvez a pista seja até pior para ultrapassar.

O que talvez pudesse ser feito, numa emergência como essa, é termos uma terceira opção de pneus. Um pneu extra-macio que realmente seja mais rápido e dure menos. Isso provocaria as equipes a pensarem em estratégias diferentes e os pilotos em tocadas diferentes. E acabar também com a obrigatoriedade de largar com os mesmos pneus que se classificaram. Isso tudo daria mais opções às equipes e movimentaria as corridas. Pensar em coisas como mudar os carros ou as pistas ainda este ano é absurdo, não vai acontecer.

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Agora vamos falar um pouco da Indy. Mas só um pouco porque como paulistano me senti envergonhado. A categoria abriu a temporada em São Paulo, nas ruas de São Paulo que eu conheço muito bem. São aquelas ruas que detonam a suspensão, arrebentam rodas e chacoalham você dentro do carro como pipoca. As ruas de São Paulo são como aquelas pistas de testes que as montadoras usam para medir o grau de resistência das suspensões de seus carros. Deprimente.

‘Lógico’, imaginei. ‘Já que decidiram fazer corrida nas ruas daqui, vão recapear a parte que será pista e deixá-la como um tapete aderente. Ninguém é louco de meter carros que vão chegar a 300 km/h em ruas esburacadas e onduladas.’ Mas pelo jeito o louco sou eu. Quando comecei a assistir os treinos livres achei que aquilo tratava-se de alguma palhaçada de show pirotécnico antes do evento principal. Não podia ser real os pilotos não conseguirem sequer acelerar nas retas sem perder o carro! Ou será que tinham jogado sabão na pista para dar alguma emoção extra? Mexi na TV para ver se a imagem não estava captando o sabão na pista, mas não consegui melhorar nada. Então liguei para um amigo que se encontrava trabalhando na sala de imprensa e perguntei o que era aquilo. Ele disse “Não sei”. Perguntei: ‘E agora?’ Ele respondeu: “F….!”

‘Bizarro’, não tenho uma palavra melhor para definir o planejamento de um evento desta magnitude. Tudo bem que se mexeram rápido para melhorar a pista, passaram a noite trabalhando, a aderência melhorou um pouco. Mas isso era o mínimo que poderiam fazer. O evento, esportivamente falando, foi um desastre. Impossível haver uma “corrida” num lugar daqueles. Mal começou a chover e interromperam a prova com medo de uma tragédia. Em boa parte da pista os pilotos não podiam realmente acelerar devido a ondulações absurdas. Coisa de retardado.

Fiquei pasmo ao saber que a FIA aprovou a “pista”. Sei não, mas acho que aprovaram de sacanagem… só pode ser!

Um abraço e até a próxima!
Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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